quarta-feira, 27 de novembro de 2019

PRÓLOGO Á MINHA PRÓPRIA TRADUÇÃO AO PORTUGUÊS, VINTE ANOS DEPOIS, Manuel Castelin:


PRÓLOGO Á MINHA PRÓPRIA TRADUÇÃO AO PORTUGUÊS, VINTE ANOS DEPOIS, Manuel Castelin:

27- A INSPIRAÇÃO

Após uma dura adaptação a Mapiá, que uma grande parte dos visitantes que chegaram comigo não foi capaz de resistir -viver ali supunha participar continuamente em um esgotador trabalho de derrube e trozeamento de árvores e outras mil operações dirigidas por homens muito rudos-, consegui ser mais ou menos aceitado pelo setor do Povo de Juramidám que mais se relacionava comigo. Aqueles ásperos gigantes que extraíam tudo da selva, desconfiavam, e com freqüência menosprezavam, aos doutorzinhos da cidade que chegavam ali carregados de bens de consumo e ideias organizativas e que, por causa de seu nível cultural exteriormente mais alto (chamavam cultura à programação do Sistema), pretendiam fazer-se os amos, ainda que sua eficácia no trabalho solidário não chegava nem a um quarto da talha da de um pioneiro amazônico.
Eu fiz muito bons amigos, especialmente entre os autênticos homens de selva, que eram os que mais naturalmente tinham entrado na mística do Daime, já que suas mentes eram primitivas, porém, puras e corajosas, enquanto o pessoal das urbes tendia a misturar tudo com suas paranoias cidadãs, entre as quais, a mais marcante, era o instinto de competição individualista... isto é, trepar por acima de todos os demais. 
Não eram poucas as pessoas sensíveis que acabavam por receber algum hino dos seus guias astrais no trance do Daime, hino que normalmente indicava à cada um aquilo que mais tinha que trabalhar, assinalando ao mesmo tempo seus melhores caminhos, ainda que todos eles eram muito simples e pareciam-se bastante (em uma primeira audição), tanto na letra como na música, e o verdadeiramente diferente era o ritmo da vibração que continha cada um, ou seja, o deva e suas inspirações. Um hino pode arrancar de teu interior um torrente de imagens-lições e, um momento mais tarde, as mesmas estrofas talvez desencadeiem toda uma cachoeira mental de sentidas intuições, com um caráter completamente diferente daquele que predominou nas anteriores.

É curioso que, ainda que os daimistas anglosaxões já têm recebido do Astral hinos em inglês, os de fala castelhana os recebem, até agora, em português, que, por certo, é outro filho do latim mais musical, suave, maleável e fluinte que o espanhol; tanto assim, que na Idade Média, quando na corte de León já todo mundo empregava o récio e viril castelhano como língua oficial, a poesia lírica e amorosa dos trovadores, continuou fazendo-se, durante mais um século, em galaico-português, que se considerava ideal para ser declamado ou cantado. Alguns daimistas hispanos temos feito a experiência de traduzir hinos ao castelhano para cantar com nossos amigos, facilitando-lhes seu entendimento, mas, indefetivelmente, eles mesmos acabam por nos pedir que os cantemos juntos em português, ao que a qualquer espanhol se adapta rapidamente, encontrando gosto e graça em entoar nessa língua irmã, tão doce e feminina. 
Eu não recebi nenhum hino, senão um poema. O transcrevo aqui em portugués, ainda que ele estava no galaico-portunhol sintético com o que eu pensava no Brasil, tal como me chegou, com todo seu sabor original, ainda que nem aos acadêmicos galegos nem aos portugueses parecería-lhes corretamente escrito. Porém, é fácil comprender o pouco que eu importava-me das academias no meio do universo natural da Amazônia, praticamente sentido como outro tempo ou dimensão, outro espaço sideral, o invés do planeta, o outro lado do espelho... Este poema, em fim, dá uma boa ideia da exaltação emocional com que eu vivia o ambiênte místico-mágico de Mapiá. 
TRADUÇÃO MUITO LIVRE: 

EU NÃO QUERO TER VONTADE 
Eu nao quero liberdade, minha vontade é de Deus,
Já não tenho mais vontade, fora dos desejos Seus.
Os desejos dá Rainha são os sonhos de meu ser,
toda a liberdade minha se ennobrece em A server.

Eu nao quero liberdade, eu não quero mais escolhas,
todo meu prazer agora é deixar a Ela fazer.

Conduzido pela Virgem, eu nao sinto mais fraqueza;
Ela me tornou completo, Ela virou-me firmeza. .

Dando-me a beber ou Daime, disolveu miñas correntes;
Os anjos fizeram festa junto as selvagens nascentes.

Com meu fação na destra, ante os caboclos do Astral,
nomeou-me defensor do seu Reino dá Floresta.

Seu abraço vegetal acendeu meu olho interno,
para explicar-me o passado, minha busca, meu inferno.

Cada um dois meus amores foi reflexo dá Senhora,
espelho, ilusão, chamada, saudade dá Deusa Amada.

Ela é a mais pura emoção, Ela é todas as damas,
a Voz do meu coração, minha Eterna Enamorada.

Ela é Meu Ser Real, o mistério do Uni-Verso,
sem mais veus, sem mais saudade, o Cosmos feito Unidade.

Miña Mãe, Irmá, Ideal, minha encontrada metade,
todas as belezas juntas, A mais Alta Majestade. 
Sol, Lua, Estrela, Galáxia, minha lámpada interior,
o fogo que me consome, a Origem Pura do Amor.

Mapiá, Set. 1989 

É muito difícil dizer se este poema foi ou não um presente de forças alheias e superiores do Astral ou de minha própria inspiração subconsciênte; eu estou convencido de que as palavras "próprio" ou "alheio", "superior" ou "inferior", só servem para nos entender superficialmente no mundo da ilusão dual da Dimensão Física e do Astral Inferior, porém, daí para acima, isto é, da consciência velada à consciência clara, a separatividade individual não mais existe, e tudo é naturalmente Um e a mesma coisa. 
A mim não me parecia que aquela maneira de receber visões, hinos e revelações, que a gente mais sensível tinha durante o trance de Daime, fosse muito diferente da percepção estética intuitiva e do entendimento imediato, ainda que não lógico, do sentido essencial das imagens subconsciêntes que os artistas estamos acostumados a ver aflorar do nosso interior com o nome de inspirações criativas; Um verdadeiro artista é sempre um canal bem afinado -No Brasil diría-se um "medium"- entre seu consciênte masculino externo e seu arquétipo subsconsciênte da Musa, isto é, seu feminino interno inspirador (só é uma qüestão de ajuste de termos se o artista é uma mulher). 
Mais genial será o artista quanto melhor ligado com seu Gênio Interno e mais sintetizado com sua Musa; mais original, quanto mais identificado sinta-se com sua Origem (e quanto mais fluidamente ele incorpore, ou manifeste, ou expresse, seus arquétipos especificamente innatos ou originários, seus "Orixás", o qual marca o estilo pessoal profundo de cada mestre. Assim era como o Padrinho manifestava a São Sebastião-Oxossi-São João Batista). Um "Artista Divino" é um Mestre que se autorealizou, fazendo-se um com o mais autêntico e real de si mesmo através da Via da Arte. 
Ligar com o Gênio Interno tem, como tudo, vários níveis; em cada um deles, O Gênio se mostra baixo um aspecto ou disfarce, ou personagem diferente: 
No primeiro nível, físico, mostra-se como o desafio que se lhe propõe ao artista, ao construtor de si mesmo, ao guerreiro, ao mago… de criar com suas mãos uma nova harmonia do tipo que seja, sobre o plano em que vive em um corpo, vivificando-a e corporizando-a; dotando-a, ao mesmo tempo, de um espírito original, a partir de uns quantos elementos materiais, quanto mais escuros e humildes melhor, para tratar de comprazer a Seu Ser com uma nova obra excelsa saída de suas mãos. Um bom desafioo tem de ser um desafio genial. 
No segundo, emocional, o artista enfrenta-se à obra em processo de maneira muito íntima, estabelecendo-se uma clara dualidade obra-executante na que o sentimento impera; é a parte da confecção da obra na que há uma busca, uma ânsia, uma dúvida, e um impulso penetrante que tem muito de sensual. A energia flui, diretamente, desde o centro do sexo, sutilmente excitado e concentrado, até o centro da frente, atrás da qual se acha o Centro Piloto que coordena, e que dirige a mão, a qual segue com ritmo as compulsões do sentimento... Uma obra genial contém uma profunda busca e uma enorme tensão emocional. 
No terceiro, inteletual, porém, intelectual sutil, o Gênio manifesta-se quando, no meio do maior problema técnico e psíquico, justo no momento em que o pintor não é capaz de ver ainda uma solução harmónica para o conjunto do quadro e tudo parece deslavazado... surge uma faísca adentro, um trovão lampejante de entendimento que ilumina o caos, e o executante "mira" o quadro. Esse é o momento em que se manifesta A Musa Amada. Todos os revoltos e enfrentados sentimentos da busca anterior ordenam-se então, sob um só ponto de vista harmónico e cheio de significação. Ela, o seu complemento interno, a Metade Oculta do que você é, inspira o entendimento do conjunto.
Isto é o afloramento súbito da análise intuitiva que tinha ido se processando por dentro, enquanto o autor enfrentava-se dualmente à obra, querendo-a analizar desde fora. Uma obra genial resolve todos seus enfrentadíssimos contrastes de uma, com um simples traço intuitivo. 
Do quarto a o... digamos sétimo, ainda que é só um dizer, o Gênio se manifesta em seus níveis mais complexos e sutís, quase poderiamos chama-los espirituais, se o Espírito não o fosse tudo... Neste ponto, a obra só demanda acabamento, mas nesse acabamento, e em saber deter-se no ponto justo em que o Mistério se revela sem se desvelar, é onde se vê o nível de maestría do artista.
Chegando ao sexto nível, o artista já não é mais um artista somente, senão uma mistura de artista, místico, filósofo e cientista... um alquimista, um transmutador. Uma obra genial é matéria densa transmutada em Espírito vivo. 
O Gênio-Gênio aparece, por fim, como o nível de tua consciência no que já podes contemplar as consciências parciais de todos e cada um de teus anteriores níveis, com uma consciência global, de conjunto, que as unifica a todas e na qual, cada nível é só uma função das muitas que compõem o mecanismo sutil de funcionamento da Mente Cósmica. 
Uma obra genial é total, universal e cósmica; expressão de Deus actuando desde a mente e os sentidos humanos. E uma riscosa aventura humana, que qualifica toda uma encarnação, que converte ao artífice todo na sua obra e à sua vida na essência da obra. …Porque a maior obra de Arte é a própria transformação do operário num criador imortal, divino… não ante a galería, senão ante o Espírito; e as obras externas só são o espelho-pretexto para sua transformação interna.

O mito grego de Prometeu ilustra muito bem o arquétipo do Artista Divino, que se põe em risco absoluto, realizando a tentativa de levar luz aos homens através de sua obra, ainda que tenha que roubar o Fogo Vital do Céu. Deus é a Criatividade Mesma e nós somos seus filhos jogando o Seu Jogo: Este mundo não é senão uma escola de artistas cósmicos, onde treinamos o manejo da mais limitada das energias (a matéria), a fim de conseguir o domínio de nosso poder innato de Logos criadores e sustentadores de mundos, que é nosso destino de Espíritos Multidimensionais Adultos… de Humanos realizados totalmente. 
Nessa altura da Pirámide do Conhecimento, já não existe diferença alguma entre os que acessam à iluminação por uma ou outra cara, uma ou outra via. Quando chegou-se ao topo, as escadas, os metódos que se usaram para subir, abandonam-se, e o peregrino ascende ao cume por seu próprio pé. 
…No entanto, outras pessoas diziam-me que meu poema não tinha nada a ver; que os hinos se recebiam como um "insight", completos, totais, acabados, em português brasileiro e com sua música, sem possibilidades de correção ou aperfeiçoamento posterior; e nunca de maneira nebulosa, a pedaços que vão-se completando depois, como costuma se manifestar o fenômeno de inspiração artística. 
Talvez penso que seguramente aquelas pessoas tinham razão, mas então a mim isso não me acabava de convencer. As melhores obras de inspiração artística eram puros insights, que fluiam na treinada mestría expresiva de seu criador. Os pintores contemporâneos apreciavam mais um primeiro esboço em estado puro que um trabalho aperfeiçoado a base de relamimentos e correções, o que costuma lastrar de matéria pesada sua espontaneidade; Mozart escrevia de seguido a música que ouvia em sua mente, dizem. 
A maior aspiração da Arte atual reside em ver ao homem expressando-se espontánea e criativamente, não desde o que foi aceitando do variado discurso do mundo, nem das fantasías da sua imaginação, senão o que descobriu como VERDADE INDUVIDÁVEL desde seu Eu Autêntico e Profundo, além das fórmulas estereotipadas que lhe foram impostas em sua aprendizagem social, e que se perpetuam pelo uso da linguagem, a lógica... e pelo medo a não ser aceite, se o artista sair dos postulados artísticos ou cientistas tidos como mais progressistas pela valaorização os “entendidos” ou daqueles que, simplesmente, conseguiram pôr-se de moda, ainda que não os compreendam nem seus criadores. 
Jamais ví que o Daime tirasse do interior de uma pessoa algo que não tivesse estado ali antes. Nenhum espírito que eu tenha visto se incorporar sobre um medium mostrava um nível cultural ou de inteligência superior ao habitual neste, conquanto parecia agudizar e fazer mais fluída a manifestação de suas próprias potências internas, como quando, por efeito de uma droga ou do álcool, o indivíduo consegue se expressar direto desde seu inconsciênte, sem as limitações e inhibições da racionalidade e sem bloqueios ou timidezes emocionais (O qual era o objetivo principal dos artistas Surrealistas europeus de princípios do século XX). 
Fenômenos como começar a falar ou a escrever em línguas estranhas ou a respeito de situações históricas ou dados culturais que não têm nada a ver com a formação de um, só podem-se explicar pelo contato telepático ou ressonância na Essência com as egrégoras do Subconsciênte Coletivo da Humanidade que todos portamos holograficamente em nossas profundidades, lá onde a individualidade se dilui (O Registro Akáshico tão mentado pelos esotéricos)..ou como a egrégora ou a memória genética racial ou familiar... ou como relembranças de vidas passadas... Ainda que, então, eu estva bastante convencido, de que não é minha efêmera personalidade a que recordava ante-vidas, senão minha Identidade Coletiva Regente: O Ser Humanidade em mim, que viviu todas as vidas da Humanidade e guarda memória. 
Faz muitos anos, fumei por primeira vez um cigarro de maconha, um vaciado, nas Ilhas Canárias espanholas. Encontrava-me desenhando quando começou o alcaloide a fazer efeito em mim. De repente, ví claramente projetado sobre o papel o desenho que acabava de esboçar minha intuição criativa na mente. Estava tão claro como se fosse uma diapositiva, um “slide”, desde minha frente projetada; tanto, que não tive mais que pasar -lhe a mina caneta por cima e calcar-lho como se calca um desenho com papel transparente ou papel carvão.
Excitado pelo espanto, passei toda a tarde desenhando daquela maneira, mas o fenômeno já não repetiu- se jamais de uma maneira tão consciente, por muito que fumei maconha, pois suponho que já estava incorporado e automatizado. Deixei de fumar para limpar minhas percepções, e um tempo despues repeti, mas não tornei a captar a projeção, ainda que sim a fluidez que dava estar criando tão espontaneamente como se eu calcasse. Mais tarde decatei-me de que o que se ganhava em fluencia, perdia-se em exatidão e perfeição, que parecem atitudes mas próprias do hemisfério esquerdo lógico e medidor, que do direito intuitivo e lúdico. 
Aquilo me fez pensar muito sobre o processo de criatividade artística e isso que chamam revelações ou visões. Continei achando, durante anos, que não estavam muito claras as fronteiras entre ambas. Hoje penso que minha personalidade física, emocional o mental não pode criar nada, só repeter o que aprendeu e conhece. Quem pode criar é a Mónada, o espírito individual, se bem conetado com a Fonte de toda criação. 
Quanto a desenhos, estou acostumado a deixar que os conteúdos de meu subconsciênte tomem forma no papel, de uma maneira quase automática, com mina caneta ou marcador, e só quando já se pode adivinhar uma forma, a acabo definindo melhor com poucos trazos. É uma técnica que eu aprendi dos Surrealistas, mas que também emprega o Espiritismo na preparação de mediums, treinando-lhes assim na Psicografía, ou escritura automática. 
Desenhando deste jeito, começei em Mapiá a receber inspirações. E eram todas como cartas de um Tarot... O Daime atuava como estimulante de minha inspiração e um torrente de insights de imagens simbólicas ia a minha mente e produzia fáceis e rápidos desenhos sobre minhas teias, os quais me assombravam por sua segurança de execução e profundidade de conteúdo metafórico-mítico. Era uma fluidez muito superior à que tinha tido em meu grande mês de criatividade na florida finca "Shavastia", em Goiania. 
28- O TAROMIDÁM
Nos momentos que me deixava livres o duro trabalho de Mapiá, fiz um primeiro baralho de cartas para todo o Povo de Juramidám e o entreguei ao guerreiro que tinha sido meu introdu
tor e meu primeiro amigo em Mapiá, desde antes, inclusive, de ter chegado à Comunidade. Era um chileno capaz de fazer funcionar um motor com arames e astilhas, continuamente dividido entre sua fascinação por todo o ambiente do Daime e sua ânsia de sair de ali de uma vez, e viver de novo sua liberdade individual sem tanto fiscalzinho nem tanto empecilho regulamentar.
Confessou-me estar convencido de que eu estava louco e pode que não lhe faltasse razão... ainda que também é possível que estivesse olhando-se em minha teimosadefesa da minha egoica dignidade individual como em um espelho, no qual contemplava seu próprio conflito interno. Também eu me projetava nele e descobria cuan fortemente rebelde a suportar bridas de qualquer tipo era nossa alma hispana de potros bravíos.


Já desde o primeiro momento percebi que nem o nome das cartas, nem sua numeração, correspondiam-se com as do Taró Clássico, mas não quis modificar nada, porque aquilo que me tinha chegado eram insights intensamente sentidos e fluidamente recebidos. 
Já que era diferente, denominei TAROMIDÁM a meus 24 Arcanos Maiores em honra a Midám, o Logos Filho, o Mestre Interno em linguagem local. O segundo baralho melhorado de cartas foi feito especial para o Padrinho Sebastião, utilizando suas próprias palavras e imagens habituais. 
O Padrinho encantou-se com o Taromidám e esteve nesse dia muito alegre e confidencial comigo. Então, eu ousei pedir-lhe que se considerasse meu trabalho de desenhista como contribuição útil à estensão da Messagem Essencial da Comunidade e não, como julgavam alguns, um jogo de cidade ocioso e improdutivo.

Assim, roguei-lhe que me desse um litro de Daime -Eu tinha direito a ele, acrescentei, já que tinha participado no feitío- e um pouco de tempo livre, para confeiçoar um Taromidám que levar pelo mundo, no que trataria de sintetizar a essência do aprendido em Mapiá, somado aos ensinos de quem seguia considerando meu maior Mestre, Carlos Pacini, cujo abraço acedera a receber o Padrinho por meu intermédio. Por então eu ainda não percebia que, quando se chega ao nível de Mestre, todos eles são O Mesmo... e ficava comparando as cascas que envolviam-lhes. 
O Padrinho ordenou gentilmente que me dessem a garrafa e me eximissem de alguns trabalhos; o que despertou mais invejas e concorrências entre o círculo dos espirítus adormecidos com os que, por causa de minhas próprias limitações, afins às suas, tinha-me tocado conviver. 
Também foi mecenas desta obra Dom Manuel, o velho carpintero, colega do Padrinho desde a juventude de ambos, em cuja casa estava eu alojado; abençoado seja seu espírito onde for que hoje esteja. Ele brindou-me toda sua colaboração, aprecio e amizade para que eu fizesse o mais comodamente possível meu trabalho, e foi desse modo que pude retornar a meu amado oficio, meu caminho-coração, desenhando concentradamente de dia e de noite, à luz de uma fumeante lámpada de petróleo, sem deixar de dedicar muitas horas aos trabalhos comunitários, participar nos hinários ou arrimar o ombro no dia inteiro, quando tinha feitío ou colheita de feijão. 

29- ASCENSÃO DA FORÇA

Sempre que podia, tomava ritualmente meu copo de Daime de amanhecida, e perto de uma hora mais tarde, quando começava a sentir a suba daquela poderosa Força desde o plexo solar à cabeça, agarrava meu fação e uma pasta com minhas cartas de tela, imprimadas com pintura latex branca, e partia pela trilha que se adentrava na floresta. 
Ao chegar aos limites dos espaços devastados com a mata virgen, pedia respeitosamente permissão à Rainha da Floresta para entrar em seus domínios a fazer meu trabalho, e depois continuava com confiança. A energia ia subindo até que o guardião do umbral, mina controladora personalidade externa, cedia o comando de meu corpo e de minha mente à incorporação de meus próprios arquetipos originais subconsciêntes. 
A primeira vez que eu tivera uma entrevista com um Guia do Astral, o caboclo Pirinám do Pará, incorporado na medium Dona Teresa de Icoarací, lá em Belem no 86, ele me disse: 
- “Vejo a teu redor poderosos guias que te protegem, especialmente uma entidade feminina resplandeciênte. Pela vibração parecem-se a Yemanjá e a Oxossi, mas não são eles... são entidades de outro país, não os conheço”.- 
Naquele momento eu não dava o menor crédito ao espiritismo, ainda que fascinava-me, como podem fascinar a um viajante os contos e lendas dos novos países que vai conhecendo. Parecia-me uma exótica comédia de expertos feiticeiros que logravam manter feliz e contente ao bom povão brasileiro a base de pura sugestão. Infiltrei-me pouco a pouco entre eles com a secreta intenção de desvelar as imposturas, acendendo, entretanto, como amável ajudante, muitas velas nas cerimônias sagradas...  
Porém, o que finalmente descobri, maravillado, é que a Magia, por trás de sua ropagem folklórica, era a forma mais eficaz de psicologia profunda e a terapêutica mais liberadora que nos tinha legado a sabiduria do passado através das pessoas simples e puras do povo humilde e escravo, a quem lhes tocara o papel de transmissores. Uma ferramenta única de ordenação do laberinto da mente, a base de símbolos reconhecíveis e usáveis, para ajudar ao homem entrar em contato rápido, irracional, útil e prático com suas potências divinais. 
Agora, graças ao Daime, minha razão discriminadora, o cão-cerbero inflexível da mente ocidental, acouraçado de materialismo pseudo-científico, retirava-se a descansar de sua borrachera de Ayahuasca, e no portão desguarnecido que faz de fronteira entre o consciênte e o subconsciênte começavam a aflorar, entre as néboas do sonho, os meus Guias Ancestrais, talvez os deuses arcaicos ou inventados de minha Galiza nativa: A luminosa Gal, envolvendo de prata as barbadas carbalheiras em noites de plenilúnio; o iniciador Lug, guardião do Caminho das Estrelas que mas tarde chamaria- se de Santiago; o solar Aurens, incendiando o oceano de reflexos dourados, frente ao Cabo do Fim do Mundo, baixo cujos alcantilados despediam o dia com seus cánticos as loiras sereias da Costa da Morte... e muitas outras entidades de nomes confundidos ou esquecidos, mas que personificavam, cada uma delas, um pedaço de minha eterna memória essencial, um resumo energético de cada experiência de manifestação. 
... Até então só caminhara pela segura trilha feita pelo homem, atento a não me perder no imenso labirinto da selva e com muita prevenção contra as feras; mas, de repente, sentia que uma entidade primitiva, rude, um selvagem que nem quase falar sabia, incorporava-se em mim. Aquele Marte subconsciênte, talvez uma lembrança genética do homem prehistórico que em uma remotíssima encarnação tinha veiculado a mina Mónada -ou quiçá a personificação do arquétipo elementar que ainda hoje rege meu tálamo, meu cérebro reptil automático-, tomava conta de mim com um rugido e então eu sentia uma cachoeira de extraordinária força me penetrando, e meu punho fechava-se apertando duro o cabo do fação, que se tornava imediatamente um raio cortante, desafiador da fúria da fera mas ousada. Aí, eu sabia, sem a menor dúvida, que nenhuma serpente nem onça teriam ânimo para me enfrentar, e então abandonava a segurança da trilha, substituída pela confiança total no instinto da entidade acoplada À minha aura que comandava minha vontade, e deixava-me perder entre a maranha da selva. 

30- TRABALHO NA FLORESTA

Durante dez minutos ou meia hora, deslizava-me silencioso e ágil como um animal entre cipós e matas exuberantes, sem precisar sequer me abrir caminho à fação. Introduzia-me na catedral vegetal onde os troncos projetavam até o céu suas nervaduras em colosais abóvadas de cruzeiría que mal deixavam filtrar raios de luz na penumbra... até que por fim encontrava, com absoluta evidência, meu lugar, o lugar de poder, que cada vez era diferente. E eu sabia internamente que ese, e não outro, era meu lugar; e que ele era tão seguro como se uma muralha invisível e circular me protegesse. 
Naquele momento deixava o fação a um lado e sentava-me no solo, pernas e braços cruzados, vegetalmente relaxado, fundido e enraizado no seio cálido e úmido da Terra, prendido ao tempo do Céu, muito além do azul imaginável, por um fio de poder que antenava minha fronte... e já por fim acomodado, a penumbra parecia se iluminar por fluídos de luz que me chegavam das árvores, como se tivessem estado esperando-me até então. 
Nesse instante, meu selvagem regressava ao Astral e outro de “meus eus” incorporava-me: o monge adolescente. Com o maior fervor, calma e devoção, absolutamente centrado no terceiro olho e sentindo-me tão leve e vazio como se minha matéria estivesse se desintegrando em uma pura dança remoinhante de electrons, focado todo eu em meu Verbo, sentindo o fogo que gerava-se em cada palavra, oferecia uma viva oração à Virgen Mãe Terra, cujos braços vestidos de follagem sedosa envolviam-me, rogando à Rainha da Floresta se dignasse enviar-me material para meu trabalho. E Ela enviava-o. 
Vinham então sobre mim mirações tão intensas e luminosas que sentía-me quase levitar no ar, sentado como estava, leve, oco e traspassado pelo Poder, sem deixar de musitar as entranháveis orações aprendidas de criança, como uma landainha interminável que me ligava intensamente com a Origem de todas as energias. Minhas orações tinham-se tornado meu respirar, e meu centro respiratório já não estava mais nos pulmões, senão na base do nariz, ativando a pituitária e a pineal: Todo meu ser individual fusionava-se agora com meu Ser Cósmico em uma inspiração-expiração que, quanto mais profunda, lenta, sentida e desfrutada minha oração, mais clara e sensível a miração fazia-se. 
Sentia-me rodeado de luz, envolvido em luz, penetrado de luz e todo eu era uma fogueira cálida de luz; deleitado por uma parte no prazer de ser tomado até meu último átomo pelo amor da Vida, e suportando, por outra, uma elevação tão intensa e acelerada de minha energia, que parecía-me que poderia explodir em qualquer momento. Luminosas geometrías coloridas dançavam dentro de minha mente ao ritmo de minhas orações, girando e girando e convertendo-se em formas reconhecíveis, até conformar uma carta completa do Taromidám que ficava gravada em meu cérebro. Às vezes mais outra, e até três cartas... que depois permaneciam se repetindo ante minha visão astral, enquanto eu agradecia uma e outra vez, com as mãos abertas e os olhos fechados, sentindo a todos os elementares da selva dançar alegremente, compenetrados com todos meus elementares internos, ao redor do fio luminoso e ondulado de meu agradecimento incesante, que me ligava ao Céu, ao mesmo tempo em que A Terra latejava baixo meu corpo como a pele morna, turgente e suorosa de uma amante; respirava em curtos e profundos intervalos pelo nariz o fogo rosa-violeta do ar, mas sabendo que era o ar quem, na verdade, respirava-me. 
Via-me desde dentro e desde fora, penetrado por tudo e penetrando-o tudo, minha cabeça aberta como um cálice, gozando até o não-limite do amor com O Mistério, que me inundava de muitíssimo mais Conhecimento que o que podia assimilar, desbordando-me orgasmicamente, atravesando-me. Na miração, a bela Musa Amada, feita pura flama luminosa pressa em minhas entranhas, abraçava meu cérebro nu contra seu peito e também o coração e o cerebro, e o coração de cada uma de minhas células, consumindo sua matéria e transmutando-a... e toda a Criação falava-me intimamente ao cérebro e ao coração, e tudo quanto me falava era eu mesmo. 
Ao cabo, tomava consciência de que a messagem já estava perfeitamente gravada na sua totalidade e que ela não faria mais que se repeter; e então eu lançava fluidamente meu primeiro esboço sobre as telas como quem pare, deixando para mais tarde o acabamento. 
Levantava-me após, e despedia-me agradecido dos espíritos sábios das árvores e da terra que tinham-me acolhido e envolvido em sua amorosa rede de influências energéticas... uma das vezes decateime que meu guia subconsciênte tinha-me levado a escolher um lugar de poder justo ao pé de um super-grosso cipó de Jagube, escasíssimos já nos arredores de Mapiá, até o máximo rastrejados... e eu tinha estado, sem saber, sentado o tempo todo e apoiado de costas em seu alto e entortado talho, de musgos e líquens barbado, tal como um idoso duende do bosque. Quando o descobri ao me levantar, ainda em trance, vibrava transmitindo toda a sabedoria da selva por médio de luminosas ondas espirais de cores, que ascendiam e desciam desde suas raízes em terra até as altas copas ao céu livre assomadas e viciversa, impregnando de dourada claridade todo o ambiênte em torno com sua aura, como se ele fosse a antena de um emissor telefônico telúrico-cósmico.

Uma vez levantado, voltava a se incorporar em mim o selvagem, que fazia-me deslizar sem ruído nem vacilação pelos intrincados vericuetos do labirinto vegetal, até re-encontrar a trilha humana, guiando-me com absoluta segurança. 
Retornando alegremente à aldeia, percebi em várias ocasiões que me desdobrava, não já num arquétipo, senão em dois ou três: Uma vez senti ao selvagem guerreiro a minha direita, sujeitando o fação com firmeza, enquanto a minha esquerda, caminhando etérea como se flutuasse, ia a Vénus das Cachoeiras, bela e delicada como um anjo, portando ao braço minha pasta carregada de pequeñas telas, instrumentos de desenho e ideias aquarianas. Amazona Aquária, a estrela-guia de meus caminhos de peregrino. No médio, eu sentía-me ao mesmo tempo dividido neles e como incorporando uma terceira personagem: um adolescente messageiro levando suas cartas de amor à Vida para quem quisesse recebé-las, escoltado por um anjo de ferro e outro de luz. 
Por fim chegava ao limite do bosque e ali despedia-me da Rainha da Floresta cheio de agradecimento, retornando à minha personalidade externa. 
Voltado de meus trabalhos na selva a Mapiá e à casa do cavaleiroso Dom Manuel, sentava-me à sua mesa e passava uma hora dando acabamento aos desenhos recebidos, enquanto o efeito do Daime ia baixando. Nunca como então abençoei o alto dom que supunha ter nascido com vocação de pintor, de des-velador do Mistério invisível na forma, e de ter desenvolvido aquela habilidade mágica, apesar de encontrar-me em um lugar onde não era talvez especialmente apreciada... Dom Manuel dizia-me que poderia chegar a sé-lo, se aprendia a talhar objetos e móveis de culto nas madeiras preciosas da selva, já que a arte de utilidade litúrgica é o único luxo bem mirado em uma sociedade que ainda se encontra na sua fase épica. 
Havia no Templo e na Casa da Estrela dois fastuosos cruceiros de dois braços, talhados nas madeiras mais nobres, por um artista genial de cujo nome não guardei; quando os olhava durante os trabalhos, belamente ornados com círculos e estrelas, lembravamam-me as arcaicas cruzes ceremoniais que os celtas esculpiram em pedra irlandesa e bretõa para resumir nesse símbolo o equilíbrio cósmico. 
Ante isso, eu refletia sobre como a sofisticada e decadente sociedade da que eu vinha, tinha ido transformando aquele primeiro conceito da Arte, que surge numa comunidade austera e natural como uma cara oferenda à Divinidade dentro e fora do homem, e como uma ferramenta ritual, simbólica e útil de identificação com o Inasível, como talismã de elevação emocional e ordenação mental do coletivo através da sugestão da forma... em algo que alguns críticos de Arte Contemporânea definem como "Aquilo que não serve absolutamente para nada"... salvo para epatar, ou seja provocar descaradamente um instante de leve escândalo à sobérba encastilhada na rotineira ignorância do conhecido…e para especular no mercado de picaretices e ilusões culturais com preços infladíssimos, manipulando estratégias de marketing; assim como para expressar a vaciedade das almas alienadas da maioria dos cidadões do sistema, entre elas as desses mesmos críticos. 
...O resto da manhã passava-o fazendo “coisas sérias": isto é, lavando cacharros e roupa no rio, ou cozinhando para Dom Manuel e para mim o único que podía se comer naquele pedaço da Amazônia: "farofa", um refogado de farinha de mandioca, mais feijão, acompanhado de espetos de pescado à brasa, se houve sorte na pescaría, ou arroz, macarrão e um pouco de tomate, cebola ou delícias exóticas semelhantes, se por fortuna algum visitante as tivesse trazido do Mundo Exterior, já que qualquer hortaliza terna que se tentava plantar lá, era picada rapidamente e transportada em pedazinhos ao cupinzeiro. Transformar nosso espaço de selva em um jardim, como diziam os hinos, se referindo à transmutação de nossas energias brutas em sutís, não era tarefa fácil, precisava-se enorme paciência e constância. 
Havia, isso sim, fruta suficiênte, variada e com sabor de paraíso; só busca-la e colhé-la; e algumas vacas Brahma, tipo cebú, que davam leite para as crianças... as galinhas não duravam muito em Mapiá: de repente precipitava-se sobre alguma delas uma águia do alto bosque e levava-a à vista de todos. Os animais domésticos, naquele médio, tinham que re-despertar seus instintos selvagens para sobreviver. Que eu saiba, não se caçavam os bichos da selva, por proibição expressa do Padrinho, salvo nos primeiros tempos do assentamento dos daimistas em Mapiá, nos quais não havia outra coisa para comer.

A humildade de nossa alimentação compensava-se amplamente com a generosidade com que todo quanto se conseguia se repartia entre os irmãos: Um visitante podia ir comer a qualquer casa, seguro de que quando entrasse, todos fariam um novo plato, restando partes à ração que lhes tocava, o qual não era uma nobreza exclusiva dos Filhos de Juramidám, senão típica de todo o bom Povo Brasileiro.

Pela tarde eu perguntava o que havia para se fazer e colaborava nos trabalhos da Comunidade, que faziam -se com perfeição, mas sem ânsia nem pressa, para que fosse um prazer trabalhar, e sempre cantando com pura alegria. 
Ao dourado entardecer …que atardeceres e amaneceres os da selva! que beleza a do banho no rio ao fim do dia!... eu entregava mansamente minhas energias diurnas à água, memória do planeta, enquanto banhava-se o céu em colorido sobre o bosque infinito, ao mesmo tempo em que todas as aves e insetos interrompiam suas atividades e punham-se a dar graças à Vida cantando nas copas... Depois do banho, aseado, eu subia à aldeia e entrava em qualquer casa de família onde se ouvisse uma guitarra ou uma maraca, ou palmas batendo, somando- me ao grupo que, ao redor da mesa, presidida por uma vela acessa em seu centro, entoava os belos hinos de Oração com fervor. Aquele povo não tinha televisão, mais canal, bem que tinha, e sintonizando-o, passava o tempo olhando a Deus em sua primeira face física, tanto a de si mesmos -a vida interior, familiar, comunitária- como a da pura natureza envolvente: a Criação. Aquelas gentes estavam isoladas do resto do planeta pelo oceano da selva, mas passavam o tempo viajando por todos os mundos possíveis a sua infinita criatividade sobre o tapete mágico da miração. 
Fascinavan-me as crianças que povoavam aquelas singelas casitas de madeira e telhado de uralita, que, quando chovía, ressoava como mil tambores: criançass loiras, morenas, negras, índios, orientais, belos seres resultantes do cruzamento de todas as raças no fundo do caldeirão do Grande Alquimista, no Coração do Mundo, a geração da Unidade Planetária, os autênticos nativos do Povo de Juramidám. Crianças super-sadias de olhos puros e vivazes, olhos de noite Lua Cheia, desbordantes de alegria e de inteligência natural, que nadavam como peixes desde bebês, que aprendiam sozinhos a tocar quanto instrumento musical podiam agarrar, começando pelas maracas, meninos que evoluíam na Roda de Energia do Templo em perfeita formação, orgulhosos de suas fardas... pequenos guerreiros e amazonas; crianças fortes e responsáveis que trabalhavam eficazmente desde muito pequenas, colaborando com sua família e com toda a Comunidade, e que sempre, sempre, sempre, estavam rindo. 
Crianças amadas como só no Brasil são amadas e mimadas as crianças por suas famílias; meninos expresivos, carinhosos, profundamente observadores, corajosos e discretos, acostumados a olhar diretamente e com simpatia aos olhos de qualquer um; meninas que tinham-se banhado em Ayahuasca desde o momento de sua concepção, que tinham recebido a Bebida de Poder através de sua mãe durante a gestação e a lactância, e todos eles eram batizados com Santo Daime ao nascer, pondo-lhes seus pais uma gota na boca com o dedo. 
Ao anoitecer, baixo a grande lua moura tropical e o infindo concerto dos grilhos e as râs, eu ia pela Casa da Estrela, a assistir a limpezas etéricas ou curações, que faziam-se mais dramáticas por causa do forte contraste de luz e sombra que produzia a luz das velas nos rostos; ou bem ao Templo, a cantar e dançar no himnario até o alvorecer...
Um jovem do Sur disse-me um dia: - “Eu estou aqui porque esta é uma religião de alegria; não vejo melhor maneira de sentir a Deus e ao Amor, que cantando e dançando toda a noite junto a meus irmãos, frente a minhas irmãs, com luz sobre todos nós e com o coração aberto”. 
Quando havia Feitío, eu jamais deixava de ir, com freqüência junto ao meu anfitrião; e fazia qüestão de honra não deixar de bater Jagube até que se dissipavam as últimas sombras da noite. Já não me lembro a que horas dormia e, no entanto, jamais estive tão forte nem realizei exercícios físicos tão intensos. 
Quanto mais escrevo, mais duvido que alguém que não tenha estado ali o possa entender. Nestes escritos eu tenho usado muitas vezes a palavra magia, no entanto quase nunca a usávamos em Mapiá, como tantos outros termos de minha própria formação que aponto para dar uma explicação subjetiva dos fenômenos que experimentei. Em Mapiá não tínhamos consciência de estar fazendo magia alguma, nem sequer falávamos dela. Simplesmente vivíamos na magia e parecia-nos incrível que alguma vez em nossas vidas tivéssemos perdido tanto tempo e energias devotando-nos à aquisição das vaidades do Mundo de Ilusão, em lugar de empregá-las, antes de mais nada, em reconstruir, afirmar ou fortalecer nossa religação interna.

Nos dois anos seguintes, já quase saindo do Brasil, elaborei 86 cartas mais, os Arcanos Menores, que juntadas aos 24 Arcanos Maiores, o Taromidám recebido em Mapiá, conformaram as 110 Cartas ou Estelas do Peregrino.
Os 86 Arcanos Menores são algo já completamente diferente dos 24 Maiores: um jogo de Arte e Psicologia. Constituem minha reflexão posterior sobre o que aprendi de minha experiência pelos caminhos de Peregrinação de Santiago e de Aquária, baixo a luz xogada em meu espírito por meu aprendizado com Carlos Pacini, com o Daime e com o Taromidám. 

31- O EDEM

Caminhando por Mapiá, doíam-me na alma os munhões de árvores decepados que se viam aqui e lá. O Povo de Juramidám dizia-se defensor da floresta, porém, jamais lhes ví replantar uma árvore das muitíssimas que cortavam continuamente, para construir cultivos ou casas, ou para alimentar o fogo no Feitío. Confio em que a jovem geração de chefes descendentes do Padrinho tenha podido mudar as costumes de sua gente, caso contrário, a bela Nova Jerusalém poderia parecer hoje uma cidadezinha vulgar como tantas, já que no curto tempo que vivi na comunidade, ví desaparecer as altas árvores que ainda ornavam o centro da aldeia, em torno do templo, a um ritmo bem mais acelerado de destruição que aquele que degradava e envilecía as contaminadas cidades do Sudeste do Brasil. 
Nesse mesmo ano, a soma das áreas que foram queimadas em toda a Amazônia conformou uma estensão calcinada que, somada, dava o tamanho da França; os satélites artificiais registraram-no e houve um alerta mundial e um coro internacional de hipócritas protestos dos habitantes dos países industrializados, que tinham sido os primeiros em promover um modelo de civilização no que o lucro imediato e desconsiderado primava sobre todos os demais valores, e também os primeiros que tinham começado a assassinar seu próprio ecosistema e que continuavam assassinando-o, enquanto criticavam aos brasileiros mais pobres e arriscados, que tentavam sair da miséria fazendo-se proprietários de um pedaço de selva ...só que no marco de uma política estatal de colonização nefasta, que lhes atribuía títulos de propriedade, não quando tinham conseguido transformar o mato selvagem num jardim habitável e sustentável, fornecedor de alimentos e bens, senão, simplesmente, quando tinham queimado tudo quanto antes havia, para criar uma precária pastagem para umas poucas vacas famélicas. 
Tempo mais tarde veio a Conferência Mundial para o Médio Ambiênte em Rio e deu para ver nela que a hipocrisia era, com tudo, menor que a irresponsabilidade cínica daqueles que tinham interesses tão grandes em que as coisas sigam como até agora, que nem se importavam, não já pelo futuro de todos, senão nem sequer por seu próprio futuro. Em 1997 houve nova conferência em Kioto, e seu protagonista principal tornou a ser o egoismo cego e suicida dos governos dos países mais industrializados.

Um homem, ou uma mulher, é a conjuntada síntese de milhões de vidas minerais, vegetais, animais, astrais, espirituais, micro e macroscópicas e multidimensionais, isto é, de Seres Divinos, ou emanações do Unico a Sua imagem e semelhança, iguais em essência e potencialidades, criadoras de seu próprio destino e bastante autónomas (quando expandidas em seus níveis mais amplos de de freqüências), porém, cada um situado em seu próprio grau de consciência e nível vibratorio, e todos evoluindo em seus processos; os quais formam uma comunidade biológica de células vivas e especializadas, suficiêntemente complexa como para poder servir de canal autoconsciênte de manifestação à Consciência Cósmica. 
Salvando as diferenças, o equivalente ao homem no mundo vegetal são as árvores, esses acúmulos ingentes de vida natural, eternos meditadores e transmutadores de energia telúrica em cósmica; disse-mo em Anhangás a sua maneira um velho siringueiro, que tinha passado quase todas as manhãs de sua vida percorrendo o comprido e sinuoso caminho selvático que enlaçava as trinta ou quarenta árvores de caucho às que extraía sua preciosa seiva e aos que conhecia tão bem como um leiteiro à suas vacas, já que eram seu médio de vida e, como costuma ser o médio de vida de cada homem, sua escola principal de Conhecimento da Vida. 
Aquele ancião fez-me a honra de levar-me a percorrer com ele seu labirinto, me descrevendo as coisas espantosas que os profanos nem podem vislumbrar por falta de raízes na selva; Ele nomeou cada árvore, cada inseto, as úteis propriedades de cada folha da selva, me contando, ao tempo, aventuras da época de sua juventude, das vezes em que teve que lutar contra feras ou índios bravos que o espreitavam para converté-lo no seu jantar, ou daquelas outras nas que se lhe apareceram, a ele ou a seus vizinhos, os espíritos encantados e duendes do Povo Invisível -o terrível Curupira, uma espécie de ugro ou cíclope peludo; as Senhoras das Águas, que raptan meninos para os converter em pajés curadores; O Boto, ou golfinho rosado dos rios amazônicos, que se disfarça de homem para dançar forró nas festas dos povoados ribeirinhos, e fugir, após deixar grávida a alguma moza entre as matas da orla; ou o Sací Pereré, um anaozinho nu que só tem um pé e que anda para atrás em círculos, para desorientar aos caçadores abusões e fazer-lhes perder no mato-... e, no meio daquelas estórias tão saborosas como alucinadas, o velho ia me brindando de passagem umas gotas da sua sabedoria. 
Ele disse, com sua simplísima linguagem de caboclo, que quantas menos árvores ficarem no planeta, mais embrutecido, desligado e infeliz será o homem; que a missão do homem sobre a Terra não é converter aos Reinos da Natureza bruta em insensível artificio, senão em um jardim vivo, ordenado e agradável para todos os seres. Que algun dia as nações disputarão-se a energia sutil da pouca beleza e agua natural que restará no planeta como hoje disputam os jacimentos de petróleo e de minerios preciosos... que andar por e entre as árvores, foi a escola de habilidade e equilíbrio que os antropoides tiveram, justo antes de se converter em humanos; que foi aí onde desenvolveram as mãos multi-úteis que permitiram-nos depois criar civilizações, e também o sentido tridimensional, a partir de onde se desenvolveu nossa razão concreta e medidora. 
Entre as copas da selva, o maior inimigo de nosso avô foi a cobra, e é por isso que, ainda hoje, só pensar nela nos dá calafríos. 
- “Se na Biblia diz-se que o paraíso primigénio, o Edem, era uma floresta e que a serpente mostrou aos nossos antepassados o fruto da Àrvore do Bem e do Mal, o que esse símbolo significa –confidenciava-me o velho druida amazônico com seu rústico português arcaico, feito de intraduzíveis conceitos nos que fundiam-se o sonho mítico e o sonho da vida quotidiana-, é que os antropoides mais evoluídos da selva tornararam-se homens no dia em que ousaram provar pela primeira vez a Ayahuasca, sendo que o cipó de onde procede tem a forma de uma grande cobra que se enrosca numa árvore. 
O poder e a sabedoria da Serpente Vegetal elevou de forma gigantesca a vibração dos seus chakras, abrindo suas mentes instintivas de animais à autoconsciencia, e com ela, ao livre alvedrio que trás a responsabilidade por si mesmos, junto com o sentido intuitivo do correto e o incorreto e, com ele, a perda da inocência e da impecabilidade, e o esquecimento da segura, ainda que automática, guia do instinto”.- 
Fiquei impressionado por aquela nova versão a respeito do mito da Árvore do Bem e do Mal do Edem, que coincidia muito bem com todas as minhas experiências do re-despertar da consciência ética e da estética natural e profunda, como primeira reação do subconsciênte para polir-se, uma vez desbloqueado pela Bebida Sagrada.
Perguntei-lhe após por outras plantas de poder, como os fungos; e ele respondeu-me: 
- “Sim, conheço muitos, mas o poder e a sabedoria das consciências encantadas que eles contêm, que são elementares da terra e da água, e que respondem tão só a nossos estímulos astrais, não tem nem comparação com aqueles que vivem no Jagube, que são altos silfos do ar, que ressoam muito bem com os do fogo elétrico da atmosfera, e que estão acostumados a transmitir diretamente sua vibração à nossa mente, e não só a nossa emocionalidade, a pouco que abramo-nos à contemplação da beleza da Natureza, os mais elevados pensamentos do Ser Planetário, do Qual as árvores são suas antenas. 
- ...Por isso, na Biblia, Deus sempre chama ao deserto a Seus médiums, canalizadores e seres de contato, sejam poetas, artistas ou profetas, ou crianças puras ou gente apaixonada, para falar-lhes através dos Silfos do bosque ou das Salamandras das altas montanhas, os quais ressoam nas outras consciências elementares semelhantes, que conformam nosso próprio corpo. Se a consciência do canal já está bem acordada, Ele o faz, de maneira mais direta e com muitíssima mais potência, através da Hierarquía Divina dos Seus Arcanjos, Anjos ou Virtudes Divinas, que ressoam com as próprias virtudes que os Homens ou Mulheres com maiúscula desenvolveram através de seu autocultivo interno. 
- Tudo no Universo está Vivo e é Consciência; qualquer forma, uma planta, uma pedra, não é senão a casca densa que as energias dinâmicas de Deus, Arcanjos, Anjos, Espíritos Humanos e Devas, moldam sobre Suas próprias energias estáticas, o que chamamos os Elementares da Terra, a Água, o Fogo, o Ar e o Eter, para construir diferentes veículos materiais ou personagens, mais ou menos sensíveis, como estes mesmos corpos nossos ou o desta árvore, com os que Ele manifestar-se e poder jogar Consigo Mesmo seu Jogo de Amor, Evolução e Conhecimento de Si Mesmo, assim como da combinação e despregue de Suas infinitas possibilidades sobre o Plano Denso, e sobre todo o resto dos Seus Planos.” 
- “No entanto -, advertiu-me o ancião num tom de voz mais baixo, voltando-se a mim de repente, e achegando seu rosto ao meu ouvido, como para contar-me um segredo- há que se saber tratar com os elementares. igual que há que se saber tratar com os espíritos sofredores do Astral: …sempre a disciplina do ritual por diante, sempre o protocolo sagrado para tratar com eles com todo amor, mas com uma verdadeira formalidad, autoridade, orden, seguridade e distância... caso contrário, você dá-lhes um dedo e eles podem querer combinar- se com o braço tudo... eles não têm tão claro como nós o sentido do que é correto e do que não, eles são como crianças brincalhonas e, às vezes, até como verdadeiros animais... ou diavinhos; e podem aproveitam-se. Por isso nunca se deve tomar, simplesmente, Ayahuasca. Eu tomo, unicamente, Santo Daime, o que significa Ayahuasca consagrada por um ritual... o que também quer dizer que, passar o que passar, Deus e todos os Altos Seres Divinos estarão controlando a sessão”. 
Quando, à volta de nossa excursión, após cruzar o rio Purús, acabávamos de amarrar a canoa e nos dispúnhamos a subir a ribanceira para sua casa, o velho ainda acrescentou:- “Escuta à floresta de noite, quando estejas em trance de Daime, e ouvirás, através dela, os discursos de amor que trocam o Céu e a Terra e todos os projetos de Deus nos quais eles estão trabalhando”.- 
Segui a sua sugestão: e posso assegurar que não há canto gregoriano mais sagrado que aquele que, no cair da noite, eleva-se desde a selva ao céu estrelado, procedente de todos os seres de todos os Reinos naturais, transmitindo o amoroso agradecimento e os louvores da Terra à Vida Cósmica de uma maneira não demasiado diferente, no entanto, à como faziam os templarios do Daime nos himnarios. Em minha miração, as vozes de todas as criaturas da floresta conjuntavam-se n,uma extraordinária sinfonía de ondas vibrantes que ascendiam para o espaço conformando geometrías luminosas em construções indescriptíveis, ou cruzando em todas direções, entrelazando-se com as influências energéticas proveniêntes das estrelas, e se combinando e se modificando com elas, até criar na maleável substância etérica neutra do mental cósmico, um tapete de mutantes formas que encaixavam umas em outras, configurando organicamente um novo paradigma planetario, com os apelos de todos os seres. 
Os elementares do ar e do fogo estructuravam-se por semelhanças vibratórias em redes energéticas que formavam verdadeiros campos de força sobre a imagem mental conjunta, e o novo projeto do mundo ia se edificando e superpondo ao antigo, tal como um gigantesco holograma luminoso tridimensional no plano subconsciênte coletivo, ou astral, do Ser Planetario que somos, enquanto os elementares da água e da terra preparavam-se para acabar de materializá-lolo no plano físico. 
Como cada uma das ondas, procedentes de insetos, pássaros, animais, homens, árvores, o corpo mineral e aquático do planeta e as vibrações procedentes de cada estrela… tinham seu próprio movimento colorido em brilhantes lampejos pontilhistas e danoarines, bem como seu som específico ante meu olho astral, concluí intuitivamente em que aquele concerto mántrico colosal feito de tão diversos como bem compenetrados instrumentistas, devia ser o que os sábios chamavam A Música das Esferas. 
Focando-me mais nela, o que significa atendé-la participando, e não só como um observador, decatei-me de que sua base melódica era um compasso dual, durante o qual cada ser individual emitia um chamado, uma petição ou um requerimiento… conformando a soma sinérgica das infinitas perguntas entrelaçadas e repotenciadas em si mesmas… a resposta do Ser Total, que tudo enchia-o em contraponto. 
O conjunto constituía uma escala caleidoscópica de graves e agudos infinitos, entrecruzados num mandala sideral que abrangia toda a abóvada noturna, expandindo-se e se contraindo em brilhantes ondas espiraladas compostas por bilhões de pontos luminosos, cujo movimiento, centrífugo ou centrípeto, alternava-se ao ritmo de minha respiração (ou minha respiração ao seu), fenómeno que fez-me pensar que não respiramos, senão que somos respirados pelo próprio movimento rítmico da vida… e que nossa harmonia individual consiste, simplesmente, em não oferecer resistência ao fluxo e reflujo natural de tudo, assim como em acompasar-nos da forma mais consciênte e afinada possível com ele. Com o qual minha energia elevava-se à paz, à êxtase e às mais luminosas visões, através das quuais a Sabedoria inerente à Harmonia manifestava-se no marco natural de minha mente harmonizada. 
A partir daquela noite em Anhangás, ficou bem claro para mim o poder imenso do pensamento holístico e da oração, a mantralização e o canto grupal, bem como a responsabilidade que implica cada movimento energético nosso, até o produzido pelo mais vão pensamento. O mundo e nossa vida são como são, porque assim é construido pelos desejos que emitimos. Se soubéssemos pôr-nos de acordo para pensar juntos um modelo ideal de mundo, teríamos construído o Céu que almejamos sobre a Terra há muitos séculos. O mito da Torre de Babel exprime muito bem como a ignorância fanática e a ambição seitaria  egoísta, separatista e competitiva, desconcerta, destrói e dispersa a empresa elevadora conjunta e faz-nos desabar na confusão geral e no caótico "Salve-se quem puder!" individual. 

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32- GUERRA E PAZ

Após eu sair de Mapiá, passei uma temporada entre Boca de Acre e Anhangás, no meio de gente simples de coração hospitalário, ricos nessa nobreza que todo o dá, e mais se tiver, que é natural entre os habitantes da selva e do deserto... Anhangás foi para mim como um segundo curso da Universidade do Santo Daime, que eu pudem aproveitar muito bem, porque já estava mais preparado para lidar com aquele poder e aquele conhecimento. Tive ali formosas amizades com as gentes do lugar, regentado por um Centro Daimista, mas, também, experiências de confronto com um grupo de guerreiros originários das urbes do Sur, que tinham vindo desde Mapiá a organizar um Feitío, ao qual uni-me.

Para então, tinha-se feito já quase insuportável para mim o conflito entre o conceito de um Deus distante, juiz e punidor, que tinha-nos aprisoados neste mundo-inferno para pagar nossas culpas, humilhar-nos e fazer-nos arrepender, o qual era a visão geral predominante entre as gentes que estavam na base, bem católica e bem convecionoal, da pirámide da consciência do Daime (e no próprio programa que eu tinha-me o imposto desde menino, que alimentava minha parte mais sombria)... e o outro conceito, mais caro à minha personalidade, de um Deus interno, próximo, animando com Seu espírito Sua própria matéria, Quem conduzia evolutivamente ao mundo para a iluminação e a feliz auto-realização. 
Parecia-me que só tinha duas verdadeiras religiões no mundo: A do Deus do Temor e a do Deus do Amor, e que as sociedades e as pessoas se conformavam como reacçãoarias e fascistas, pessimistas, apocalípticas, inquisitoriais e reprimidas ou bem como progressistas, liberais, otimistas, tolerantes... segundo o conceito básico de sua visão de Deus e da vida... ambos conceitos acabaram por conformar ante mim a cara e a cruz, o aspecto luminoso e a sombra, de minha própria experiência; e acabei polarizando-me num dos extremos e projetando em outros aquilo que não podia suportar, nem dentro nem fora de mim mesmo. 
O conflito, que começou a se formar dentro de mim em Mapiá, mas que não tinha chegado a desbordarse durante a mina estadía ali, seguia aumentando de pressão e estava já a ponto de fazer explodir meu ânimo. Contra aqueles que acreditavam estar em posse da verdade, eu alçei meu protesto, no fundo igual de convencido de estar em posse da verdade. Assim, deixei-me cegar pela dualidade e estava excessivamente crítico e com muita vontade de me desafogar.

Um sempre acaba se convertendo em aquilo que não ama, sobretudo se compromete sua energia e suas emoções na ação do criticar, que é uma autoidentificação negativa, já que só criticamos aos demais porque nos sentimos unificados com seus aparentes defeitos, e negamos, odiamos e combatemos à nossa própria sombra neles; caso contrário, nos resultaria bem mais indiferente a vida dos outros e o rumo que queiram lhe dar. 
Em um momento de indiscreção e de néscia geralização, minha temperamental impulsividade espanhola, já fervendo, soltou ao vôo um par de chifradas, comentando ante meus colegas de feitío que tinha visto entre a maioria dos guerreiros de Mapiá mais rigor que amor, mais culto ao poder que à misericordia e mais orgulhoso fanatismo que entendimento equilibrado da Doutrina; estes julgamentos prepotentes, vindos de um gringo -no Brasil chama-se gringo a todo estrangeiro-, que ademais não parava de afirmar sua liberdade de pensamento e de sustentar conceitos unicistas mais teóricos que assumidos (que aos guerreiros mais católicos, dogmáticos e que menos tinham compreendido o EU SOU do Padrinho, podiam parecer blasfemos ou heréticos), valeu-me a animadversión do capitão da equipe do Feítio, tocada a dignidade de seu ego por aquela ofensa a sua autoimagen de firmísimo Iniciado pertencente a um "Povo Eleito". 
Este era precisamente o companheiro que eu mais apreciava por sua dedicação atenta e firmeza impecable no trabalho, todo um jovem aspirante a comandante; e ademais apoiaram-lhe vários de seus camaradas, os quais começaram a cruzar sardónicas apostas sobre quanto demoraria o Senhor Juramidám em ajustar-me as contas por minha soberba e minha rebeldia, me mandando uma boa "pea" durante o trance do Daime. 
Desatou-se assim uma vibração de batalha psíquica -da que todo mundo estava pendente, se formando um coro de animadores de briga ao redor de ambos bandos, como sempre que erupciona um conflito…. E estavamos no lugar menos adequado para isso: o lugar da elaboração da Poção Mágica, o que provocou que, mais tarde, aquela má vibração desse lugar a tormentosas viagens durante os himnários, nos que correram energias muito pesadas entre nós (Parecia-me estar captando, com clareza telepática, como meus oponentes projetavam sobre mim, com seu desejo de castigar-me, uma forma pensamento astral que era sua própria imagem do Deus Castigador, para que viesse a derrubar minha estabilidade emocional durante a aceleração da energia; ainda que também é possível que, em parte, não estivesse percebendo senão minha própria paranoia subconsciênte pela hostilidade que imprudentemente tinhaa desatado -seguramente maior que meu arrependimiento por ter falado de mais- …e meus esforços mentais para criar proteções psíquicas a meu redor e afirmar meu equilíbrio interno, não me deixavam atender à melhor parte da sessão, com o que a defesa de minha estabilidade se convertia na própria inestabilidade). 
Nossa desarmonía chegou a afetar inclusive ao astral dos outros participantes, pessoas que não tinham nada que ver, até que o velho siringueiro, chefe do templo, chamou-nos firmemente à ordem e à reconciliação, que foi muito reticente pela outra parte... Como resultado daquela luta, vim compreender que nunca pode-se sair completamente indemne de uma confrontação energética, já que estamos submersos numa atmosfera emocional comum; e que a vitória maior de um guerreiro é, simplesmente, ser capaz de andar por qualquer parte sem ter que tirar jamais sua espada da vaina, nem para se defender; isto é, por ter-se feito absolutamente humilde e inofensivo, apesar de seguir sendo poderoso (isso era o "se humilhar" do Padrinho Sebastião); e inofendível, ao ter aprendido tanto a não provocar a ninguém, como a não aceitar provocações ou desafíos, situando nossa autoidentificação bem mais por acima do ego, que é o único que pode se esquentar por um insulto a sua falsa autoimportância.- "Quem fica bravo, perde"-, dizia bastantes anos antes Teuctlí, o chamán chichimeca. 
Assumi assim um pouco mais da minha própria sombra, isto é, minha própria intolerância contra a intolerância, o que acabou por me fazer evidente que a personalidade (a máscara que fabricamos com as virtudes que selecionamos como próprias) …é inseparável da sombra (o aspecto negativo dessas mesmas energias selecionadas, as quais, ao negar-nos a vé-las como nossas, as acabamos projetando sobre os demais)... Esta certeza ajudou-me a conceitualizar um ego algo mais sadio, vestido de humilde, ante o reconhecimento de que todo o que me molestava nos demais era só o reflexo do que mais molestava-me de mim mesmo. 
A raiz daquela aceitação, concienciei e valorizei enormemente o poder do perdão, incluído perdoar também meus próprios erros, e os ver como duras lições, necessários degraus da aprendizagem. Seguidamente passei um tempo pintando um grande quadro no qual via-se a Jesucristo derramando toda sua amorosa energia de misericórdia em uma cachoeira de ondas sesgadas de luz purificadora sobre María Magdalena, representada como uma sensual mulata provocativamente vestida, que ao perdoar a si mesma, após aceitar as contradições extremistas do seu incendiário temperamento, ascende à libertação e ao êxtase. Presenteei aquele quadro (que desatou algumas polêmicas puritanas por causa da sensualidade aparente da Magdalena em sua luminosa fusão com seu Mestre e o sorriso de absoluto entendimento, quase cúmplice, com que Jesús a desculpa e a acolhe), à igreja de Anhangás. Lamento não conservar nenhuma fotografia, pois a lembro sempre como uma de minhas obras mais sentidas. 
Daí em adiante, em quase todas as sessões espíritas em que participei veio fazendo-se cada vez mais evidente para mim que, igual que existem a nível multinacional, uma conspiração de desalmados interesses que pressiona inclusive aos mais poderosos governantes e manipula a influência dos médios criadores de opinião pública, provocando que em uns quantos lugares do mundo arda sempre uma guerra, em cujo rio revolto possam eles realizar rápidos e fabulosos negócios, cambalacheando armas, mercenários, alimentos, medicinas, materiais imprescindíveis... e conseguindo impressionantes contratas para reconstruir o país apóss a contenda, fazendo-lhe contrair dívidas impagáveis que o põem economicamente em suas mãos... de maneira semelhante, existe também no Astral uma conspiração de escuros interesses das Forças Involutivas, que suga grandes quantidades de energia etérica do conflito permanente de nossos egos. 
As guerras coletivas exteriores que assolam tragicamente nosso planeta são só a exteriorização das guerras interiores que constituem o estado emocional normal de nossa consciência individual, quando ainda encontra-se cegamente submergida no pântano da dualidade, rebosante de sangue-sugas astrais.

São as sangue-sugas astrais que fazem crescer à violência em nosso ânimo forças internas ou externas a nós? existem seres extra ou intraterrenos que se alimentam da baixa vibração produzida por nosso medo, nossa arrogância, nosso ressentimento? Sem dúvida que existem, e no trance do Daime eu as vi às vezes reptando sobre o solo, com aspecto de escuros monstros transparentes, ou morbosos diabos que espreitam qualquer mínima apertura das defesas psíquicas, qualquer queda da positividade, para se prender a nossa aura e vampirizar quanto possível nossas reservas de luz vital. 
Mas não há nenhuma força no universo alheia ou externa a nós, se o contemplamos desde suficiênte altura; absolutamente todos os seres astrais que afetam a nosso mundo pessoal, para bem ou para mal, são criações nossas, permanecem unidas a nosso campo de freqüência para sempre, desde que nossas emoções, palavras pensamentos e ações as emanaron (são "nossas relações"), e elas consideram-se com todo direito a seguir se alimentando, enquanto puderem, das energias escuras que as conformaram. 
Todas essas larvas astrais que continuamente nos influenciam, demandando-nos ações, sentimentos ou pensamentos afins a sua própria baixa vibração, para nós gerar energias que possam absorver, porque ser de seu mesmo tipo de freqüência, todos esses filhos mentais demoníacos que nossa ignorância ou negligência tem engendrado, mantêm um estado contínuo de guerra em nosso interior com todas as potências luminosas de signo contrário, igualmente geradas por nós, e que alimentam-se do extrato etérico das mais elevadas vibrações que produzimos. 
A impressionante miração do evangelista Juan no Apocalipse, na qual o trigo é finalmente separado da palha, ilustra esta guerra interna entre os extremos de nossa dualidade, que a todos nos divide e nos enche de ansiedade, ansiedade que consome uma enorme quantidade de nossas reservas vitais, que se exprimem ali onde pomos nossa atenção em cada momento; Ansiedade contínua que não nos deixa desfrutar em paz da vida, e que projeta-se a outros cada vez que puder, porque é menos sangrante para nós brigar com outros que connosco mesmos. 
Bem mais antigo, também fala da mesma coisa o mito sumerio-hebreu da luta entre anjos e demônios, seguida da expulsión de Lucifer e suas legiones do Céu, obrigados por Miguel e a sua Hoste de Luz. Porém, ademais, ilustra a Segunda Lei de Manifestação... (a Primeira diz que "acabamos sempre manifestando em nós mesmos e realizando no nível material e concreto aquilo que mais temos desejado e ao que temos concedido maior atenção interna e externa")... A lenda diz que a Consciência Suprema pediu a alguns dos Espíritos Divinais mais próximos a ela, que concebessem e criassem em si mesmos a dimensão mais densa daquelas nas que O Ser desejava Semanifestar ao início deste ciclo. 
Mas aqueles espíritos omnisciêntes ficaram aterrorizados ante a visão do que se lhes pedia: Tinham que fazer o papel do malvado do Jogo: criar, encarnando-a em si mesmos, a Sombra Absoluta, a limitação, a doença, o medo e a inconsciencia, tinham que servir de obstáculo e de desafío aos espíritos que iam jogar o Jogo Evolutivo... Lucifer, o altísimo anjo reitor de Vénus, o esplendoroso Luceiro da Alva, representou aquele papel, tão ingrato como importante, do Teatro Divino (porque não há o Bom sem o Mal, numa representação), de tal modo que rebelou-se com seus colegas de missão, se negando a manifestar o extremo oposto ao da Luz. 
Aquela rebelião de uma Unidade de Consciência, cujo papel fundamental é percebê-lo tudo, o conceber tudo, manifestá-lo tudo, lhe valeu densificar-se de maneira automática, cair interdimensionalmente. Arrastrando pelo peso de sua própria negação aos desejos do Supremo Amor, até a vibração mais baixa do Ser... para vir a ser, precisamente, aquilo que se negara a conceber, fòrmula que a Justiça Cósmica dispôs pára que ele conseguisse conhecer intimamente aquele estado limitado, e amá-lo, e entender que não há nada que seja mais alto ou mais baixo, nem mais belo ou mais feio, em um universo unicista. Isso só tem realidade para as ilusões do Ego contraído. 
Diz a Segunda Lei de Manifestação: "...Acabamos realizando e manifestando em nós mesmos aquilo que nos negamos a considerar, a conceber, a compreender ou a amar, até que, vivendo em carne própria, aquilo que temos menosprezado, criticado, rejeitado ou odeiado ou, simplesmente, o que não temos considerado com amor, isso mesmo chama-nos à fusão e ao entendimento com ele, já que num Universo em que tudo é Um, nenhuma parte do todo é desprezível, nem nenhum aspecto do Jogo Unico da Consciência".

...A falsa paz é um momento de vibração contraída e de tenso repouso entre o último conflito e o seguinte que se prepara. A paz real é um estado no qual cada parte enfrontada da dualidade em conflictio por fim se superou, se aceitou, se amou… com o qual, automaticamente, a cosciencia expande-se e se chega a uma consciência de Unidade na Essência, na que todas as criaturas são nossas irmãs, e na que aceitam-se sem resistência todas as leis naturais que nos regem, bem como todas as personagens que no teatro de nossa mente actuam, já mozinhos ou vilões, luzes e sombras, porque somos Nós Mesmos quem temos elaborado as regras de nosso jogo e sabemos que sem conflito não há aventura evolutiva, e sem obstáculos, limitações ou desafios não há superação nem autoperfeiçoamento.

Dependendo que um alma aceite e ame a sua sombra como complemento de sua luz, e a ambas juntas como estrutura de seu Jogo, ou não a aceite ...pode-se viver a vida como um jogo monótono, repetitivo, predecível, circunscrito a um mundo nojento, por arqui-conhecido, onde tudo é mesquinho, no qual continuamente recai-se nos mesmos erros, no qual as emoções predominantes são a irritabilidade, a agresividade, a frustração. a baixa estima, o remorso e o temor, irmanados ao sentimento de culpa, à preocupação, à tacahería, a cobiça, a desconfiança, a acuciante solidão, a ansiedade, o stress, ao materialismo mais aplastante, o aborrecimento, e o contínuo confronto bloqueante com o resto do mundo... 
...Ou pode, pelo contrário, viver seu jogo como uma contínua e excitante aventura, um entusiasta passar de porta a porta, cada uma se abrindo a novos universos de experimentação de nossas infinitas possibilidades; uma intensa experimentação em ascensão, na que novas e novas aprendizagens vão-nos chegando, cada vez mais interessantes, e mais com freqüência trazidas pela mão do prazer que pela da dor; fazendo-nos sentir que a vida é uma mágica viagem interminável, que tudo está muito bem feito como está; que a dor, o risco e até as circustanciais derrotas, não são mais que os elementos que dão maior intensidade ao jogo. 
... fazendo-nos sentir que somos indestrutíveis, que cada ocasião em que caímos é um pretexto para nos levantar em um nível mais elevado imediatamente após; que a Providência existe e que é incrivelmente generosa com quem confia nela para valer; que cada homem, mulher ou criança que a gente conhece é um novo companheiro de jogos, quem chega trazendo na sua mão uma chave para convidar-nos a penetrar, sobre as asas do amor e da amizade, em mundos exóticos e diferentes... e até que o aparente inimigo que um tem enfronte, é só um desafío que A Vida nos coloca por adiante para nos obrigar a um esforço maior, que nos permita acessar a uma oitava superior do jogo, e que o implacável rival, finalmente, revelara-se como um camarada de altura, um cúmplice, um mestre, e até um salvador... já que, por trás de todas as máscaras do Teatro do Mundo, há sempre o mesmo Ator Único. 
É o estado de Paz Real, ou de freqüência vibratória expandida, o que traz consigo uma clara consciência que nos permite viver A Vida em toda sua infinita variedade, grandeza e esplendor, mantendo-se calmo no olho do furacão, um não se sente como um indivíduo separado em concurrência com todos os demais, cuja ascensão suporá forçadamente nosso descer; senão que compreende, com absoluta evidência, e experimenta, que há um só propósito e um mesmo objetivo essencial em todos os elementos que constituem nosso Eu Maior, inclusive os aparentemente opostos ou indiferentes: a saúde e o desenvolvimento do órgão é a saúde de todas e cada uma de suas células e viciversa. A Terra sente-se como nosso corpo físico coletivo. E, dentro dela, a Humanidade em bloco, como um órgão mental e funcional com um único propósito evolutivo ao serviço do Grande Organismo Cósmico. 
Somos peças de um puzzle holográfico, é necessária cada uma das peças para completar a unidade; ademais cada peça, em si mesma, abrange a totalidade do que somos. A doença, o câncer, podem aparecer por causa da influência de nossa mente individual, competitiva e separada, sobre a inteligência receptiva das células que nos conformam; quando um grupo delas decide seguir a tónica marcada pelo regente do corpo e, em lugar de colaborar com suas irmãs, começam a concorrer, o caos e a autodestruição instalam-se no organismo... e não serve operar e extirpar... até se corrigir a maneira de pensar, novas e novas células seguirão contaminando-se de separatismo. 
Diz meu amigo, o médico Jose Luis Gil Monteagudo -comprometido lutador pela Paz -, que cada um de nós somos como um computador muito sutil que está equipado com uma programação mental produto de sua experiência no tempo. Este programa condiciona nossa percepção da realidade e, portanto, nossas respostas. Como o programa está contaminado por uma espécie de vírus informático, fruto do medo transmitido de pais a filhos durante gerações, nossa percepção da realidade é errónea, e nossas respostas bastante desajustadas. 
Tomar consciência de que existe um programa errôneo, que foi nos inculcado pela carência de luz que supôs a materialização de nosso ser no denso Plano Físico (e pelas entidades de sombra resultantes, as que alimentan-se de nosso medo, de nosso orgulho, que é o emblema diferenciador com o que dignificamos o escudo do medo; do interesse egoísta que o medo gera, e de nossa contemplação fragmentária e parcial do fenômeno humano, que diminui nossa consciência), é crucial para desativar ese programa. 
Porém, como a lógica humana común -forma de pensar absolutamente relativa e limitada a nossa identificação com nosso veículo físico, emocional convencional, mental concreto e o meio material que percebe- opera a base do mesmo programa, tudo nos faz pensar que funcionamos normal e corretamente, e que a causa de nossas desarmonías e conflitos pode ser externa, pelo que nossa primeira reação é buscar a alguém a quem xogar-he a culpa. Isto chama-se autoengano, e é uma muito poderosa força destrutiva, sobretudo como autodestrutiva. 
O medo é o resultado de ter-nos identificado demasiado estreitamente com algo tão frágil e efêmero como nosso veículo físico, até o ponto de quase ter esquecido aos nossos imortais corpos sutís, bem mais próximos à Essência. É como se uma célula, obsediada com os limites de seu membrana biológica envolvente, perdesse de vista ao Amor, isto é, à Energia Consciênte do conjunto do organismo que equilibradamente a mantém cohesionada e, por tanto, a anima... é como se ela considerasse ao resto do conjunto como externo e alheio a seus interesses, e a suas células irmãs como concorrentes, e até como inimigos. 
Este é o típico pensamento egocéntrico, paranóico e autolimitado que surge do fato de contrair nossa freqüência vibratória por causa do temor, e só muda essa miserável mentalidade para um grau de qualidade mais alto quando se expande a freqüência, ao se elevar nossa onda vital sobre um autêntico ato de amor.
O Amor é uma força impessoal e irracional que agrupa a todas as aparentes individualidades, encauzando-as na evolução progressiva e harmónica do conjunto, que sempre aponta para a conciliação de aparentes contrários numa perfecção maior, a reunificação, a confluência na Globalidade da quual fomos emanados. 
Nossa tarefa principal na vida, nossa Tentativa de guerreiros espirituais por manter-nos despertos, consiste em decatar-nos que levamos conosco, como a outra cara de nossa luz, esse programa errôneo temeroso, separatista e néscio chamado “Vida Humana Comúm”, e que devemos chegar a conhecé-lo bem desapaixoadamente, a compreender as razões de sua existência, a amar a justiça e a sabedoria que o pôs aí como contraponto de nossa evolução ascendente en um tempo já ultrapassado, e a toreá-lo com hábil atenção de guerreiros, para que, após conhecer suas leis, o tenhamos bem vigiado, de maneira que, ainda que seu discurso interminável continue soando nas nossas mentes como música de fundo, isso não nos impeça utilizar a maioria da energia de nossa atenção em manter-nos ligados com o Programa Divinal o Plano da Hierarquía inserido, também, desde sempre, em nosso "disco rígido", que tem acesso à Grande Memória Universal.
Agora bem, o Plano da Hierarquía não tem nada de rígido, éle é bem flexível e adaptável, e com contínuas actualizações ás oportunidades da nossa Transição a mais altos níveis de consciencia… mas o Programa Divinal só funciona quando nós tocamos as brancas teclas do amor e não as cinzas do medo... Uma vez abandonadas as rotinas automáticas da “Vida Comúm”, controlada a sombra pela vigilia permanente da alma que monta agora o carro tirado pelos tres corpos densos, alma que sempre deixa que seja o Eu Superior, a Mónada, quem leve as rendas, a sabedoria e a paz voltam a fluir espontaneamente e tudo se sintetiza, se expande e melhora, porque o Eu Superior está sempre ligado com a Grande Rede Universal.

Quando é o ego, e não a Alma e a Mónada, quem dirige o carro da nossa consciencia, seu programa mental errôneo gera uma espécie de filme que se projeta sobre a tela de nossa atenção pensante. Assistimos a ese filme maluco tanto durante o dia como durante quase todos nossos sonhos; O que acontece nele está baseado em fatos reais, mas tão distorsionados, que tal roteiro quase não tem já nada qa ver com a realidade que o inspirou. 
No estado de freqüência vibracional contraída e, portanto, de consciência diminuída, adjudicamos papéis às personagens que aparecem em nosso palco vital, e fazemos todo o possível porque elas se acoplarem a nosso argumento. Tudo deve cuadrar com as expetativas de temor, separatismo e desconfiança que albergamos. Tudo veremos segundo a cor dos óculos deformados que decidimos usar. 
Esse filme parece tão real, nos hipnotiza de tal maneira, que é muito difícil lembrar que podemos apagar o projetor e sair de suas influencias viciadas pelo medo. Menos o lembrarão aquelas pessoas que fizeram da TV o mestre das suas vidas, imperando dia e noite sobre as suas mentes. 
O Bom Combate de guerreiros e amazonas espirituais por manter-se numa visão unificada e pacífica da Vida, nosso amoroso esforço quotidiano para aumentar a sã e lúcida capacidade de confiar, perdoar, tolerar e respeitar, tanto desde nós mesmos como em nosso meio, se pode resumir em: 
1B- Saber que, enquanto a gente mantenha sua freqüência vibratória em níveis densos, estaremos submersos na dualidade, a crítica destrutiva e estéril, a separatividade e os programas negativos e tendenciosos, todos eles obstáculos ao nosso impulso ascensional unificador. 
2B- Conhecer o próprio filme, o próprio programa manipulador, e suas tendências. 
3B- Mantê-lo controlado, dedicando-lhe um mínimo de energia de atenta vigilância, e reconectar com a Realidade que Somos, elevando nossa vibração por médio de oração e serviço desapegado a um mundo melhor, que englobe, também, a aceitação da sabedoria e à justiça de nossos ultrapasados condicionamentos. 
4B- Gozar da formosa visão e experiência da Realidade, que supera e neutraliza qualquer programa involutivo se um se mantém focado no alto de Si Mesmo.

O Amor é a força que gera a vida, a humilde e gozosa utilidade cooperadora, a confiada apertura ao desconhecido que produz a sabedoria e o perfeiçoamento, a tendência à unidade, a saúde, e a constante busca da mais alta harmonia, a alegria compartilhada, a realização. 
O medo, pelo contrário, atrás de sua aparência de escudo protetor de nossa sobrevivência, só leva ao isolamento, à preocupação, a prepotência oca, a ansiedade, a avarícia, a desconfiança, ao pensamento fragmentado, parcial, negativo e mesquinho, à separação, o câncer, a triste e lenta decadência, a morte prematura em solidão. 
O medo é só a ausência do amor. O covarde ocultamento individual abafados nas nossas courazas -que mais que para proteger-nos só servem para nos asfixiar- quando deixamos de achar que somos Quem Somos. O auto-aprisonamento na escuridão. 
Essa escuridão escolhida, ademais, produz dois terríveis efeitos: deforma nossa visão da realidade de uma maneira grotesca, e propícia que aquilo do que queremos nos proteger materialize-se ante nós tarde ou cedo. Atraímos sempre qualquer coisa na que fixamos emotivamente nossa atenção, já seja uma atenção esperançada ou preocupada. 
Já que, sendo como somos, unidades perceptivas da Consciência Cósmica dentro de Si Mesma e de Seu Jogo de manifestação, qualquer um dos Seus conteúdos mentais que não somos capazes de conceber, compreender, amar e harmonizar, por muito negativo que nos parecer, tendemos naturalmente a encarná-lo, ao viver em nós mesmos, para nos dar a oportunidade de conhecé-lo intimamente e o assumir. Deus não deixa ocos de sombra no Seu caminho. 
Quem padece medo, desarmonía, doença, solidão, confusão, aborrecimento, irritabilidade, rancor ou misaría, é porque não tem fé suficiênte em Si Mesmo, é porque esqueceu que nossa Essência é a Suprema Força, a Fonte de toda Harmonia, Saúde, Amor, Sabedoria, Criatividade, Paz, Perdão, Riqueza... Manancial Divino que não para de fluir, enquanto estamos ligados a Ele pelo Amor. E esta conexão chama-se Autoidentificação, convição por evidência experiencial direta, ou seja, por fé. 
Todo passo adiante na evolução depende da corajosa confiança do eu para se abrir ao "não eu aparente" ao Desconhecido Cósmico, ao "outro" distante ou vizinho… Apertura que lhe traz re-criação, intensidade de vivência, conhecimento experiencial e integração num universo maior, mas também um verdadeiro conflito até que o sujeito ajusta-se, dando e recebendo, conseguindo e cedendo, temperando... Pelo contrário, cazulo que não se abre para ser fecundado, por medo aos insetos ou à intemperie, murcha e apodrece sem chegar a converter-se em fruto. 
Qualquer acontecimento negativo que nos causa ansiedade e dor, vem causado pela carência de fé, de confiança em si mesmo e nos demais que Somos, que é a mãe da positividade conciliadora.
Quando alguém sentiu medo e nos atacou, vista essa agressão desde a visão real do organismo dos organismos que chamamos Deus, significa, singelamente, que alguém fechou-se ao amoroso fluxo da vida, e tem deixado de transmitir A Força que a todos nos mantém. Bloqueio sempre quer disser: angústia, mal-estar, irritabilidade, ressentimento, ira, agresividade, cair cegamente em males piores... o que é seguido de desastre, dor,autoexame, lucidez, reconhecimento, purificação, reconexão, superação, nova expansão vibracional...e a seguir caminhando. 
A sabedoria multi-perspectivistica e totalmente expandida de Deus percebe sempre, com clareza absoluta, o que realmente querem dizer todos nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações negativas: Ante Sua Consciência Universal vêem-se como o que realmente são: raivas de criança; farsas sugadoras para absorver a energía-atenção alheia, ansiosos chamados a uma "cura urgente de amor" de um ser que, ao estar separado de sua Fonte, sofre o indecível e tenta se libertar, projetando sobre outros a culpa que sente inconsciêntemente por causa da sua auto-separação. 
Como actuar com respeito a isto? Sabendo que nossa atenção é criadora... estaremos fazendo magia negra se só a concentramos nos julgamentos dos erros e na busca de culpado, como é a tendência mais automática de nosso competitivo programa escravizador. Quando dirigimos a energia negativa de nossa atenção para as carências de alguém (ou para nossas próprias carências), aumentamos a freqüência de sua (e da nossa), negatividade e contribuímos á sua, (e á nossa), mais funda dependência daquele vício. 
O sadío é atuar conforme à Lei do Amor: sem deixar de perceber os aspetos negativos, mantenha a sua atenção principal aberta a todo volume ao amor, e colocada no mais alto de cada indivíduo –o seu Eu Sou- e confiando em suas infinitas possibilidades de Filho de Deus, sem julgar nem criticar... assim você reforça seus anjos interiores, ajuda-lhe e se ajuda a si próprio a progredir e fazendo que, tarde ou cedo, também você possas desfrutar dos benefícios que seu progresso trouxe pára todo o organismo Humanidade que somos. Isso é o que queria dizer O Padrinho quando repetia sem parar: "Valoriza a teu irmão, todos somos Seres Divinos". 
Todo Mestre aconselha olhar ao mundo e a teus irmãos com os olhos de Deus: só esses momentos de comum-união (os que expressam a Realidade unificada que Somos) merecem ser lembrados e contados como experimentação real da vida; todo o demais não são senão os disculpáveis sonhos ilusorios do ego densificado e estagnado na era anterior, quem mata seu aborrecido tempo, ou vendo-os representados na TV, ou montando com eles, na sua imaginação filmes de heróis e vilões monolíticos. 
Os sujeitos mais agressivos têm uma necessidade maior de paz e de comprensiva atenção que aqueles que se acham mais perto de certo equilíbrio. Um sincero gesto de receptividade e simpatia pode fazer-lhes ressoar com a vibração de uma pessoa serena, sobretudo se essa pessoa, a sua vez, afirma-se com fé na Suprema Serenidade para fazer-se canal dela. Em isso residia a terapêutica espiritual do sacramento católico da Confessão.

Se realmente afirmamos-nos no Ser que Somos, não há nada que temer de um agressivo, pois desde ali ele vê-se como uma parte carente de nós mesmos, pedindo consolo a gritos atrás de uma máscara de raiva que facilmente escorrega da sua face após que lhe permitimos se desafogar…para deixar ver uns olhos cheios de lágrimas de aliviado arrependimento; Também não haverá nada que perdoar, já que se estamos no Ser, nada nem ninguém pode-nos fazer verdadeiro dano. 
Mas se, em lugar de enxergá-lo desde a altura adequada, desde uma perspectiva unificada, contemplamos a ese sofredor desde o pensamento contraído do ego, nosso perdão nunca será completamente sincero; já que, consciênte ou inconsciêntemente, alimentaremos o ressentimento, ao acreditar na realidade de nossa ferida ou da suposta ofensa. Ofender-se, reagir à contra, alterando-nos emocionalmente, desligando-nos da Fonte do Amor e levantando o escudo do medo e a espada do rancor como conseqüência de sentir-nos tocados por uma provocação, é um sintoma de debilidade e de que a gente se identificou com algo muito vulnerável, com um ego medroso, e não com Seu Ser, tornando-se assim o mesmo que se teme e que se odeia. 
Só conseguiremos nos libertar do fantasma do medo quando deixemos de nos identificar com o frágilíssimo ego, que não agüenta um sopro, e quando descansemos na invulnerabilidade da nossa Identidade Divinal. 
Os humanos que se habituam a viver em níveis de vibração pouco consciêntes são xogados continuamente para uma ou outra polaridade extrema pela Lei da Balança: ou bem estão subindo a Roda ou a estão baixando, para em seguida inverter o movimento: o sábio apoia-se no fiel da balança, nossa Essência, que está acima das Leis porque foi Ela quem as fez todas. Identificados com o Ser, saímos-nos da Roda do Samsara, ou da eterna repetição de programas duais opostos, e permanecemos na eterna serenidade que é própria Daquele que inventa, dirige e goza do jogo sem se esquecer de Si, e que pode, em todo momento, sair a jogar despreocupadamente enquanto deseja jogar, sem se identificar com as personagens de seu jogo, além do necessário.

Como broche final daquela lição da Vida, quando justo terminei o quadro da Misericórdia, do Perdão e da Reconciliação, chegaram a aquele Fim do Mundo amazônico uns visitantes procedentes do mundo exterior, que me deram a notícia do século: O Muro de Berlim tinha sido derrubado... 
O Muro que separava a antiga capital alemã em dois mundos incompatíveis, bem perto do qual eu tinha vivido edurante minha estância em Berlim, simbolizava tragicamente a terrível confrontação de aparentes opostos que tinha marcado a toda minha geração e às duas anteriores: a do malvado patrão sanguesuga e o pobrecinho e explodido operário, a do bloco ocidental capitalista e o bloco oriental comunista... o fantasma da Guerra Fria, a dualista espada de Damocles que ameaçara ao mundo com a destruição atômica global desde antes de eu nascer… tinha-se dissolvido. E como? Pois, simplesmente, por corrupção do lado que mais acusava de corrupção e decadência ao seu adversário... algo que parecia que ia durar até o Apocalipse final, tinha-se volatilizado como um mal sonho da noite para o dia... Se verdadeiramente fossem ensinados os ciclos anímicos da História nas escolas, e não só os fatos e seus episódios, o povo planetário desenvolveria um maior sentido do humor e levaria muito menos à sério aos fanáticos. 
Saí à horta que rodeava minha cabana e colhi todo quanto ananás no seu ponto encontrei, para dar um humilde banquete de agradecimiento e celebração aos mensageiros de tão grande notícia, a única verdadeiramente importante que tinha chegado a mim desde minha aterrissagem em América do Sul, seis anos antes. 

33- AS REDES DA ILUSÃO

Aquilo fez-me meditar muito sobre as redes de ilusão que influencian nossa visão da vida; não se falava de meu país na imprensa ou na TV brasileira, espelho de mediocridades, como não fosse para comentar as bombas que tinham colocado os terroristas da ETA no País Basco ou em Madri, de tal maneira que para qualquer desconhecedor da situação real, soava como se Espanha estivesse quase à beira da guerra civil e numa situação de ordem e segurança pública totalmente caótica; quando, em realidade naquele momento se estava convertendo no país mais livre, democrático e moderno da Europa, e onde com maior qualidade real de vida e mais em paz se vivia, apesar do progressivo desgaste e corrupção do governo reeleito imperante, do desemprego oficial e do desencanto do povo em frente às expetativas com que confiaram nos socialistas, como se hoje em dia um governo pudesse fazer sua própria política, sem contar com a pressão dos intereses dominantes na comunidade internaçãoal que lhe rodeia. 
Algo semelhante ocorria na imprensa ou TV espanhola com respeito ao Brasil; o "Correio das Más Notícias" fomentava, em primeiro lugar, a desconfiança do ser humano em si mesmo; apoós disso, nos demais e, por fim, no mundo inteiro... morbo ante a palha no olho alheio, víciosa deletação ante o escândalo, expectação ante o negativo, cinismo, imprensa amarela... os meios de manipulação de massas, que só consideravam vendíveis as notícias sórdidas, unicamente falavam do Brasil para sujar sua imagem com sensacionalistas e noxents reportagens sobre a degradação e matança dos menores abandonados nas ruas das megápolis; o qual não era mentira, mas tão só uma ínfima parte da verdade e a outra face, a mais sombria, de um dos países do mundo onde as crianças são mais amadas e consideradas e onde o povo, muitos milhões de boas pessoas, apesar da injustíssima distribuição da riqueza, possui por natureza a maior sabedoria social -ou Arte de Saber Viver em alegre, aberta, pacífica e carinhosa harmonia interna e externa- de que eu tenha dados em todo o planeta. Não há pessoa sã que conheça o Brasil e suas gentes e não os acabe amando. 
Quando nos himnarios do Santo Daime os participantes visualizávamos o corpo astral da Terra absolutamente contaminado pelas mais escuras vibrações e trabalhávamos até o amanhecer bombardeando aquela ingente fumaça de poluição psíquica com nossas melhores vibrações de Amor solidario e cooperador, Consciência de Unidade, Beleza, Paz e Liberdade, resumidas na firmeza guerreira e no entusiasmo com que semeávamos a noite de hinos sagrados, estava claro ante minha miração que a parte mais asqueante do dragão astral que a negatividade da humanidade doente emanara durante o dia, tinha sido fundamentalmente gerada pelas formas- pensamento procedentes dos mass-média, somadas ao impacto pessimista e resignadamente morboso (ou já insensivelmente indiferente) que suas imagens produziam nas mentes de seus milhões de leitores ou telespectadores, as quais não podiam, inconsciêntemente, fazer outra coisa que se juntar no astral para elaborar um projeto mental apocalíptico, que conduz à Humanidade para sua autodestrucção por pura Magia Negra de autosugestão negativa. 
Vocês tem ouvido ou lido sobre o assassinato Vudú em Haiti? Pois ele parte das mesmas premisas: Quando um feiticeiro quer eliminar a alguém, faz chegar àde sua casa uma série de signos rituais que lhe informam -e a toda sua comunidade- de que está sendo atacado magicamente. Isso rompe imediato a estabilidade emocional do agredido e abre suas defesas psíquicas; todos seus familiares e vizinhos entram em pânico também e fugem dele, como se fuge de alguém sobre quem tem caído a peste da má sorte. 
Se a pessoa não tem uma gigantesca firmeza interna para proteger seu ânimo com bom humor, concentração de sua atenção em algo construtivo e fé total e comunicante com seus aliados angélicos e divinais, a autosugestão negativa acaba por penetrar nele, por lhe amargurar a vida e somatizar, isto é, convertendo-se o que era um vírus astral ou emocional numa verdadeira doença física ou em algum tipo de loucura paranoica que, finalmente, pode chegar-lhe a causar um dano mortal. 
Cumpre-se assim o objetivo do bruxo assassino, quem o único que fez, realmente, fué contaminar de informação negativa o meio psíquico de sua vítima; que é a mesmo manipulação à que dedicam diariamente todo seu esforço e seus poderosos meios humanos e tecnológicos, bem consciênte ou inconsciêntemente, a maioria das empresas de informação mundiais. 
"Quem não ama, contamina o médio ambiente"

-León Octavio Osorno-

No final do Segundo Milênio em que, por pura necessidade de sobrevivência, se pôs de moda a Ecología e as jovens gerações tomaram a bandeira da denúncia de todo aquilo que degrada o planeta, ninguém parece estar ainda suficiêntemente conscienciado de que o que mais o degrada, não são as fumaças dos motores, os vertidos químicos em rios e mares, as guerras ou os incêndios de bosques, que são só as folhas e os galhos da Árvore da Corrupção, senão o pensamento negativo da Humanidade, que é seu tronco; e, nas raízes do tronco, a manipulação desse pensamento pelos meios de comunicação de massas prostituídos ao serviço da fofoca mais degradadora e morbosa, da mediocridade vergonhenta, do lucro desconsiderado e irresponsable de uns quantos grupos de pressão que cultivan o envilecimento dos valores humanos, como método para converter ao cidadão num consumidor mais fácil de dirigir, mais alienado, mais passivo e mais idiota... 
Transmutemos suas raízes, contenhamos os julgamentos que emitimos sem amor sobre os demais, construamos ao Homem em nós mesmos em lugar de viver nos queixando do mal que vai o mundo, e a Árvore da Morte convertera-se na Árvore da Vida e da feliz autorealização do Planeta. Exijamos a conscienciação das raízes sobre o poder do Verbo e o bom uso das Leis de Criação. Essas raízes são Os PROFISSIONAIS DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO E SUA RESPONSABILIDADE para com todos os demais cidadãos; porque de nada adianta andar podando periodicamente os galhos; se as raízes continuan envenenadas, poda-las só conseguirá produzir frutos de degradação aindamais resistentes e poderosos. 
Há demasiado tempo que nossas consciências são em grande parte controladas por manipuladores sem escrúpulos, Forças Involutivas tanto do Plano Físico como do Astral, que cimentan seu poder na descrência na potencialidade divina do homem, ao mesmo tempo que exhaltan as suas energias de medo, de desconfiança e de limitação, as quais fazem engolir à Humanidade quatro a seis vezes ao dia, e de esta minusvalía provocada por sugestão que eles se lucran e se alimentam. 
Todo o sistema social chamado "normal" que nos rodeia está baseado no medo, na desinformação ou na informação manipulada; o Estado surgiu como um pacto social motivado pelo medo; o medo faz que nossos impostos paguem um funcionariado improdutivo cada vez maior, uma burocrâcia que só tem como justificativa de sua existência nosso temor a autogovernar-nos, a auto- administrarnos, a aprender a nos curar por nós mesmos, a auto-protegernos e nos cuidar; o medo tem criado as classes sociais, o racismo, as cárceres, os manicomios, as inquisições, as cidades superpovoadas, as fronteiras, os muros, os partidos, a polícia, os exércitos, as guerras... imagina-te todo quanto desaparecerá da nossa vista quando todos vivamos -e não está longe esse amanhecer-, nos sentindo todos UM para valer. 
Entretanto, melhor que uma indesejável censura que possa servir de pretexto aos manipuladores de consciências para coartar ainda mais a mínima liberdade de expressão que temos com muito esforço conseguido... trabalhemos, cada um a sua maneira, por formar a todas as crianças em geral desde as Escolas, e aos futuros profissionais da comunicação em suas Faculdades, já sejam jornalistas, escritores, artistas, músicos, informáticos, cientistas, sociólogos, políticos... na concienciação responsável e cuidadosa do imenso poder da Imaginação ou Verbo Humano para o bem ou para o mau; e de sua importantísima influência específica sobre a construção do Paradigma Coletivo. 
Crer é criar; não crer, com apaixoamento, é criar em si mesmo aquilo que se nega. Conheçamos as Leis de Manifestação, e usemos-lhas para o bem de todos.

Na miração, eu visualizava às vezes ao "Correio das Más Notícias" como um gigantesco volvo negro que ateaçava até quase o estrangulamento ao Planeta Azul; só as energias de sentida autoconfiança positiva em nós mesmos, na vida e na Humanidade e o reconhecimento da justiça daquela sombra acumulada, energías luminosas que lançávamos toda a noite sobre a atmosfera astral com nossos hinos, unidos ás do resto dos seres orantes da Terra, conseguiam dissolvé-la e difuminá-la temporariamente... ATENÇÃO: Precisam-se voluntários para unir-se ao Bom Combate. 
Porém, cuidado com cair em tendências apocalípticas escapistas ou reacionárias: Existem muitas seitas e grupos de supostos lutadores pela Nova Era, que perdem a maior parte de sua energia construtiva em viver se queixando, denostando ou atacando ao velho mundo, com o qual recaem nas mesmas atitudes agressivas, negativas e intransigentes de seu inimigo, tornando-se igual a ele. 
Pior ainda é a postura daqueles "espiritualistas" que têm perdido de tal maneira sua fé na capacidade de renovação do espírito humano, isto é, de Deus na Hierarquía, na Humanidade e no indivíduo, bem como a compaixão por seus irmãos e a responsabilidade pelo poder de suas projeções mentais -que conhecem muito bem-, e que vivem contaminando o mental e o astral do planeta com um programa igual de morboso que o dos mass-média sensacionalistas, emitindo continuamente -e até de forma sinérgica e ritual- uma solução de futuro que passa pela salvação de uns quantos eleitos vestidos de branco, que serão evacuados pela frota de naves extraterrestres ou angélicas, como em uma nova Arca de Noé, enquanto as outras três quartas partes da Humanidade obtêm o castigo a sua maldade sendo destruídas pela guerra global, a fome, as inundações e, por fim, o fogo do subsolo, que se converterá assim em seu inferno... Quando todo isso tenha ocorrido, as naves os devolverão à Terra silênciosa e desértica, onde por fim poderão ser felizes, cultivando alfaces e tomates no ermo, ainda fumegante e calcinado, enquanto cantam hinos sagrados, satisfeitos de não ter já ao redor a vizinhos molestos e profanos que pensem e atuem de maneira diferente à deles. 
"O estado mental que mais precisa de guia, de iluminação e de amor é o daqueles que vêem o tempo todo aos demais seres humanos como um rebanho de pobres pecadores desorientados, precisados de guia, de iluminación, de amor, e de perdão."

Thaddeus Golas

A realidade material em que vivemos é sempre a colheita da imagem do mundo que anteriormente temos semeado no plano mental e regado no astral com nossa sentida emocionalidad. Cada quem merece o que sonha: Os meios de comunicação e os apocalípticos catastrofistas de qualquer tipo podem chegar a ser uma arma mil vezes mas perigosa que todo o arsenal atômico mundial, sobretudo agora, que os avanços cibernéticos nos achegam a uma cada vez mais sensitiva Realidade Virtual ...Vocês imaginam a alguém como Adolf Hitler -que também era um apocalíptico- dirigindo um monopólio televisivo ou controlando uma rede mundial de alta tecnologia em realidade virtual servida por Internet? 
... E não haverá um mundo descontaminado, lúcido, livre e em progresso real até que os homens e mulheres de boa vontade da Terra exijam e conquistem seu direito, tanto a não ser manipulados psicologicamente pelos grupos de pressão acaparadores das grandes correntes informativas, como a um acesso igualitario, responsável e descentralizado aos Mass-Média -os avanços técnicos o estão fazendo cada dia mais factível-, e a sua utilização construtiva e consciênte como alimento são, harmonizador e elevador da mente social global, para a evolução positiva integral da Humanidade. 
No entanto, o homem não será completamente Livre (com maiúscula) enquanto sua informação só provenha de fora, dos parciais interesses de outros, por médio de aparelhos e redes de comunicação desenhados pela indústria e o comércio com o principal fim de lucrar-se, de sugar sua energia emocional ou de construir opinião a sua medida. 
É necessário que aprendamos a desenganchar-nos do Correio das Más Notícias para que possamos nos ligar –por méio da oração, a mantralização e o serviço abnegado- com a única Fonte Veraz de Informação Cósmica e permanecer nela com o coração aberto, levantando para isso em nossa fronte a antena capaz de sintonizar com o ilimitado Canal Do Amor, cujo diretor é nosso Mestre Interno.


34- EFEITO SELVA

Quando mais tarde eu descrevía tudo aquilo com um estado de consciência completamente racional e urbano, parecía-me profanar minha experiência; parecía-me que não tinha nada a ver com ela. Como quase não teve nada a ver tomar Ayahuasca, tempo após deixar a selva, em Rio Branco, Brasília ou Rio de Janeiro ou Mallorca, apesar do sincero entusiasmo de meus companheiros templários, os guerreiros e guerreiras daimistas, e da excelente direção dos comandantes e comandantas de sessão. 
Por fora do seu contexto real e do contorno terapêutico adequado, sem o contínuo revigoramento físico do trabalho disciplinado e duro no mato, sem a comunicação etérica íntima e mágica com as poderossísimas energias puras dos espíritos da floresta no Coração do Mundo, sem a inmersão emocional no sentimento de um povo livre que se desenvolvia espontaneamente em seu próprio sonho épico em realização; longe do contato mental com os autênticos Homens da Selva e sua cultura, e carente da comunhão espiritual com terapeutas titulados por uma sabedoria da talha do Padrinho Sebastião... aquilo foi-se convertendo para mim quase como um ritual escapista qualquer, no méio da agitada vida laboral e social da urbe, cada vez mais próximo ao hábito rotineiro. 
Porque existe algo que só posso denominar “EFEITO SELVA", que eleva ao máximo nossa sensibilidade; sair da Amazônia produziu em mim uma espécie de saudade profunda e insatisfação, parecida ao famoso "síndrome do astronauta", que padecía quem ficava incapaz de se libertar de sua saudade do espaço e de se adaptar de novo à   prosaica Terra. De tal modo que acabei por não mais tomar Daime. Quando uma querida amiga me reprochou por ter deixado tão grande Mestre e medicina, respondi-lhe, com o maior amor, que um discípulo digno de um grande Mestre tem que demonstrar que o é, renunciando finalmente a seu apoio e saindo a praticar os altos vôos aprendidos com suas próprias asas, por sua conta e risco e em solitario. E que a melhor medicina só prova sua eficácia quando o paciênte que a tomava deixa de tomá-la, porque já se sente são. 
De qualquer jeito, para mim, o Santo Daime vai muito além do rito de ingestión da Bebida de Poder, que é só a primeira porta a uma maior percepção. Os ensinos de sua Doutrina e o exemplo de seus guerreiros e amazonas, como todos os de meus outros Mestres, vivem incorporados em mim e me guiam (quando me deixo guiar) pelos mais claros rumos. 
Um de meus maiores prazeres continua sendo me reunir com vários irmãos e irmãs para cantar hinos ou mantrams ou orar; de fato, todo o melhor que sinto, penso, digo, escrevo, pinto, faço, é um contínuo hino à mágica beleza da Vida Cósmica, que me mantém tão pleno como intensa e serenamente apaixoado dela. 
Nesta vida só importa seguir concentradamente o Caminho-Coração que a nossa Alma sente que deve escolher em cada momento. A minha, após abrir-se graças aos ensinos de Carlos Pacini e do Santo Daime, já encontrou cursos superiores da Escola Evolutiva que seguir cursando. Por isso não tenho saudade por regressar a Mapiá algun dia, nem tenho curiosidade para inteirar-me pessoalmente de como evoluiu a Comunidade depois da morte do Padrinho, ainda que seria gostoso passar um tempo com Chico Correntes ou com quem aparecer, e talvez saudar de novo, olhando-os de frente desde adentro, aos guardiães astrais dos lugares onde tive as experiências mais intensas da minha vida… Sem saudade nemhuma, porque a maioria dos meus Guias que tinham estado dentro de mim desde sempre, continuam estando aí e me levando a mais altas aventuras espirituais cada día, graças a Deus.
Porém, não cabe dúvida de que a Amazônia, o Povo de Juramidám e a Ayahuasca nos brindaram (a mim e às minhas relações invisíveis) a maior oportunidade para conhecer-nos intimamente e compartilhar extraordinários momentos juntos. Muito gratos por tudo isso. Esse agradecimento é a razão deste livro.

A morada do meu Pai
é no Coração do Mundo,
onde existe todo ou Amor
e tem um segredo profundo.

Este segredo profundo
está em toda a Humanidade,
se todos se conhecerem
aqui dentro da Verdade...

(Hino do Santo Daime)

Que vosso Feminino Interno, se sois homens, ou vosso Mestre Interior, se sois mulheres, guiem-vos também pelos caminhos da Síntese e o autodescobrimento. 
Porque a Identidade Real que os estereótipos fantasmais do ego ocultam a nossa percepção, e que se adivinha na raiz das potências dos arquétipos subconsciêntes da nossa imaginación, nossas visões e nossos sonhos, é a mesma para todos nós: 
A do Filho, o Espírito Consciênte da Humanidade Planetária, o Verbo Encarnado, o Intimo, o Cristo Cósmico que somos quando Somos.

Boa viagem, irmão, irmã caminhante.
AQUELE ABRAÇO.



35- CONCLUSSÃO

Refletindo sobre as qüestões fundamentais: 
1-A vida é um Jogo no que o Ser Cósmico se experimenta a Si Mesmo através das experiências vivenciais das infinitas personagens que representa. 
2- Cada experiência é válida em si mesma para o Ser e neutra, ainda que lhe pareça positiva ou negativa, feliz ou frustrante, boa ou má, virtude ou pecado, àquela unidade individualizada de Sua Consciência que a experimenta sentida e vivencialmente. 
3- O Ser com maiúscula -chamemos-lhe assim, para nos entender- se manifesta e se realiza com cada experiência. Sua personagem individualizada, ademais -chamemos-lhe o ser com minúscula ou a Mónada, ainda que lembrando que ela é uma pura parte do Mesmo-, aprende algo com essa vivência e evolui para um maior grau individual de consciência. 
4- Involução e evolução são, para o Ser, simples elementos de seu jogo; cada vez que Ele deseja montar um novo cenário para Seu Jogo, faz que suas personagens involuam, isto é, se auto-limiten, rodeando-se de dificuldades, obstáculos e sombras dentro e fora de si mesmas, com o qual, ademais, perdem a lembrança de Quem São em realidade, e com ela, toda a omnisapiência e omnipotência do Ser. 
5- Evolução significa que, a partir dessa ignorância e limitação iniciais, os seres, através das infinitas vivências e experiências, vão tratando de superar ou sortear suas limitações, acumulando com isso sabedoria e potência até que, um dia, auto-lembram-se de Si, de forma integral e entranhável. Aí, seu absoluto convencimiento evidente devolve-lhes sua Identidade Divina, sua omnisapiência e sua omnipotência eternas. 
6- Chamaremos transformação à cada vez que os seres, como conseqüência de suas aprendizagens vivenciais em confronto com seus obstáculos, conseguem ampliar sua consciência para além de seus limites anteriores. A transformação pode ser grande ou pequena, sempre é parcial e nunca integral, e pode ser bastante duradoura ou breve, retornando neste último caso o sujeito a níveis de consciência inferiores aos que atingiu durante ela. 
7- Chamamos Iluminação, segundo o que ensinam as tradições orientais, ao único tipo de transformação que não é parcial nem temporário, senão integral, constante e tão irreversível como quando o menino se converte em garoto: A energia vital, por fim dirigida consciêntemente pela vontade, depois de uma longa prática, vai ascendendo de chakra em chakra, ativando-os.
O sexto chakra é um órgão não físico, espiritual, que está situado no corpo sutil em correspondência com o plexo que há entre as sobrancelhas; quando a energia vital chega até ele e o ativa, diluen-se as ilusões individualistas e separatistas do ego e percebe-se claramente a unicidade divina que há em tudo; sente-se, de uma maneira integral, nossa unificação amorosa com tudo, e são sentidos o passado, o presente e o futuro desde a omniabrangente perspectiva do aqui e agora eterno do Ser que somos, e que sempre temos sido, ainda que estivéssemos cegos a tão espléndida realidade, por causa da contração de nossa energia-consciência na baixíssima onda do egocentrismo, a separatividade, o desamor e o medo.

Na Era anterior, que já está finiquitando, Podia-se elevar a energia vital consciênte até o sexto chakra e ativá-lo com um bom orgasmo sexual tántrico ou com um bem canalizado trance, produzido por ingestião de plantas de poder. Em ambos casos abria-se um portal interdimensional, mas só de uma maneira flutuante, em vislumbres, sem que tenha um bom assentamento nem fixação de nossa consciência sobre uma estrutura energético-mental suficiêntemente sólida como para agüentar esse tremendo aumento da voltagem durante muito tempo (sem que se esquenten os cabos e se funda a ordem mental).

O fortalecimiento das vias sutís de percepção, para que elas se convertam em veículo seguro e constante dessa poderosísima energia, diziam os Mestres orientais, só se conseguia através de uma prática constante do yoga meditativo: e tão só após que todos os veículos do meditador tinham sido convertidos em perfeitos canais da mais alta das energias, podía-se acessar à evidência constante de que ele é O SER MESMO.

Este AUTOCONHECER-SE, no qual se desterra para sempre a dúvida, junto com sua corte de limitações, não se adquire por vislumbres de autolembrança, senão por perfeita disponibilidade de todas as potências do Ser, quando por fim podem ser utilizadas (dentro da medida humana) por um conjunto corpo-mental adequado. Esta evidência integral e constante funde ao sujeito com sua Autoidentificação Real até a medula dos ossos; o qual, mais que o transformar, o transmuta. 
8- À vista do previamente exposto, é claro para mim que todo quanto se descreveu neste livro são métodos, formas e instrumentos da era anterior, que provocam indudáveis transformações, parciais, graduais e sempre temporárias. Algumas destas transformações experienciais, como as produzidas na autopercepção pelo Santo Daime, podem chegar a ser até muito potentes, e a nos fazer avançar bastante no caminho, mas nenhuma delas produz, por si mesma, a definitiva Iluminação, meta fundamental da evolução humana (ainda que a tão desejada Iluminação só seja uma porta ao seguinte degrau das eternas evoluções supra-humanas do Ser). 
9- As substâncias psicoactivas enteógenas mal servem para uma coisa: mostrar-nos, durante um tempo limitado, uma freqüência de onda na qual a nossa mente, uma vez purificada, pode vibrar dentro da maior integração harmónica com todos os seres, em unicidade e plenitude. Conhecer essa freqüência é importante: indica-nos o objetivo que devemos atingir. Mas, em minha opinião, é um caminho de ilusão mais tentar manter-se nessa onda a base, exclusivamente, de ingestião freqüente de psicoactivos externos. O que deve-se fazer é potenciar o maior psicoactivo interno, que está, continuamente e sem custo, a disposição de todos nós: a prática real do Amor Incondicional Universal ...e aplicá-lo constantemente, convertendo nossa vida quotidiana em puro serviço abnegado. Nunca as circunstancias cósmicas foram tam propícias para essa grande mudança como neste momento. 
10- As vias chamánicas que utilizam plantas de poder, se fossem autênticas, nunca fazem da ingestião contínua de substâncias psicoactivas seu principal objetivo: As substâncias são um méio, um despertador, uma medicina potenciadora, e jamais um fim. O fim é chegar a expandir tanto a própria consciência a base de pequenas transformações, que o sujeito consiga viver na onda do amor universal e a unicidade sem necessidade de mais muletas. De fato, no Mapiá que conhecí, tanto os chamãs indígenas como os Padrinhos e Madrinhas do Daime precisavam cada vez menor quantidade da Bebida de Poder para entrar em trance, até que só comungavam uns pinguinhos como símbolo sacramental. Estas vias auto-cognitivas, ademais, estão sempre respaldadas por uma sólida doutrina e disciplina comunitária de vida. É altamente recomendável conhecê-las dentro de seu contexto original, uma comunidade fraternal inserida na natureza virgen, que é nossa maior escola de sensibilidade e realidade. 
11- Seja simples ou intensa nossa aventura vital individual, parece ser que a Iluminação encontra-se além da mera acumulação de experiências, aprendizagens e transformações. Não se conquista, chega, simplesmente, quando o servidor da Luz desapegou-se e já abandonou toda ansiedade, inclusive a de transcender. È então que se encontra realmente preparado para a receber. 
12- Por conseguinte, busque cada qual, segundo seu caráter e tendências, sua própria maneira de experimentar a vida mais ou menos intensamente, para se transformar em aquilo que lhe interessa, que há um método ou uma via para cada ser dentro da infinita abundância universal, e todas elas podem ser tão corretas e válidas como relativas... Mas ninguém espere de nenhum método a Iluminação definitiva, que talvez chegará por si sozinha inesperadamente, como Santa Graça, no dia em que seja capaz de caminhar de forma espontánea por si mesmo uns metros além de onde se acabaram os últimos métodos e experiências, sem sequer estar mais pensando em se iluminar.



Manuel Castelín

Villamaga de Vigo, Galiza, Espanha, Maio 1992.
Revisado e ampliado em Villamaga de Palma,
Ilha de Mallorca, Espanha 1996-97
Traduzido a Português e remodelado em Vilamágica da Chapada,
Arca do Tempo, Portal da Baléia, Alto Paraíso de Goiás, Brasil 2011.
ANEXOS PARA ESTUDIOSOS
1- INFORMAÇÃO BIOQUÍMICA

Como dados puramente botánicos e químicos, segundo o Professor Antonio Escohotado -entre outras coisas, um dos grandes experientes mundiais em psicodelia-, em seu estupendo livro "Aprendendo das drogas" , a Ayahuasca, também chamada Hoasca, Yajé, Caapi, Marirí, Dap'a, Mihi, Kahi, Natema, Kamarampi, Pildé ou Pindé e outros muitos nomes... é uma mistura bem cozinhada de uma grande liana da selva -tão grossa e comprida como aquelas que Tarzão usava para se deslocar nos filmes- e algum outro aditivo vegetal. O cipó, que entre o povo do Santo Daime se chama Jagube e em latin científico "Banisteriopsis Caapi", contém -como a Yohimbina, a Rauwolfia e a Peganum Harmala mediterránea-, IMAOS, ou seja, alcaloides beta-carbonílicos inhibidores da monoamino- oxidasa naturais e antagonistas da serotonina ou 5-hidroxitriptamina, tais como harmina, tetrahidro-harmina ou harmalina, e uma série de bases relacionadas, estimulantes antidepressivos do tom vital, que a sabedoria ancestral indígena soube complementar e potenciar com extratos de outras plantas da selva. 
O aditivo usado pelos daimistas é conhecido com os nomes de Rainha, Chacrona, ou "Psychotria Viridis", mas sabe-se que os índios e outros ayahuasqueiros chegam a misturar com a liana Banisteriosis Caapi até quase uma centena de plantas pertencentes a 38 famílias vegetais diferentes, que foram catalogadas por diversos investigadores como recipentes de Dimetiltriptamina (DMT), uma substância altamente visionaria, mas que unicamente pode injectarse ou se fumar, e cujos efeitos só durariam um máximo de dez minutos, se não fosse por sua combinação com os IMAOS do Jagube.

De que maneira o chegariam os índios a descobrir? mediante uma arriscada experimentação coletiva de séculos, ou por revelações dos seus guias astrais? ...esta acertada combinação não somente permite-lhe ser bebida, senão ademais, prolongar bastante tempo seu efeito e reduzir muito a brusquedade de seu impacto psíquico, com uma toxicidade mínima e uma eficácia máxima, pelo que a Administração Brasileira não tem encontrado justificativas suficiêntes até agora -ainda que não deixou de fazer suas tentativas-, para a fazer figurar na lista de drogas controladas ou proibidas; proibição que somente serviria para facilitar o enriquecimento das máfias que explodem a fascinação do ser humano por todo aquilo ao que não tem fácil acesso.

Os Daimistas diziam que o Jagube dá a força e a Chacrona a luz, e os consideravam respetivamente como elementos masculino e feminino de uma alquimia que tinha que ser elaborada separadamente por homens e mulheres até sua síntese na cozinhada do Feitío. Uma mistura habitual vem a conter 40 miligramos de IMAO por 25 miligramos de DMT.
Para comparar, 200 ou 300 miligramos de IMAOS artificiais (ou seja, umas sete vezes mais, e muito tóxicos), são as doses habituais que os psiquiatras ocidentais costumam administrar diariamente a seus paciêntes depressivos para os manter mais ou menos inconsciêntes de suas angústias existenciais, que bem sabemos que não são outra coisa que os chamados apremiantes do seu corpomente e da sua alma para que paciênte por-se a examinar que é o que precisa mudar na sua vida para achar nela o lugar e missão que sua Mónada o Eu Superior, ou Espírito Individual escolheu realizar antes de reencarnar.
A maioria destes psiquiatras consideram um mau inevitável a somnolencia letárgica, fadiga permanente, baixada de defesas, acumulação de resíduos não assimilados no organismo, incompatibilidade com grande numero de alimentos e muitos outros custosíssimos efeitos secundários, derivados de sua grande toxicidad, em troca de aliviar os sintomas externos da angústia que aqueixa a seus paciêntes... e muito poucos professionais abordam seriamente o duro trabalho de mergulhar ao fundo do subsconsciênte do deprimido, em busca do reconhecimento e remoção consciênte das CAUSAS de sua depressão crônica (o lixo psíquico acumulado que distrae, vela e estagna o destino da alma), como obriga a fazer o Daime a seus ingestores desde as primeiras tomadas... Em lugar de combater o mau na sua raiz, dedicam-se a ir podando, simplesmente, suas folhas externas, com o que têm paciênte para para toda a vida.

Quanto à substância visionaria contida na Chacrona, diz o Professor Escohotado que ela atinge uma margem de segurança tão alto que os cientistas nem conhecem sequer dose letal para os seres humanos. Também não pode produzir dependência física, nem os angustiosos e desesperantes "síndromes de abstinencia " que geram muitas drogas estimulantes ou sedantes quando se deixam de tomar.

A maioria do peso de uma planta visionária está formado por pura água, celulosa, hidratos de carbono, proteínas, gorduras, sais minerales, pigmentos... tão só um por mil dela são verdadeiros princípios psicoactivos. Por essa razão os químicos isolam esta parte mínima e fazem-na cristalizar. Uma vez cristalizados os elementos puros que lhes interessam, faz-se possível os reproduzir em laboratório, isto é, sintetizá-los. Foi assim como Albert Hofmann obteve o alucinógeno de desenho mais potente que existía até agora: o LSD, ou dietilamida do ácido lisérgico, que é o princípio psicoactivo do fungo chamado Ergot ou Chifrinho do Centeio, planta que, sem dúvida, tinha um papel muito importante nos Mistérios Iniciáticos que os antigos gregos celebravam perto de Atenas, no famosíssimo Templo de Eléusis dedicado a Démeter, deusa padroeira dos cereais.

A vantagem de um preparado sintético é que não sabe tão mau como a maioria das plantas e que não há perigo de introduzir nada nele que cause efeitos não desejados, além de que se pode medir a dose exata que se ingere, única maneira de experimentar cientificamente com ela. Uma dose mínima de concentrado puro em pó ou pílula pode produzir o duplo do efeito que produz algo que vai misturado com muitos elementos diferentes, os quais o corpo tem que separar e metabolizar, com considerável despesa de energia.

Ficaria por ver se estamos-nos perdendo algo verdadeiramente importante quando eliminamos o resto da planta porque os analistas não souberam encontrar-lhe utilidade visionaria; uma pincelada laranja aparece mais intensa ante nossas percepções se rodeada de azuis ou verdes, que se isolada das outras cores, ainda que não tenham parentesco com seu tom. Ademais uma planta é um ser vivo com um espírito elemental, que é quem verdadeiramente pode influenciar o nosso, e não só simples compoentes matéricos isolados do seu invólucro físico.
Os químicos não têm achado princípios psicoactivos nas samambaias (avencas) nem no muérdago, mas um dos aditivos que alguns índios amazônicos acrescentam sempre, não sabemos por que, à Banisteriopsis Caapi ao fazer sua bebida de poder, são os avencas Lygodium Tenustum e Lomariopsis Japurensis, bem como Prhygylanthus Eugenioides, que pertence à família do muérdago, aquela planta que os druídas celtas cortavam com foice de ouro e a maior cerimônia, depois de subir nas carbalheiras sagradas.

As PLANTAS DE PODER são assim chamadas porque sua ingestião exerce uma ação tão poderosa sobre nossa consciência habitual que, practicamente, muda ou transmuta toda a nossa vibração. Que é o que faz que os produtos metabólicos nitrogenados das plantas que têm propriedades alcalinas (alcaloides) produçam esse impresionante efeito?... Pois parece ser que a estrutura química dos alcaloides vegetais é muito semelhante, ou idêntica, a nível molecular e atômico, à dos hormônios que segrega nosso corpo para que façam o papel de inibidores ou transmissores de impulsos e códigos de informação entre os neurônios de nosso cérebro.

Para explicá-lo de uma maneira muito singela, parcial e simplista: imagina-te que te encontras em uma situação não habitual que te obriga a fazer um esforço para acordar mais do teu letargo rotineiro: alguém te ataca, ou teu carro fica de repente sem fréios, ou te apaixoas... imediatamente o corpo reage pondo-se a lançar ao torrente sangüíneo (sem parar-se sequer um segundo a consultar qual é a vontade do ego que oficialmente   governa nesse momento sobre o conjunto de teu organismo), quantidades extras de hormônios cerebrais (serotonina e adrenalina, por exemplo), que facilitem uma comunicação mais rápida, coordenada e eficiênte dos neurônios encarregados de se enfrentar com a situação nova que está se produzindo, dando preferência à ação das áreas mais intuitivas e lúcidas e fechando os portais daquelas outras que precisam de muita despesa de energia e tempo e cálculo intelectual para tomar decisões que, sem dúvida, estariam viciadas pelos preconceitos do ego pensante, suas dúvidas, seus medos e suas vacilações.

Bom, pois resulta que quando tu tomas um alcaloide que contém umas substâncias que, a nível estrutural, são practicamente idênticas à serotonina e adrenalina do teu organismo, estes psicoactivadores actuam igual que eles: ignoram ou adormecem, ou enloquecem, ao ego racional controlador e deixam sair ao Eu Intuitivo com toda sua lucidez holística e purificadora. Com o ego controlador neutralizado, a sensibilidade geral agudiça-se e o Supraconsciênte, o Consciênte e o Subconsciênte de nosso Ser fazem-se um, o Um Multidimensional que sempre foram e que, simplesmente, não podia se expressar com fluidez porque o ego se empenhava em separá-los para adaptar tudo a seus esquemas prefabricados e compartimentados, aqueles que ele podia controlar sem demasiado esforço, dentro de uma visão do mundo muito limitada pelo encadenamento ao voo vital a rente da terra, dentro de seus hábitos mentais materialistas e archi-conhecidos.

Naturalmente, o que acontece é algo bem mais amplo, e em nosso estado de “consciência contraída" habitual ou “consciencia egoica”, quase não temos perspectiva para compreendé-lo: as ondas cerebrais predominantes em esse estado que chamamos "normal" de consciência "desperta", passam a ser substituídas por outras que normalmente só usamos nos momentos em que sonhamos, em aqueles nos que estamos criando ou nos que estamos amando com todo nosso ser: estados de “alta atenção integral”, não contraída nem dispersa, senão expandida e concentrada.

Isso significa que, nesses momentos, o Ser está funcionando livremente, através de um espírito criativo e incontrolável que Ele pode canalizar sem travas aqui e agora, depois de ter limpado e apurado seus canais, os quais podem então perceber o mundo como se o mundo fosse novo para nossas percepções (fazer-se como crianças, para entrar no Reino dos Ceus).
Conseguir se manter neste estado de maneira permanente, é a meta de toda espiritualidade, e melhor ainda, se não fossem necessãrias as muletas químicas nem as mentais. Tanto as plantas de poder como as crências cegas só permitem visões e sensações temporárias dessa altísima freqüência, mas nunca assentamentos constantes nem definitivos nela.
2- A QUESTÃO ÉTICA

Não se deve confundir moral e ética: o primeiro termo, latino, significa costume, o código de costumes e normas de comportamento, e definição de “normalidade”que uma determinada sociedade aceita e impõe aos seus cidadãos… ou seja, preconceitos sociais. O segundo termo, grego, significa toda uma libre e corajosa procura pessoal e interna sobre o que tem ou não tem valor e dignidade para nossa alma e nossa evolução espiritual.
Estudemos se pode ser ético e válido um atalho para a espiritualidade, no qual se usam plantas de poder. Naquele momento, há vinte anos, eu pensaba, que quem opina que não o é, está bem em seu direito buscar outros caminhos que, pessoalmente lhe pareçam mais puros ou meritórios (porém, sem descalificar as livres escolhas de ninguém).
... Ainda que, tal como está de distraída e alienada a Humanidade, a espiritualidade sem muletas (oração, mantralização, contemplação, meditação e serviço amoroso abnegado) me parece, e me sigue parecendo, inatinguível para a imensa maioria.
Quem está obçecado pelas aparentes terríveis limitações que rodeiam a condição humana, acha que todas as coisas importantes têm de ser obtidas tão só através de um enorme e sofrido esforço.

Como nosso pensamento, aquilo no qual acreditamos, cria nosso mundo, se tu o acreditas assim, terás que fazer realmente grandes sacrifícios para chegar ao alto de tí mesmo. Quando o consigas, após ter escalado o bico pela parte vertical, pendurado do precipício, talvez te encontrarás na cume com aqueles que têm chegado lá, subindo em menos da metade de tempo, pela escadaría confortáve que havia pelo outro lado, os quais talvez te felicitarão por tua façanha esportiva, mas sem dúvida têm chegado antes que tu a onde queriam, e o estão desfrutando igual, ainda que sabem que não vão ficar a viver no cume.

Diz Thaddeus Golas: "À iluminação não está nem aí, com respeito à maneira em que você chegou a ela". E também diz: "Iluminação é toda experiência de ampliação da consciência para além de seus atuais limites".

...Porém, os Mestres realizados de Oriente fazem qüestão de que uma verdadeira iluminação é constante e definitiva (ao menos para esta encarnação), e não uma curta e brusca flutuação desde nossas ondas mais baixas à uma olhada ao degrau seguinte da alta escada da consciência, para, em menos de três ou quatro horas, ir voltando abaixo, cheio de saudade.
No momento atual, eu pensó da mesma maneira, o bom sería viver permanentemente na Luz, e não andar acendendo e apagando, como vagalume, tal como é a vivência habital das chamadas “boas pessoas” …ou da mayoría dos tomadores de Ayahuasca, na vida comúm.
Eu sei que uma Espiritualidade sem apagões exige uma corajosa renovação quotidiana da consagração que se fez como Servidor da Luz, não acredito mais em iluminação que dura toda a vida (a menos que a gente morra justo após dela)… se tivermos que seguir vivendo neste mundo de ilusão. Como Jesús dizia: “Santo só é Deus e o justo peca sete vezes ao dia”.
Com tudo, ainda que na atualidade prefira seguir tentando o camino místico de oração, mantralização, contemplação, meditação e serviço amoroso abnegado (em companhia de uma comunidade bem organizada, creadora de Novos Paradigmas e bem ligada com a Hierarquia, que propície 24 horas ao dia a focalização nessa espiritualidade sem muletas químicas)…sería um ingrato com o Santo Daime, se não reconhecesse que ele foi o Portal pelo que passei a descubrir e obter a sentida evidência da realidade do Mundo Espiritual, vinhendo do materialismo pseudo-científico do mundo común em que a maioria encontra-se empantanada.
Por isso continuo a traduzir este livro, porque penso que, por pouco que esta Medicinha desperté, é, sem sombra de dúvida, o mais potente despertador que existe, para a maioría de zombis que povoam o sistema (inclusive para os que se gaban de ser rebeldes ao mesmo) e, quem sabe, uma vez iniciado o Caminho da Luz com esas muletas, os mais fortes poderão um día deixar elas a um lado com agradecimento, e tentar seguí-lo sobre seus próprios pés, confiando no Poder Superior que descobriron usando-as.

A ingestião de psicoactivos dentro de um contexto sagrado tem sido uma via utilizada pela Humanidade desde a Prehistória para que qualquer possa comprovar que nossas energias sutís são uma realidade, que expandiendo a freqüência vibratoria de nossas energias estas tornam-se enormemente mais consciêntes, e que aquilo do que uma consciência expandida nos fala é, essencialmente, a respeito do amor de todos por todos e da imensa lucidez, sabedoria e bem-estar que tal tipo de amor produz em quem o vive.

Nossa mente está conformada por um enorme número de consciências elementares que passam o tempo brigando entre si, se contradizendo, tratando cada um deles de fazer-se com o poder de dirigir o conjunto. Essa anarquía interior é um bom reflexo da desarmonía desconjuntada na que encontra-se nosso mundo exterior, a sociedade humana, com suas contínuas lutas entre indivíduos, fações e países, e viciversa.

Os psicoactivos, sempre que devidamente ingeridos num contexto sagrado, conseguem que todos esses egos subconsciêntes se aceitem, se ponham a dialogar entre si de uma maneira que o consciênte capta como clara reflexão intuitiva, minimizm suas diferenças, consigam chegar a algum tipo de acordo e adiantem ao sujeito, em menos de duas horas e em virtude de sua harmonia, a experiência entranhável e sensível de Unidade Interior, de Totalidade e de Integração com Tudo, a qual é demasiado intensa para ninguém a esqueçar.

Bem é verdade que tal experiência não tem sido mais que um vislumbre efêmero de Unificação, bem é verdade que não foi possível manter-se nela mais que um momento, porém, em adiante, ainda que o sujeito retornar a cair em freqüências quotidianas mais baixas, ele estará motivado a procurar viver em estados de vibração expandida, em lugar de contraída, e acabará descobrindo, se é inteligente, que a maneira melhor de propicia-los, ainda melhor, que voltar a tomar uma e outra vez psicoactivos de ação efêmera, é... ENTREGAR-SE APAIXOADAMENTE AO AMOR UNIVERSAL, a via de elevação que experimentou-se como a mais verdadeira, segura e direta, durante todos os trances.

Qual é a outra alternativa ou o passo seguinte ao descobrimento químico das Realidades espirituais? A Mística Clássica: ascetismo, liberação do supérfluo, desapego das ilusões materiais e da vida convencional, familia inclusive, renuncia a projetos e conquistas pessoais e a toda competição, retiro a um lugar onde seja possível se concentrar, bem individual ou comunitariamente, em permanecer ligado com a alma e com a Irmandade dos Seres Divinos sem distrações, oração, mantralização, orden monástica, silêncio oral e mental, jejúm (sobre tudo, de julgamentos, de preconceitose focalizações no pasado ou no futuro, de desejos vulgares, de crítica, de queixas, de palavras inecesárias, de fenómenos psíquicos e de toda ambição ou expectativa de resultados, até de resultados de elevação espiritual), purificação, contemplação, meditação… e, imprescindível, serviço amoroso e abnegado, com alegría ou seme la, aos necessitados de todos os reinos, junto à paciente e constante construção de novos paradigmas para um Novo Mundo mais elevado durante o resto da vida, com a certeza de que é preferível sofreer ou perder o corpo físico, antes que renegar do pacto evolutivo realizado pela alma ante nossas sete Mónadas ou ante Deus que as habita com Sua Luz.
Eu demorei até os 61 anos para poder amadurecer o suficiente como para escolher com gosto essa via. Há 20 anos, ainda não estaba preparado, ansiava sempre descubrir, comprobar e fazer as coisas já; e as plantas de poder deram-me essa imediatez que eu pedia. Só depois compreendí que aqueles poderes eran poderes de vagalume, mas isso me fez um ardente aspirante a convertir-me em digno instrumento do Poder que jamais apaga, o Poder de Deus sem muletas.

Entretanto, aquele primeiro degrau iniciático que o Santo Daime me forneceu em 1989, não foi uma iluminação integral, nem profunda, nem constante, mas, pelo menos, agora posso imaginar o que significa iluminar-se: tal conceito deixou de ser uma entelequia o uma crença para se converter num objetivo que me interessa…E não mais pelo fenómeno, não mais pelas sensações, que já as viví com a Ayahuasca, senão pela abençoada conexão com à Pura Essencia do Divino.
Esse é, pois, o sentido dessa primeira etapa da Escala Inicial Humana onde as plantas de poder te despertam do letargo comúm e te instruem: fazer-te sentir, com evidência sensível, o que é que viemos a atingir nesta Escola da Vida. Depois disso, repotenciados por esse estímulo, temos que ser guerreiros bastante para nos propor aceder a degraus superiores sem mais medicinas.

Os animais e a Humanidade vêm usando estimulantes psicoactivos enteógenos (enteógeno significa "viver a experiência de sentir a Deus dentro de um") desde que o mundo é mundo para se purgar, se curar, vigorizar-se, se inspirar ou ter um vislumbre da alta vibração de consciência expandida, para a quual todos os seres tendem naturalmente. A ninguém parece-lhe mau que um yogui realize um jejúm prolongado que produzirá, junto com exercícios respiratórios de aumento rápido da seu oxigenação cerebral, uma alteração psicoquímica no seu metabolismo …que não se diferenciaría muito do efeito que causa a ingestião de drogas parecidas, na sua estrutura, aos inibidores ou estimuladores naturais do cérebro.

De forma semelhante atuam algumas febres, por exemplo a malária, na qual padecem-se fortes alucinações. Mas nem o yogui vai iluminar-se só por comer vegetais ou jejuar ou enfebrecer, nem o daimista vai conseguir a “Seidade” ou “ATO DE SER O SER” que conquistou o Padrinho Sebastião Mota…com só beber Ayahuasca cada dia; faz falta, ademais, um consciênte trabalho quotidiano com a consciencia e o serviço aos demais, como o que ele teve constantemente… E isso não precisa ser um sacrificio. A contínua auto-correção e conexão, quanto mais serenas e desdramatizadas melhor; junto a um amor universal em permanente ação misericordiosa e desapegada... o que inclui, também desapegarse também da sobérba espiritual ou do orgulho do "eleito" que escolhe se realizar de uma maneira mais meritoria, estranha e difícil que a dos demais.

Todos chegaremos lá acima, ao Mais Alto, irmãos e irmãs, a iluminação não é só coisa de Cristos e Budas, ninguém vai ficar sem seu êxtase tarde ou cedo, porque a tendência a se unificar com Tudo está contida em nosso programa evolutivo eterno, de uma forma tão natural como a tendência a crescer após a infância, ainda que alguns estimulem um crescimento maior jogando ao basquete... Caminhemos, sem pressa e sem perder o tempo, cada um a seu ritmo e a sua maneira, e que todos muito o desfrutem.

PORÉM, ATENÇÃO: Aquele que acha que tem milhares de encarnações por adiante para conseguí-lo, e que, por tanto, pode se dedicar a, simplesmente, coçar o umbrigo em esta, poderia se encontrar, em sua próxima manifestação sobre o Plano Físico, que sua consciência eterna não siga caminhando a partir das facilidades evolutivas com que terminou a atual, senão que séu meio ambiente de aprendizagem retrocedeu muitíssimos passos para atrás em qualidade.

A Natureza é nossa grande professora; observa um frutal: milhares de flores, mas só uns centos delas conseguem desenvolver frutos. Ao cabo, vem um vento e xoga ao chão flores e frutos. Há muitas flores que portam em si a semente de sua transformação em uma futura árvore, mas é claro que nem elas nem os frutos que caíram ao solo demasiado verdes terão as possibilidades que tem aquele fruto que cai o suficiênte maduro para que sua polpa nutra à semente durante o delicado período de sua germinação, arraigo e primeiro crescimento.

Bom, pois, é não se esquecer de madurar o próprio fruto... caso contrário, a semente pode apodrecer sem germinar ...e teria que recomeçar outra enorme evolução desde o princípio: desde o Reino Mineral... ou talvez consiga germinar, mas para se desenvolver raquítica e fraca, em sua nova vida, por falta de nutrintes.

Em todas as tradições tribais, avós do que hoje são as orgulhosas sociedades civilizadas, iniciou-se aos aspirantes a guerreiros, depois de demonstrados seus valores de jovens adultos, no contato com os aliados astrais da tribo e no autodescobrimento energético das dimensões invisíveis, abrindo suas percepções por médio de alcaloides sagrados ou outras substâncias enteógenas.

Não existe uma sóla cultura importante no planeta que não tenha conformado as raízes de suas cosmogonías ancestrais em um período tribal de grande integração com a natureza, há mais de cinco mil anos que se usam plantas de poder para entrar em contato mental com os arquétipos divinais que formam as matrizes do Programa Evolutivo no subconsciênte coletivo de toda a Humanidade; os arquetipos sempre têm sido os mesmos, mas cada grupo humano trazia-os a uma forma material venerável, os revestindo de suas próprias concepções éticas e estèticas: Sempre o homem criou a seus deuses a sua imagem e semelhança.

E não só isso: uma vez criados seus mitos específicos, cada sociedade humana construía toda sua organização cultural em torno deles, bem como seus valores essenciais, religiões, leis e costumes. Todo o mundo que temos construído, incluída a sociedade tecnológica atual, é produto das visões de nossos ancestrais, depois da ingestión ritual de alguma planta ou fruta, fungo, cactus, infusão ou vinho mágico.

Busquemos pistas na própria mitología sumerio-judeo-cristã: Que classe de fruto seria o que assinalou o Grande Tentador (com uma maliciosa proibição) a nossos mais remotos ancestrais no paraíso da Natureza Virgen (ou talvez da Lemúria ou Atlantis), para que se animassem a ir a fundo no Grande Jogo da Involução pre-Evolutiva (densificação do espírito e formação de invólucros físicos de distintos sexos para ele), mudando sua consciência de pura unificação por uma consciência dual e um sentimento de separação e culpa? Somos a conseqüência da embriaguez de Noé depois de sua entusiasta celebração por ter sobrevivido ao Diluvio? Por que a ingestião de um pedacinho de pão e um pouco de vinho é o sacramento mais importante do Cristianismo?

Remeto a quem tenha interesse ao livro de Antonio Escohotado antes citado, e a outro seu, em três volumes, titulado "História das Drogas"; também ao de Josep María Fericgla "Ao trasluz da Ayahuasca" , no quual se esboça uma interessante hipótese sobre como as substâncias enteógenas estão na base de toda formação de culturas. Por minha parte, não tenho preconceitos contra as Plantas de Poder, se usadas sacralmente, de forma sensata e positiva, isto é, para ajudar a acordar do sonho profundo no que quase sempre nos mantêm submergidos a legión de elementares que conformam nosso ego, e para Auto-religarnos com nosso Eu Autêntico dentro de um respeitoso ritual.

Em minha geração tem havido muita gente que só atua seguindo critérios externos impostos pela moda; assim, quando pusseram-se de moda o naturismo, as medicinas alternativas e o ecologismo, houvve muitas mentes fanáticas e elitistas às que lhes parecia um pecado social ou, quanto menos, uma cafonice, tratar uma infeção com antibióticos ou usar um tractor numa comunidade alternativa em lugar de carroças de bois, como nossos avôs. No entanto, quando todos os remédios tradicionais falhiram, os antibióticos salvaram suas vidas; e seguro que se eles precisassem viajar a outro continente, utilizariam um avião, e não uma caravela.
As plantas de poder, acompanhadas por seu corpo filosófico e vital e, sobretudo, por uma intenção re- ligadora com os Arquétipos espirituais de cada cultura, são uma medicina e uma terapia equilibradora, didática e orientativa, encaminhada a nos re-dirigir a nosso destino fundamental quando estamos muito doentes e perdidos, não são um objetivo nem um fim em si mesmas.

Eu não tenho antipatías preconcebidas contra as plantas psicoactivas, nem contra os antibióticos nem contra a tecnologia moderna; e não os tenho porque os conheço, e sei que são tão neutros, naturais e úteis como o é o fogo, quando usados por uma mão prudente. Igual que o fogo, também podem servir para destruir ou autodestruir-se, mas isso já não depende do método, senão da atitude e a inteligência de quem os usa.

Quem tem amor, moderação, força de vontade e consciência, tem liberdade real, porque sabe como a usar; todo quanto foi criado é bom e está a nossa disposição; só de nossa atitude e de nosso grau de responsabilidade, correta intenção e prudência ao usá-lo, depende se fazemos com isso magia branca ou negra.

Sou consciênte dos tremendos preconceitos que desata uma postura favorável para o livre alvedrío no uso ou não de plantas de poder e, muito freqüentemente, as pessoas às que confiei sinceramente a minha postura, deixaram de me ver como me viam antes, para projetar a partir de então sobre minha pessoa a imagem popular estereotipada do drogadicto insalvável.

De pouco serviu que eu desse todo tempo exemplo de comportamento moderado e de mente clara e consciênte, trabalhadora e cabal; a etiqueta de vicioso era mais fácil ou divertida de julgar e considerar que, simplesmente, observar à pessoa; com o qual, inclusive indivíduos bem degradados pelo abuso do álcool se sentiam mais virtuosos que eu, e até com direito a me condenar como delinqüente, pelo simples fato de que o álcool é uma droga oficialmente tolerada, enquanto algumas das plantas psicoactivas das que falo neste livro ainda não têm sido socialmente aceitadas, e nem sequer estudadas de maneira profunda, experiencial e imparcial pelos pesquisadores.

Estaria muito bem que os Estados formassem, considerassem e tratassem aos cidadãos verdadeiramente adultos como adultos, ao igual que os Conselhos Tribais fazem; e não que continuem nos mantendo em uma eterna minoria de idade, entregada à tutela e ao arbitrio dos "experientes" oficializados, que geralmente têm sobre estes assuntos um conhecimento mais teórico que prático, quando não se limitam a servir descaradamente, sem a menor oposição, as diretrizes emanadas daqueles que preferem tratar a seus administrados como um rebanho estúpido de consumidores aletargados, masificados e dóceis a sua influência; isto é, como seres infra- evoluídos em seu potencial humano, porém, facilmente governables e manipuláveis...

... E com respeito às drogas visionarias, não há magia negra pior nem mais hipócrita que as proibir oficialmente em nome da moral e previdência pública, para poder se enriquecer vendendo-as clandestinamente e adulteradas, por vinte, trinta, quarenta vezes seu valor no mercado negro. Demassiado com freqüência, quem faz a lei, faz a armadilha. 

3- PARA PREVENIR:

Aparte dos típicos riscos de vício ou dependência psicosomática, ou de envenenar-se por sobredose (o que converte aos estimulantes em depressores ou em verdadeiros venenos), ou por juntar-lhes álcool (isso sim que pode ser mortal), ou outros estimulantes, ou por consumí-los com demassiada freqüência... (conseqüências da inmoderação e os excessos de quem experimenta sem um mínimo de maturidade emocional ou de um guia experiente), dois são os principais perigos das substâncias especificamente visionárias:

-O PRIMEIRO PERIGO implica-o o derrube dos esquemas prefabricados de falsas suposições e julgamentos sobre os que se assenta nossa estabilidade psíquica, isto é, a personalidade, a máscara, o ego, a "Boa Imagem" que paciêntemente temos fabricado a base de autoocultar-nos o que menos gostamos de nós mesmos e de presumir contínua e exageradamente daquilo do que nos gabamos.

a Ayahuasca, como também os fungos Psilocibes, a Mescalina do Peyote, o cactus Sampedro ou São Pedro e (dizem, eu nunca os provei) a Amanita Muscaria, o Ergot ou Chifrinho do Centeio, e outras plantas visionãrias tradiçãoalmente usadas como sagradas por muitas culturas, (além do sintético, ainda que excelente LSD), desmontam de vez, assim que fazem efeito (se corretamente acompanhados de um ritual de séria e sentida invocação à Luz Divina), todo quanto não tem base na sua mente… e submergem você na loucura mais lúcida -um redemoinho de códigos mentais pre-racionais vertiginosamente caótico, sem nenhuma referência estável- até que você encontra. em suas profundezas, uma rocha segura à qual se asir, rocha que não pode ser outra (não há outra), que sua Identidade Real, o Ser Autêntico Espiritual e Cósmico que você eternamente tem sido.

Este Ser é tão real que ninguém deveria deixá-lo de sentir, mas desde a sua adolescencia, você -como todos nós- tem-se esmerado em enterrá-lo baixo toneladas de máscaras ocas com as que preferiu se identificar, fortemente influenciado por uma programação social que tem estabelecido como paradigma de “normalidade" a mais fácil, baixa e comúm das alienações psíquicas: o Materialismo, ainda que tratando de moderar sua voracidade autodestrutiva, facilitando no mesmo pacote ao povão certas doses de moral religiosa ou ética cidadã tradicionais, encaminhadas a mantê-lo tranqüilo, consolado, moderado em suas ambições e, sobretudo, conformista com as diretrizes dos membros da minoria dominante, para quem tudo está permitido, enquanto saibam guardar as aparências elegantemente.

MUITA ATENÇÃO: As plantas sagradas de poder visionário, enteógenos, nas que jamais se perde a consciência desperta, senão que se intensifica, NÃO devem-se confundir, nem de longe, com os alucinógenos da família das solanáceas psicoactivas, tais como as daturas, a mandrágora, o belenho, a alface silvestre e a beladona, bem como as brugmansias andinas (borrachero), que, além de ser muito tóxicas, submergem você em uma viagem tão inconsciênte que muito facilmente esquece que tem tomado um alterador psíquico. Um amigo meu tomou faz muitos anos na ilha canária de Tenerife, um chá de Datura Extramonio, e seus acompanhantes tivemos que recorrer a todas nossas dotes de convencimento para disuadir-lhe de pegar seu carro e lançar-se às estradas caminho da sua casa, o qual teria podido ser mortal para ele e para outros; nosso amigo estava seguro de que aquele chá não lhe tinha feito o menor efeito e estava aborrecido, mas havia passado toda a meia hora anterior tentando colocar uma fita cassette no prato do toca- discos.

Em Colômbia, a Escopolamina contida em uma solanácea arvórea da família das daturas, chamada “Borrachero”, tem sido empregada por alguns delinqüentes para dobregar as vontades de suas vítimas, até o ponto de que as chegavam a acompanhar a seu banco, onde lhes faziam assinar cheques através dos quais desvalijavan o conteúdo de toda sua conta impunemente. Após ser drogada por um simples bombóm ou bala de concentrado, ou pelo conteúdo de um spray fumigado ante sua nariz, a vítima perdia sua clareça mental e, tampouco lembrava mais tarde de nada de quanto tinha-lhe acontecido.

O Tabaco Rústico usado pelos chamães amerindios em seus ritos, nada tem a ver com o que se comercializa em Ocidente em forma de cigarros ou cigarrilhos; é um verdadeiro modificador do estado da consciência: não qualquer substância tem poder para fazer que os espíritos de antigos inimigos mortais sintam-se de novo irmanados após fumar juntos o Cachimbo da Paz.

As plantas visionárias sagradas, enteógenos, bem diferentes dos alucinógenos, produzem, além de uma mudança da freqüência cerebral predominante e de uma hiperactivação dos neurotransmisores, um grande aumento da oxigenação do cérebro (como perseguem, também, as práticas profundas do Kundalini Yoga e da Meditação Dinâmica, mediante inspirações ou exercícios acelerados), o qual ativa o despertar, a expansão emocional e vibracional, a lucidez múltipla e o afloramento à consciência de todos os conteúdos da mente, em uma zarabanda de inconexas imagens novas, aparecendo e desaparecendo a toda velocidade ante um olho interno que ficou sem marcos reconhecíveis de ordem e medida, já que todos estavam monopolizados pelo ego lógico, que foi o primeiro em se desintegrar ao começar a aceleração.

Se nesse momento não tens um mínimo desenvolvimento espiritual que te permita invocar a teu Núcleo Sólido Eterno, bem podes perder na loucura e quando, por fim, a droga remeta em seus efeitos, e a memória de tua ego volte a montar o edifício de teus esquemas rutinarios habituais, não seria estranho que ficasses sofrendo o temor subsconsciênte de estar vivendo apoiado em uma ideia do mundo absolutamente frágil, que qualquer vento emoçãoal pode jogar de novo por terra no momento menos oportuno, e se instalando em tí a paranoia ou a angústia existencial, até que te voltes realmente louco em tua confusão, sem asidero possível, ou até que comeces, por pura necessidade, a buscar o Autêntico de tí mesmo.

Pelo contrário, se tem tido um desenvolvimento espiritual em tí, mas não o suficiêntemente aberto e infinito, profundo e holístico, senão encajonado e limitado pela fijação fanática e supersticiosa a uma visão religiosa muito parcial, a seu estilo, sua linguagem e seus símbolos -o de fora-, é possível que fiques mais preso ainda ao símbolo envolvente e a tua seita, te fazendo, depois de tua experiência, mais fanático e mais supersticioso ainda.

Já que, ao não estar tu vislumbrando realmente a Essência Invisível que subyace depois dos símbolos de estabilidade aos que te agarraste para ordenar teu caos, senão que estás tão só olhando a casca que a envolve e lhe dá forma mental, -neste caso as imagens ou símbolos com os que tua crença escolhida representa a essa Essência (Que é universal e não sectaria)- pode ser que interpretes falsamente a solidez da Essência, a qual intuyes mas não vês, como prova subjetiva, mas evidente, da autenticidade do símbolo sectario que a revestia em tua mente, e que sim vês.

Não poucos furibundos profetas têm nascido de experiências semelhantes, que depois têm dedicado o resto de sua vida a impor sua "Verdade Unica" ao mundo, com absoluta intolerância para quem cultúa a mesma Essência, mas usando diferentes imagens, nomes, descrições ou símbolos.

-O SEGUNDO PERIGO das drogas visionárias não reside tanto na substância mesma, senão no ambiente no qual habitualmente se tomam: Quem fá-lo tão só dentro do espaço cerimonial e doutrinal de uma seita exclusivista, acaba por tornar-se facilmente manipulável por seus dirigentes ou pelo "que dirão" ou pela pressão de ghrupo de seus correligionários.

O Daime, por exemplo, fazia-nos muito sensíveis emocionalmente e muito impressionáveis, o qual provocava que os guerreiros ou guerreiras de nível cultural e crítico baixo, que podiam confundir a qualquer hierarca simplesmente político do Povo de Juramidám com um Mestre de Sabedoria, acusassem como “barra pesada” e profundo depressor qualquer chamado superficial à ordem ou qualquer sermão de um dirigente por motivos puramente regulamentares -e havia algún deles que erão muito pouco delicados em suas expressões- os mais fanátizados sentiam, nesses momentos, como se o mesmo Deus dos Exércitos tivesse baixado, furioso, a reprender-lhes.

Isto forçava comportamentos cegamente gregários e seguidistas, os quais, a sua vez -círculo vicioso- propiciavam o encumbramento de egos ditatoriais ávidos de poder sobre o submetimento masoquista dos assustados, quem tinham que jogar mão, para manter tão espúreo tipo de autoridade, a injectar maior medo por sugestão, maior superstição e maior censura, em nome, ademais, do Céu; todo o qual matava de dor ao Padrinho Sebastião naquela época e envenenava gradualmente o ambiente social da comunidade, a qual, durante a minha estancia em 1989-(outros visitantes, talvez mais puros que eu, só viam maravilhas-), ia-se sentindo mais e mais inquisitorial e seitária, o que desfigurava, inclusive, a sacralidade de algumas sessões de Daime, que não poucas vezes convertiam-se em um castigo psicológico coletivo para purgar uma falta contra a autoridade temporária, por causa da má vibração introduzida nas mentes dos participantes pelo sermão culpabilizador do dirigente, desencadeado justo quando começava a Força a se elevar.

Tais comportamentos desconsiderados e egocéntricos -felizmente, próprios de uma minoria de pequenos hierarcas ainda pouco polidos- me pareciam pura magia negra, mas foi, na verdade, fora do Povo de Juramidám, em Rio Branco, onde assisti aos maiores abusos e jogos bruxís de tentativa de domínio psicológico sobre as mentes hiper-sensibilizadas dos ayahuasqueiros; havendo tido, inclusive, que me defender, com todas minhas forças psíquicas, durante duas horas, do ataque telepático de alguém que me tinha convidado a uma ingestião na sua casa, e que, ainda que externamente não parava de falar, expondo vadias elucubrações filosóficas, estaba-me dirigindo, subliminarmente, uma landainha rítmica de messagens hipnóticas impositivas que eu captava no meu subconsciênte, e que eram tão poderosos que só pude me separar deles, concentrando toda minha atenção em desenhar na parede com um lápiz, enquanto ele seguia me falando, uma imagem sagrada da Virgem-Mãe a cuja Essencia (para meu sentimento, benéfica e protetora) pudesse minha mente se prender. Com tudo, passei os dois dias seguintes com a sensação de que tinha esgotado a metade de minha energia no combate psíquico não declarado contra o incógnito vampiro.

Acho que tem ficado claro, pelo exposto até agora, que o maior potencial de uma planta de poder, um enteógeno visionario, consiste em desmontar de uma todos os falsos esquemas mentais, positivos ou negativos, que a específica cultura na que nascemos nos meteu na cabeça durante nossa criança e educação (a fim de que nossas aspirações e nosso comportamento na vida se correspondessem com aquilo que constitui o canon ou modelo de “normalidade" aceitável como conveniente por essa cultura)... e colocar-nos, de repente, ante um vazio criador no qual podemos dialogar diretamente, além da dualidade e das imperfeitas categorias do pensamento lógico, com a Fonte Primordial de todas as culturas.

Esta Fonte de Luz que aparece em nosso interior quando dilui-se todo o que não era senão pensamento programado (e alheio, por não intimamente compreendido em suas causas)... não é outra coisa que o Ser Humanidade mesmo, o Gênio Subconsciênte Coletivo, o Espírito da Espécie Humana, o Regente das nossas Mónadas, que reside no mais elevado e profundo do subconsciênte individual de cada ser do Universo Humano.

A partir do silencioso diálogo interno com Sua arquetípica linguagem de imagens míticas, hinos e intuições, intensamente sentidas por nós como evidentes e confiáveis (já que nos sentimos desvelados e revelados, polidos, instruídos, aconselhados e confortados por algo que o coração CONHECE como O Amor Mesmo), podemos estructurar de novo todas nossas concepções mentais de uma forma mais lúcida, autêntica e personalizada.

O qual, ainda que não poderemos evitar re-traduzir essas descobertas subconsciêntes a termos explicativos extraídos de nosso antigo condiçãoamento cultural, sem dúvida suporá um ativo e pessoal avanço de nossa consciência (ainda que relativo), em relação com seu passivo e alienado estado anterior.

Nossa Identidade Maior, o Ser Humanidade ou Regente Monádico da Espécie Humana da Superfície da Terra, é uma altísima consciência intimamente ligada a sua própria Identidade Maior, o Ser Planetario ou Logos Regente da Terra, e este, a sua vez, ao Regente do Sistema Solar, e este ao Regente de vários sistemas, e este ao da Galaxia que chamamos Via Láctea; e assim sucessivamente, em uma Hierarquia Universal da Consciência que acostumamos tão só imaginar em uns poucos elos de uma corrente espiral infinita, formada por todos os seres do Cosmos, sendo cada um deles uma consciência mais ou menos autônoma (segundo o alcance de seus percepções e capacidade de livre ação) que se ocupa de animar e fazer evoluir sua própria parcela de influência vibratória.

O conjunto de todas as consciências dos múltiplos Universos funcionando interconetadas, conforma a Consciência Cósmica, o que é o mesmo que dizer que Deus é a inter-relação dinâmica e viva de todos os Seres Divinos, já que habita, ao mesmo tempo, no núcleo sutil de cada um deles e no conjunto, que Sua Vontade mantém coêrente, apesar de sua impensável diversidade.

Como é no Macrocosmos, é no Microcosmos, e se observamos aquilo que temos mais perto, nosso próprio corpo-mente, depois de ingerir um enteógeno, descobriremos facilmente como nossa "personalidade individual" é também um pequeno universo de consciências elementares mais ou menos autônomas e com freqüência conflituantes entre si, mas concatenadas em hierarquias e mantidas cohesas por uma invisível vontade de evolução positiva que rege o núcleo de cada uma delas… e o conjunto.

Isto é, pela Centelha Divina que anima cada ser denso ou sutil, desde a Célula até a Galáxia, desde o mais ínfimo elementar até o Arcanjo, passando pelo que chamamos o Homem, que é um bom exemplo de como todo o Universo está contido em potencial em cada uma de suas partes, tal como em uma semente contem-se a floresta.

A semente do que hoje é a orgulhosa Civilização Ocidental, que tem a firme ambição de se converter em modelo aglutinador da Civilização A Cortiça Terrestre em nosso tempo, foi seguramente esboçada em algum remoto passado pelas visões de algum recoletor de alimentos tribal, talvez uma mulher, e provavelmente após ter ingerido, "por acaso" algum psicotrópico natural que pôs a sua mente primitiva (acostumada a tão só reagir instintiva e passivamente aos condiçãoamentos do meio), em disposição de receber consciêntemente revelações de sua Divinidade Interna… com o qual passou a se converter em um canal original de produção ativa de cultura, sobretudo desde o momento em que passou a beneficiar a sua comunidade com as descobertas derivadas de sua recente lucidez.

Durante muitos séculos, enquanto os nossos ancestrais ainda viviam em pequenos grupos independentes, integrados em um ambiênte bem natural, que abastecia a todos por igual, o conhecimento mágico assim descoberto foi patrimônio de todos, e qualquer um podia entrar em contato direto com a Fonte Reveladora de seu interior, sem intermediários nem intérpretes, tão só ingerindo a substância da Planta de Poder. Assim tem sido até hoje entre os povos silvícolas, ainda que todos os amazônicos lembram um tempo mítico em que as mulheres quisseram monopolizar o uso dos enteógenos, o que acabou dando pretexto para que, na maioria das tribos, os homens se rebelassem, submetessem à mulher e, por contra, estabelecessem o monopólio exclusivo do patriarcado sobre o uso dos meios para entrar em trance interdimensional.

No momento em que surgiu qualquer classe de exclusivismo em relação ao controle dos meios para entrar em contato com Um Mesmo, e Nossas Relações Astrais, surgiu a Magia Negra. Mago Negro é qualquer mulher ou homem que trata de utilizar o maior poder do que dispomos, que é o de conexão com os Seres Divinos, em benefício exclusivo, bem individual ou da própria família, clã, partido ou classe social, assim como fazendo dele instrumento de manipulação e dominação do resto das pessoas circundantes.

Desse exclusivismo egoísta surgiram todas as teocrácias (regidas por uma restrita classe sacerdotal, aliada aos chefes guerreiros mais poderosos), as quais criaram as grandes civilizações coletivas nos diversos lugares do mundo onde as condições ambientais eram tão duras que os homens não tiveram outra chance, para sobreviver, que se agrupar em organizações numerosas, complexas e hierarquizadas.

Naturalmente, os sacerdotes e guerreiros ocupavam os graus hierárquicos mais altos e assinalavam ao resto da comunidade, em nome e en temor de Deus, o canon de “normalidade" e os objetivos e condicionantes que mais convinham ao seu bem-estar e à perpetuação do seu poder como classe dominante.

Para defender seu monopólio, a classe sacerdotal acabou por declarar ilegal e nocivo o livre uso de enteógenos (salvo secretamente entre seus graus hierárquicos mais altos, no seio de exclusivos Colégios Mistéricos e Iniciáticos), assim como por silenciar ou eliminar aos anciões que ainda sabiam reconhecé-los, elaborá-los e usa-los …e também se acusou de bruxaría e perseguiu àqueles cidadãos de a pé amponeses ou que ainda conseguiam encontrar as plantas sagradas, consumí-las, se curar da alienação geral e, mais grave delito ainda, que até tentavam curar a outros da “normalidade” imposta.

E igualmente foram apedreados ou queimados, como perigosos hereges, todos aqueles que chegavam a elaborar em sua mente um modelo evolutivo que não se correspondía com o da hierarquia dominante e que ousavam tentar comunicá-lo aos demais.

No entanto, como os modelos de “normalidade" dominantes estavam viciados em sua base, tarde ou cedo acabavam por arrastar a toda a comunidade ao conflito permanente, interno e externo, e à infelicidade. Mas como o Espírito da Humanidade não admite estagnamentos em sua dinâmica evolução, sempre acabava por inspirar a um pastor de ovelhas ou cabras ou camelos de alma honesta e pura e de coração cheio de firmeza, para que, no alto de uma montanha ou no deserto, abrisse de novo suas percepções à Fonte Interna e Inspiradora de novos paradigmas.

Isto acontecia, já por médio de um psicoactivo que aparecia "casualmente" como alimento, ou mediante sonhos visionários que, após desmontar toda a estructuração manipulada na que foi criado o sujeito, a re- estructuravam, ajustando-a às Verdades Universais reveladas pelos Seres Divinos desde seu Plano Arquetípico subconsciênte.

Assim surgiram os grandes profetas reformadores das antigas religiões, que, por muito puros que fossem, nunca puderam evitar que suas revelações fossem, inclusive antes deles morrerem, manipuladas por seus seguidores e adaptadas, como ideais e valores culturais, aos interesses de uma nova hierarquia sacerdotal e aristocrácia dominante.

Estude-se, por exemplo, no que se converteu a mensagem de Cristo e dos mártires em tempos de Constantino, Justiniano e dos primeiros papas romanos. A Humanidade avança incontenível para sua realização dentro do plano Evolutivo marcado pelas Mónadas da Espêcie, mas sempre fortificando sua firmeza transformadora, ante a resistência oferecida pelo mar de lama dos seguidores do ultrapassado.

Talvez o Espírito Regente consente o predomínio dos corruptos e dos magos negros porque, quanto maiores são os obstáculos que eles colocam, maior é o salto para adiante da Espécie toda quando seus pioneiros conseguem superá-los.

Qualquer pessoa inteligente pode aplicar este desenvolvimento até o dia de hoje, e entender como seguem sendo os interesses de controle das classes dominantes em nossa "democrática" Sociedade Ocidental os que seguem assinalando (com pretextos arbitrários e sem estudos imparciais que respaldem seus anatemas), como malditos e espúreos... ou viciosos e delinqüentes, a todos os que se atrevem a buscar vias eficiêntes, imediatas e acesíveis a qualquer um, de conexão pessoal e direta com a Fonte Interna Original, através de Plantas Sagradas; ainda que essa elite possa tolerar sistemas místicos e yóguicos porque sabem que só uns poucos conseguirão, com muitíssimo tempo e esforço, obter resultados dessa maneira, e que esses poucos são bem mais fáceis de controlar que as multidões.

Todos estes argumentos que me permito dar em favor da liberdade auto-exploratória, não deixam de considerar que os enteógenos são instrumentos poderosísimos de cognição que, irresponsavelmente utilizados, podem desestructurar os velhos esquemas de muitas pessoas pouco amadurecidas e deixá-las penduradas em uma insegurança total sobre si mesmos, por falta de uma base sólida sobre a que se re-estructurar. Este costuma ser o caso daqueles que se lançam a uma viagem psicodélica sem preparar sua psique nem o ambiente, e sem outro objetivo que curiosear e se divertir com novas sensações e fenómenos.

Pior ainda é encontrar-se com uma seita de magos negros que manipulam tua re-estruturação sobre cauces que se dirigem a criar em ti, ante ti mismo, um compromisso de obediência cega aos seus postulados e aos seus hierarcas. Lemba sempre, irmã, irmão, que você toma uma planta de poder para poder consultar com seu próprio Mestre Interno sem intermediários, e que ninguém tem o direito de se proclamar ou converter em seu infalível intérprete.

Assim, é recomendável sair correndo de todos aqueles círculos onde teu coração e tua cabeça intuam excessivo paternalismo, ou sacralização egoica do dirigente, falta de transparência entre a cúpula retora e a base, exclusivismo ou irrespeito a outras vias de conhecimento, dogmatismo, fanatismo, tentativas de controle sobre a ideologia e a vida privada dos membros, interesse econômico, político ou sexual.

A melhor das doutrinas pode falhir, à hora de aplicar-se, por carências dos seres humanos que a aplicam, e se converter em um sistema opressivo; de tal modo que se há de observar muito bem às pessoas com as que um joga jogos tão íntimos como o de despir a própria mente; “por suas obras os conheceredes”, mas não demoreis muito tempo em usar vossa discriminação.

TAMBÉM SÃO UM PERIGO os elementos negligentes ou torpes que existem até na melhor das comunidades de crescimento interno: Em Mapiá, durante a alquimia do Feitío, os guerreiros veteranos estavam continuamente vigiando que os novatos não fossem cometer o menor erro de ritual e, às vezes, podiam parecer excessivamente duros em suas reconvenções... Porém, tempo depois, já de volta a Rio Branco, onde existem muitas Igrejas nas que se sincretizam cristianismo e enteógenos, tive ocasião de compreender e aprovar o seu marcial nível de rigorosa exigência, ao experimentar uma "viagem" horrível, produzida pela ingestión de ayahuasca no templo de outra Igreja que não cuidava nem a disciplina, nem a perfecção ritual, nem a limpeza, tão pontilhosamente como os seguidores do Padrinho Sebastião.

…Já que o Daime é uma espécie de catalizador mental, um filme fotográfico em brancoo, onde se imprimem todos os pensamentos e sentimentos das duas equipes participantes em sua elaboração. Se elas conseguiam manter uma boa harmonia durante o Feitío, essa harmonia impregnaría posteriormente as sessões de ingestião da beberragem; mas, se criavam-se conflitos e tensões entre os participantes –e abundaban os carateres primitivamente sobêrbos, machistas e competitivos- …e estes, em lugar de vibrações de amor e de contato espiritual, impregnaban à neutra Ayahuasca com seus ódios, rancores, invejas e lutas de poder …teríamos depois tormentosas sessões, nas quais, o Mestre Juramidám colocaria ante nosso olho astral um espelho onde se refletisse cruamente o horror de nossos demônios interiores, os mesmos que correspondiam-se com as más energias que os elaboradores tinham deixado, negligentemente, que contaminassem a mistura.

Tomavamos um copinho de Daime, nos santiguando previamente, uma vez cada duas horas, durante o Feitío. Aquilo fazia que a gente estivesse se projetando astralmente quase o tempo todo, com mirações fortíssimas que, às vezes desdobravam nossa consciência e levavam nosso corpo etérico bem longe do físico; apesar disso, ali, mais que em qualquer outro lugar, era exigido um "ora et labora" no que você devia ser capaz de se manter muito atento ao trabalho, cada um no seu lugar e função, e com os pés bem postos sobre a terra, para poder te livrar do acosso inquisidor de alguns veteranos que eram verdadeiros "pinches tiranos", especialmente aqueles que sentiam a necessidade de se crescer acima das pessoas mais cultas que eles,e e que xogavam uma avalancha de acres críticas sobre os "urbanitas atontados" que cometiam o menor descuido, o que podia culminar até com uma grosseira expulsão do iniciante que, por olhar demasiado para adentro, cometia falhas no trabalho externo. Poucos dos novatos eram firmes bastante para agüentar -com seu emoçãoalidade hipersensibilizada- aquele duro trabalho e estrita disciplina; e muitos abandonavam com qualquer pretexto o Feitío no segundo ou no terceiro dia, pelo que sua estância em Mapiá se abreviaba forçadamente.

Mas os que conseguíamos superar a preguiza e molezaa física do homem urbano e re-encontrar -na obediência dignamente aceitada e na esforçada cooperação- nossa hombría arcaica, chegavamos a nos surpreender do extraordinário volume de poder energético que possuiamos e do que normalmente não temos consciência, por causa de nosso afastamento da natureza …e acabávamos adaptando-nos, por pura constancia movida pela vergonha.

Assim, quando conseguíamos sair da fraqueza e arrimar o ombro ao ritmo geral, deixando de falar bobagens que estavam por fora do real aquí e agora, de nos queixar ou de presumir do que achávamos que sabíamos, assim como demonstrando, ao mesmo tempo, alegre disposição, espírito de serviço, sem baboseiras nem submisión, colaboradora entrega, vontade de aprender praticando e respeito à veteranía daqueles ásperos gigantes, estes nos aceitavam por fim, e nos faziam descobrir toda a nobreza cordial de seus corações de caboclos guerreiros. 

4- A SANTA MARÍA

"Santa María é a nossa Mãe,
Nossas filhas e nossas mulheres,
Mas é preciso muito amor,
De todas elas se consagrar."

(Fragmento de um hino do Santo Daime)

A organização atual do Santo Daime, CEFLURIS, há bastante que decidiu oficializar, por unanimidade do seu Conselho, que sua Igreja acataría respeitosamente a Lei Brasileira e a dos países aonde estende suas atividades, com referência ao não uso de substâncias declaradas ilegais por eles, assim que este capitulo só fala de tempos arcaicos e ingénuos do Povo de Juramidám, que cheguei a vivenciar e que sería hipócrita não mencionar; porém, ultrapassados, e, se hoube por então algúm delito contra o Estado em aquela remota e isolada floresta, os muitos anos transcurridos fizeram a aquele delito prescrever, portanto, ninguém deve relacioná-lo com seu presente.
O Padrinho Sebastião, além do Daime, tinha recebido do EU SOU (da sua Mónada Divina), a autorização para utilizar sacralmente outra planta de psicoactividade infinitamente mais leve, e muito conhecida hoje em dia, coisa, no entanto, que foi severamente criticada por seus antigos condiscípulos do Alto Santo, a Igreja do Mestre Irineu em Rio Branco, assim como por outros ayahuasqueiros... mas eles não tinham que manter unido a um povo de guerreiros e guerreiras no méio da selva: Estou falando da “Cannabis Sativa”, chamada, popularmente, “Maconha” e, dentro de um cuidadoso uso ritual e uma intenção elevada, “Santa María”.

Usava-se, sobretudo, como forma de propiciar distensão, harmonia e introspeção antes das assembléias comunitárias ou das "concentrações", que eram reuniões para o fino e profundo estudo grupal de temas específicos. Também durante ou depois de alguma intensa sessão com Daime na Casa da Estrela, para acalmar as emoções que tivessem de desbordado demassiado. Não se cultivava em Mapiá e levava-se um férreo controle de sua distribuição, de maneira que, oficialmente, só podia ser usada nas ocasiões adequadas, sempre sagradas.

Contava-se que lá pelos anos setenta do passado século XX, quando ainda vivia o Padrinho na Colônia 5000 de Rio Branco, ele teve uma visão na que aparecía um guerreiro para lhe oferecer uma nova planta curadora das doenças da alma. Pouco tempo apòs chegaram por ali os primeiros hippies: dois "malucos" mineiros e um argentino, gentes do "Povo do Caminho" que viviam vagando de um lado para outro com seus artesanatos. Sebastião Mota simpatizou muitíssimo com eles, que “fliparon” desde o primeiro momento com o Daime e passaram em seguida a fazer parte do Povo de Juramidám, ensinando àqueles rudes caboclos a comer hortalizas, que eles mesmos plantaeam e cozinhavam.

…Também plantaram outras coisas e, um dia, houve um escândalo porque um deles confessou, em pleno trance de Daime no Templo, que se tinha "enmaconhado" antes do himnário e que agora o estava passando mau por causa do sentimento de culpa. Ao ouvir a palabra "Maconha" toda a Comunidade espantou-se e persignou-se, como se o Capeta Satã tivesse invadido o Templo, já que tão só conheciam aquela "droga de vadíos, viciosos e delinqüentes" por referências carregadas de preconceitos.

Porém, o Padrinho jamais emitia um julgamento vão, e pediu aos hippies algumas folhas de Cannabis para fazer um “estudo fino e disciplinado ante O Poder”, igual que anteriormente tinha estudado os fungos Psilocybes e que depois seguiu estudando seriamente, (através de pesquisa por experimentação direta, e não teórica, vivisecionadora nem distante, como a dos cientistas), todo quanto psicotrópico lhe traziam.
Em muito pouco tempo entablou perfeita comunicação, não com a química, senão com o deva da planta, e apresentou-a a seu povo como aquela que lhe tinha sido anunciada na miração. Disse que nela estavam contidas as mais altas qualidades femininas (bem como as mais baixas, se usava-se mal), e a chamou "Santa María". Dom Manoel Correntes, seu compadre, que era a mano direita do Padrinho, recebeu do Arcanjo Miguel o ritual adequado para consagrá-la e o conselho de começar não a usando mais que uma vez cada quinze dias.

A Cannabis ou Canhamo é um psicoactivo de recente uso no Novo Mundo, já que não existia nele antes de que espanhóis, portugueses e britânicos a introduzissem em suas colônias para poder fabricar cordagens para navios com suas fibras. No entanto, adaptou-se maravilhosamente a diversos climas americanos, e já houve tempo sufficiênte para que muitos chamães nativos conhecessem suas virtudes e a incorporassem às suas cerimônias sagradas de contato com o Pai Céu e a Mãe Terra, entidades que conformam os aspetos locais mais elevados de nosso Eu Superior Planetário.

Sabe-se que faz mais de dez mil anos que se usa a Cannabis no Velho Mundo para produzir estados alterados de consciência. Provavelmente nómadas e caravaneiros levaram-na à Oriente e Ocidente desde a Ariana Ásia Central; os indianos a veneraram nos Vedas, a cultivaron com sacralidade e consagraram-na a Shiva, o Deus da Transformação, e a Indra, senhor do Firmamento Astral (e, por tanto, das viagens interdimensionais sobre o mágico tapete voador, geralmente conduzidas por um gênio).

No Budismo Mahayana tibetano consideram-lha também uma planta sagrada e se conta que, durante os seis passos da via ascética que conduzem à iluminação, Gautama, o futuro Primeiro Buda, se sustentava com o grande poder nutritivo e meditativo de uma semente de cánhamo ao dia. Assim mesmo, é muito empregada a Cannabis sacralizada, tanto hoje como ontem, nos rituais tántricos .

Cinco séculos antes de Cristo, o historiador helénico Heródoto contou algo sobre "A Sauna Escita": Os escitas, tribos de ginetes nómadas que viviam ao nordeste do Mar Negro, e a quem os urbanizados gregos consideravam como bárbaros selvagens, faziam uma espécie de tenda tipo iglú ou cabana de sudação bastante parecida aos “Inipis” dos Peles Vermelhas Sioux-Lakotas ou aos Temazcallis ou Temascais Mexicas, só que sobre as pedras ao vermelho vivo situadas no centro da sauna, xogavam-se, junto com algo de água, sementes e folhas de Cannabis, as quais produziam de imediato uma fumaça úmida que, ao ser inalada pelos participantes, no interior da cabana hermeticamente fechada por mantas de peles, os colocava em um intenso trance coletivo, tão purificatório como eufórico, que eles celebravam soltando exclamações de goço ...Parece ser que os escitas estavam "escitadísimos" lá adentro.

Hoje em dia, ela é a planta psicoativa mais difundida no mundo, mas esta grande difussão tem contribuído, também, a seu uso automático, profano e vulgar, ou seja, desacralizado. Eu dou fé, porque a conhecí muito bem (ainda que já deixei de usá-la), da enorme diferença que há entre fumá-la sacralmente …ou de uma maneira habitual e inconsciênte. E como isto, tudo. A vida é mágica, mas só se devem contar como vividos os poucos momentos em que nos relacionamos despertos e ligados com às maravilhas da Criação. O resto do tempo é puro letargo vegetativo ou infra-animaloide (porque os animais são bem mais sensíveis), pilotagem robótica... "zombiedade", com minhas desculpas por andar inventando palavragem.

À diferença do resto das plantas de poder, o princípio psicoativo da Cannabis não é um alcaloide, ou seja um composto nitrogenado, senão um azeite resinoso chamado THC ou Tetrahidrocannabinol, que se concentra bem mais nas flores ainda não fertilizadas que nas folhas. Também encontraram-se na planta outras 460 substâncias psicotrópicas em menor concentração, entre eles 60 cannabinoides de estrutura química parecida à do THC.

Há muitas maneiras de ingerí-la, mas a mais comum é fumar a resina concentrada das flores, sozinha ou misturada com as folhinhas mais finas picadas; ou picar simplesmente as folhas de qualquer tamaño e fumá-las. Em geral, quem usa a Santa María sacralmente, acaba por cultivar com o maior carinho artesanal suas próprias plantas de cánhamo, fazendo-se um com o deva da planta, com o elemento espiritual que estrutura seus elementos químicos, antes de incorporá-lo definitivamente à nossa próprio aura etérica por méio da pitada ou fumada.

O THC actua sobre o hipotálamo, que é o centro neurálgico que, na base do cérebro, segrega hormônios para a hipófisis ou controla o apetite. No cérebro, ativa neuroreceptores do tipo da Dopamina, que põem em marcha no Sistema Límbico respostas cerebrais das consideradas "de recompensa": perda parcial da sensação do tempo e diminuição da ansiedade produzida pela preocupação e a pressa; relax e tranqüilidade, aumento leve da líbido, que propicia a sociabilidade e a expressão do afeto, e alegre desinibição.
Ao mesmo tempo, potencia-se a parte intuitiva e, pelo mesmo, surge uma verdadeira falta de vontade de seguir realizando operações lógicas e calculadas, que, se formam parte do nosso trabalho, será interpretada como entorpecemento, dispersão e preguiza. Há um aumento da sensibilidade, uma diminuição de reflejos, os olhos irritam-se e avermelham-se, a boca seca-se e cheira forte à fumo, e aumenta algo a tensão e a taquicardia, por isso é bom canalizá-la no ritmo do canto e da dança a seguir. Atribuem-se-lhe, desde a antiguedade, numerosos efeitos terapêuticos, ainda que estes, devido ao preconceito e os interesses criados dos governos, jamais têm sido adequadamente pesquisados por uma equipe imparcial.

A maior parte da Cannabis que se fumava na Europa procedía, daquela, de Marrocos (a principal área produtora era a região de Ketama, Norte, nas montanhas do Rif) e consistía em resina apertada em pastilhas compactas e desecadas, ou seja, o famoso "Hachís". Os traficantes costumam acrescentar-lhe toda classe de substâncias espessantes que componham um quilo usando poucas gramas de resina real, sendo verdadeiros lixos algum dos elementos adulteradores. Depois, o consumidor abranda a pastilha, queimando-a um pouco, e a fuma misturada com tabaco, em geral procedente de cigarrihos industriais e comúns, o qual sim é adictivo e muito nocivo para a saúde, como todos já sabem, ainda que perfeita e hipocritamente legal, já que os estados obtêm uma quantidade enorme de impostos do envenenamento de seus cidadãos com uma droga que aumenta o automatismo e o letargo em que o sistema os mantém submersos habitualmente, sem risco de produzir neles nenhum perigoso (para a clase dominante) aumento da consciência.

Quando se vê a diferença entre uma plantinha cultivada com sagrado amor e algo ...mais ou menos parecido por fora, aumentado com Deus sabe que classe de porcariadas, e cambalacheado de Africa a Europa por Deus sabe que classe de vibrações, uma pessoa que respeita seu corpo e sua mente, acaba por abandonar um dia, definitivamente, como eu fiz, tanto os manuseados e adulterados produtos que os narcotraficantes vendem pelos rincões escuros, como o tabaco manufaturado de forma industrial e amplamente comercializado pelas mesmas grandes multinacionais mafiosas que enriquecem com as guerras, com as proibições legais, e com a exploração da fraqueza e a sordidez humana.

Muitas pessoas, em sua maioria cidadãos de países com ampla liberdade democrática duramente conseguida, têm formado movimentos que exigem a investigação imparcial e a legalização da Cannabis. Os estado-unidenses, que vivem em um dos países onde a repressão é maior e mais interessada, já não precisam recorrer aos carteis colombianos do narcotráfico para importar maconha, pois há tempo que têm conseguido adaptar a seus próprios jardins e quintais interiores uma espécie de excelente psicoactividad. Isso reduziu muito a criminalidade das máfias marihuaneras na Colômbia, ainda que foi substituida pelo crescente cultivo e produção de cocaína e morfina, cujas plantas básicas ainda não conseguiram cultivar-se no clima dos USA. O día que o conseguirem, os narcos gringos poderão seguir envenenando a seus patrícios sem intermediarios estrangeiros… e acabará por fim a sanguinária guerra civil que dizima ao pobre povo colombiano há mais de cinquenta anos

Na Europa, Holanda gaba-se da dignidade, graças à luta de seus cidadãos por conseguir manter suas liberdades cívicas (enfrentando corajosamente à crescente ânsia dos estados neocapitalistas pos-modernos por controlar ao máximo a vida dos seus membros), de ser um dos países mais tolerantes e permissivos, e cada ano se celebra em Amsterdã um concurso internacional que prémia a Cannabis caseira de maior qualidade, ainda que quase sempre costumam ganhá-lo os mesmos holandeses, tradicionalmente ótimos jardineiros, que têm chegado a produzir variedades magníficas.

Algumas legislações como a espanhola dos primeiros tempos do Socialismo, pareciam ser as mais avançadas –diziam por então alguns estudiosos do tema- em matéria de tolerância: ainda que estava proibido o narcotráfico, não estava penalizado o consumo nem, oficialmente, podem retirar de voçê uma plantita ou duas que cultives para teu uso, ainda que não convinha té-las à vista de seus vizinhos. O ensolarado clima espanhol é muito apropriado para o cultivo se rega-se e cuida-se bem e com carinho, como se cuida a uma dama amada, e não há María melhor que a de colheita própria.

Suponho que a maconha amazônica, como a famossísima colombiana, é das melhores do mundo, ainda que ali, em Mapiá, tratando como tratávamos com a poderosa Ayahuasca, na atmosfera de altíssima vibração astral que a selva é, nos parecia algo frouxinho, "apenas pra relaxar" como dizem os brasileiros, que de relaxar muito entendem. Agora bem, o Padrinho levava a Santa María muito à sério, e lançava palabras indignadas contra aqueles que se ousavam consumí-la sem consciência, fora das horas de lazer ou, pior, como um simples hábito automático.

Como o Universo é mental e tudo nesta vida é qüestão de atitude, segundo a atitude com que a gente a fumasse, o deva contido na planta influiría-nos de uma ou de outra maneira, bem positiva ou bem negativa. Por conseguinte, estava proibido o uso de "maconha" na comunidade, norma que coincidia com a Lei Federal Brasileira, mas estava permitido (e até abençoado) utilizar oportuna e sacralmente a Santa María, que não era outra coisa que a picante bruxinha Mari-Juana quando elevada a nível trascendente; o que só se conseguia cultivando-a e cuidando-a com sacralidade e tão só a fumando após que mudavamos nossa atitude e nos submergiamos em “Estado Interior de Templo". Então a consagravamos, fazendo o Sinal da Cruz com o vaziado antes de acendê-lo, o que equivalia a invocar a inspiração da Rainha da Floresta e de seus anjos sobre nossa psique através do poder da erva e a sincronizar sua mais alta vibração com a vibração mais alta do nosso espírito.

Depois deviamos "pitá-la" com consciência, com respeito e compartilhando-a fraternalmente: pegá-la com delicadeza, pô-la nos lábios, aspirar enquanto se invocava mentalmente: "Sol, Lua, Estrela", e passá-la a outro. E nada de perder a pitada com papo furado, nem a retendo enquanto se fala... Após um tempo de concentração silenciosa, no qual o éter retido da planta dirigía-se, inspirando pelo nariz, de chakra em chakra, coluna acima até o terceiro olho, antes de expulsar o resíduo, as pessoas canalizavam a vibração obtida para o alto, e agradeziam, logo de um momento de meditação, por médio de hinos, tal como faz o canário depois que se alimenta com canhmões ou sementes de Cannabis, que, por certo, fazem-lhe cantar muito melhor.

As melhores fumadas que eu disfrutei entanto que fumava, tiveram lugar sempre em um espaço consagrado, ante um respeitoso coletivo que passava o vaciado em completo silêncio. Quando acabam os cigarros, o comandante da sessão dizia: -"Concentração"- e todos fechavam seus olhos físicos e se concentravam no olho interno, elevando sua atenção para as mais elevadas emissoras espirituais que pudessem captar. Se um dos membros da mesa conseguía sintonizar com uma delas, era fácil que os demais ressoaram telepaticamente com ele, e que durante um momento todos comungassem intensamente de um momento mágico de conexão sinérgica com um espírito que era muito maior, em sua qualidade de amor e de sabedoria reveladora, que a simples soma das potências espirituais dos participantes. Algumas destas experiências são inesquecíveis para mim, e não têm nada que invejar a outras emocioantes comhuniões conseguidas em trance de Ayahuasca.

A planta de Cannabis pode chegar a medir até dois metros de altura e mais; quando estão todas juntas numa plantação aquilo parece uma selva. Astralmente, a energia que produzem é tão potente que, quando estão em flor, algumas pessoas pouco afirmadas até se sentem desmaiar entre elas. As plantas pedem muito sol e muita água, e cuidá-las e regarlas é uma labor meditativa que requer dedicação concentrada e muito fino amor; é bom que não ande demassiada gente entre elas, senão que tenham um ou dois cuidadores fixos, preferivelmente varões, que as amem e as mimen, e muito agradecem que se lhes fale e se lhes cantem hinos enquanto regadas. O mais refinado da planta é a resina e a flor, que contém a maior concentração de THC e uma energia de uma femininade maravilhosa.

Em Mapiá em 1989, as garotas jovens, perfumadas dessa “feminilidade” sillvestre, brava, felinamente natural e, ao mesmo tempo, modesta, das filhas da Floresta, sempre perguntavam -"é flor?"- quando convidadas a pitar, já que só esta parte da planta é digno oferecimento a uma donzela. Seus enamorados tentavam colher as melhores flores com delicadeza, secá-las, pendurando-as do teto de suas casas, envolver depois um vaciado com perfeição e, em seus momentos livres, confeiçoar umas caixinhas enfeitadas que pudessem ser adequado invólucro de seu presente e nas que pudessem expressar o muito que tinham pensado no objeto de seu amor durante o "feitío" ou a confeição meditativa. Depois, em qualquer momento, geralmente na igreja, onde todos coincidiam, as depositavam com discreção na mão de sua amada. Ela nada dizia, mas, na intimidade ou sob as árvores, abria com deleite a caixinha e fumava o presente, em cuja vibração comunicava-se telepaticamente com o presenteador. Tudo era assim de mágico em Mapiá, e a gente ia de surpresa em surpresa, de prestar um mínimo de atenção.

Como acontece com todos os psicoativos e medicinas, o ideal é deixar que decorra um tempo prudencial entre tomada e tomada; dessa forma, seu efeito será pleno e incidirá sobre o aspeto de tua vida que está demandando uma reflexão intuitiva. A Cannabis não é aditiva em si mesma, asseguram, de maneira que quem a usa de contínuo não é um prisioneiro da sua química ou espírito, senão de seu próprio automatismo rotineiro (dependência psicológica) se a consumir profana e automaticamente. Quando você prova um coçe de vez em vez, é são e sabe de maravilha, porém, tomando doçes no café da manhã, a sobremesa, a merenda e o jantar, você se empalaga, não inteira-se mais do doçe... e engorda, e se embota.

Havia hinos que avisavam sobre a degradação de consciência e do mundo de ilusão que provocava quem fumava Santa María todo o dia: considerava-se, e com muitas razões, baseadas, não em preconceitos común contra a droga (pouco prováveis entre aqueles experientes consumidores de fortes psicotrópicos), senão na observação quotidiana da triste realidade de que a maioría dos maconheiros contínuos, salvo honestas excepções,  tornavam- se vadios, passivo e indolentes no trabalho, desorganizados, glotões, inconstantes, fantasiosos, superficiais, dispersos, indisciplinados, indiscretos, irresponsáveis, e insolidários... e até circulava entre muitos daimistas a superstição de que também habia perigo, por fazer-se o amor após fumar, de ir adquirindo impotência sexual.

A realidade é que a Cannabis Sativa é mais bem um afrodisíaco que o contrário, já que, ao produzir uma diminuição da velocidade no ritmo habitual do indivíduo, permite um desfrute maior do instante, aumentando a finura de percepção dos sentidos, além da carinhosa cordialidade e de uma tendência a ir até o fundo nos sentimentos. Em um povo de durísimos guerreiros como o de Juramidám, a Santa María brindava a oportunidade de dar um necessário repouso à tensão lutadora e construtiva e de fazer aflorar a ánima feminina dos iniciados, junto com todo seu potencial de criatividade macia, suavidade e ternura, sem a qual é impossível o amor.
Pessoalmente, abandonei para sempre o uso da Cannabis, já profana ou sagrada, não só por me afastar do mundo de ilusão fantasiosa na que vivem quase sempre seus consumidores habituais, senão, sobretudo, porque fumá-la me incitava a ter saudade do fumo mais tarde, com o qual, ou consumía demassiada, ou caía, de estar perto da influencia contagiosa de fumadores, no terrível vício do cigarrilho industrial, que acaba sujando e entupindo as delicadas e preciosas vías respiratórias, portanto, rebaixando a mínimos a energía pránica, sem a qual qualquer sujeito corta todas as suas posibilidades evolutivas, alimentando os chakras de lixo sutil, ademais de malviver-morrendo como poluidor do mundo, desenergetizado e envelhecido, presso às dimensões mais baixas e dependentes do mundo común, do sistema e do seu karma contaminador e auto-destruidor. 

5- SEXUALIDADE MÁGICA E TABU

"A salamandra tem o controle sobre o fogo sexual...
...não há fogo superior ao fogo do desejo sensual.
Se você tem domínio sobre isto será senhor da salamandra"

Carlos Pacini, "O Sol", Goiania 1988. 

Agora bem, durante o jogo sexual, a Cannabis excita mais bem a mente que o corpo, e os machos rudes e durões que estão acostumados a uma relação puramente animal, isto é, excitar-se rapidamente até o clímax e se desafogar derramando-se, sem se preocupar demassiado pela preparação prévia ou a satisfação final da parceira, ou do intercâmbio afetivo de energias eterizadas, ficavam aterrorizados ao comprovar que o orgasmo se retardava e que às vezes até a excitação perdia-se. Aí, alguns pensavam que se estavam tornando impotentes.

Os amantes mais refinados, no entanto, que sabem muito bem que a mulher demora bem mais que o homem em se excitar a topo e em chegar ao clímax, ainda sem necessidade de ser altos iniciados no Tantra, desfrutam a fundo dessa diminuição da imperativa excitação masculina, jogando com ela sem chegar à perdé-la totalmente, dando lugar a um imaginativo e carinhoso prólogo de carícias que pode durar bastante,até que a intimidade da mulher se tornar agua lubrificante e ela própria pedir ser penetrada; jogando depois, com o movimento e a respiração controlada, a chegar e retornar da beira dos limites, em consciêntes ascensões e descensos, distribuindo ao longo de todo o jogo e todo o corpo o prazer, que na relação rude unicamente se concentra no último espasmo esvaziador; e educando, ao tempo, à parte mais instintiva de nosso veículo material, para por-se em tudo às ordens da vontade reitora, fazendo do potro selvagem sobre o que cavalgamos neste plano, e que tende a desbocar-se totalmente, um obediente Pégaso alado para nos levar voando até a Altura...

Quando por fim sua parceira se dissolve no puro prazer e no vazio do êxtase, o homem pode optar por se dissolver também, se derramando simultaneamente e transmutando sua energía à densidade, junto com a da mulher, no erótico portal interdimensional onde ambos fazem-se um... ou… coagular-se, canalizando consciêntemente a energia gerada de chacra em chacra, até a cabeça, onde servirá de sutil combustível altamente refinado à sua criatividade artística, construções mentais, projeição de energía curadora, meditação, decretação magística ou comunicação espiritual... ficando ademais, se a canalização estivesse bem feita, com uma verdadeira excitação agradável, jovial e construtiva durante todo o dia, até o próximo jogo de amor.

Esta era uma das instruções de Carlos Pacini para se manter canal do Espírito : A mulher -a terra, a água- dissolve-se, se sutilizándo; o homem -o fogo, o ar- se coagula para realizar-se... Assim é como a Alquimia se produz: Tudo quanto se visualizar no momento desta transformação é impulsado a materializar-se nascer sobre este plano, igual que os bebés nascem pela invocação e intensa combinação dessas potentes forças de ancoramento energético sobre o Plano Físico.
Quanto se constrói e se mantém nesses momentos na mente com clara consciência, intenso sentimento e voluntarioso desejo, manifestara-se magicamente no Plano Astral e depois no Físico, combinando-se os éteres cósmicos, estruturando-se e veiculando-se sobre a poderosa energia generatriz que a alquimia sexual condensou. Por isso há que ter-se infinito cuidado com o que se põe em mente e com que entidades o casal ou cada um dos seus parceiros se une mentalmente durante o ato amoroso, o qual é o maior ato gerador, não só de corpos físicos, senão de toda classe de envolturas mentais, astrais, etéricas e físicas para manifestar encarnadas sobre o mundo quaisquer formas que se mantivessem no pensamento e na emoção nesse momento em que abrimos as portas interdimensionais e comunicam-se entre si todas as dimensões de potencialidade do Ser Integral que Somos.

...Claro está que Carlos Pacini jamais recomendou outro estimulante psicoativo que se manter ligado, entregue e rendido o tempo todo, com o Filho no coração e com o Pai no terceiro olho.

Esta necessidade de transmutação da bruta energia generatriz animal em elevada energia generatriz mental e espiritual, é a razão da exigência do celibato aos sacerdotes de muitas religiões, das recomendações de controle aos sanadores chamánicos antes de transmitir a energia curadora ao paciênte, ou da proibição aos daimistas de manter relações sexuais desde pouco antes do início do Feitío, ou durante as ingesti-oes sacramentais de Daime (o qual brindava mais um pretexto a certos egos inquisidores, para colar o nariz na vida íntima do vizinho e fofocar abundantemente)...

Ligar com a altíssima Energia Divina depende, fundamentalmente, de converter em altíssima a própria energia básica que nos conforma. No processo de intercomunicar e avivar com energia vital apurada, sublimada e transmutada através de cada um de nossos sete chakras, de abaixo a acima, conseguimos, por resonancia, que se intercomuniquen e se unifiquem também todas e cada uma de nossas sete esferas dimensionais de Realidade, e que o poder das mais altas Mónadas das sete que conforman nosso Eu Sou transmita-se às mais baixas, se a nossa livre, consciênte e sentida vontade conjuntada o decreta, facilita e ancora.

...O que sim consistia um verdadeiro tabu entre o Povo de Juramidám -que era suficiênte liberal como para consentir que alguém pudesse ter mais de um parceiro ou parceira, se isso saía com pureza de seus corações-, era misturar ingestião de Daime e sexo. Contavam-se casos espeluznantes de pessoas que tinham transgredido tal tabú, conseguindo morrer ou enloquecer. Não sei se isto seria verdade porque, por puro respeito à sacralidade evidente do Daime, nunca decidi ultrapassar aquela lei não escrita, mas o que penso, é que no trance de Ayahuasca se está tão desdobrado do corpo que pouco daría para se concentrar no desfrute dos sentidos táctiles e densos; de fato, durante as primeiras ingestiões, mal se inteira um do sabor da comida que se toma comunitariamente depois do descenso da Força e o acabamento da sessão, ainda que a sensibilidade física retorna com a veteranía.

Por outra parte, é a mente a que estimula ao corpo durante a sexualidade, para o qual ela tem que entrar em uma verdadeira onda de concentração imaginativa na pura sensualidade material e animal; Isto é impossível de manter quando um está em plena miração, dissolvido numa Unicidade Cósmica na que todos nossos seres amados são Um conosco sem diferença, ou bem, girando vertiginosamente no Caleidoscópio das Geometrías Etéricas, ou enfrentado a seus anjos ou a seus demônios. Visto desde lá acima, o sexo, a grande motivação humana nesta dimensão, perde tanto seu possível interesse, como o podem perder os aviões de brinquedo para um garoto crescido que já cabriolea sobre as nuvens junto ao instructor de vôo, pilotando uma avioneta para valer. 
Assim é a vivência do Mundo Espiritual com relação ao do Mundo Físico, e é por isso que, depois da experiência com a Ayahuasca, os verdadeiros iniciados e iniciadas deixam de temer a morte física, e se ocupam, durante todo o resto de sua vida, de não voltar jamais a se deixar morrer espiritualmente.

No entanto, existe uma dimensão trascendente e subtil da sexualidade e, deixando-se levar por sua onda com impecável consciência, se pode ser transportado. sobre ela. às dimensões mais elevadas da unificação dos espíritos. Quando por fim, horas após se ter acabado a sessão (e ainda que a mente segue flutuando em tal luz que nega-se a se dormir, a pessoa entrega seu corpo ao repouso junto ao do ser amado, basta com se abraçar, vestidos ou nus, para sentir-se telepaticamente ligados até o mais fundo. Tal conexão converte temporariamente a ambos amantes em um só ser divino; e para um ser divino não há tabus, nem leis nem regras, senão tão só aquela clara evidência interna do que é oportuno, harmónico e são fazer em cada momento, o qual surge de sua segura intuição com tanta espontaneidade, como surge o perfume de um broto aberto ao sol da manhã. 

6- MAGIA TERAPÊUTICA

Se entendemos como Magia Terapêutica A AÇÃO INTENÇOADA DA MENTE SOBRE O ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE UM OU VÁRIOS INDIVÍDUOS PARA PROVOCAR UMA EXPANSÃO FLUÍDA DE SUA FREQÜÊNCIA VIBRATÓRIA, e tendo em conta que “estado são” significa que a gente continúa a fluir evolutivamente para maiores níveis de consciência, e que “estar insadio” não é outra coisa que padecer um ou vários bloqueios que produzem uma contração nos aspetos mais limitados do ego e certo grau de estagnação evolutiva... conheci, em Peru e Brasil, três tipos de magia que quase sempre, em maior ou menor grau, eram usados CONJUNTAMENTE pelo mago, chamá, alquimista, terapeuta, sacerdote ou qualquer termo com que queiramos designar ao discípulo adiantado do Caminho que tivemos a sorte (ou o merecimiento) de encontrar para que faça para nós, em Nome da Vida, o papel de mestre, instructor, iniciador ou provador em cada etapa de nosso peregrinar por Ela:

1º- Magia de ação removedora de nossas corazas mentais.
2º- Magia de ação removedora de nossas corazas emocionais ou astrais
3º- Magia de ação desbloqueadora de nossos nodos etéricos.

Alguém poderia me sugerir que incluísse a Magia de ação transformadora sobre as causas dos trastornos especificamente físicos do indivíduo, mas prefiro lhe dar seu verdadeiro nome de Medicina, ainda que aqueles que acham que o dom e a licença para curar só se obtém junto a um diploma acadêmico, a denominem depreciativamente Curanderismo. Os curandeiros geniais -ou médicos que curam atuando como canais do Gênio Interno que nos anima-, resolvem, com freqüência, muitos casos que a medicina acadêmica desengana. 
Ademais, a Medicina é, desde seus começos históricos, uma prática derivada do terceiro tipo de Magia, já que, deixando a um lado os traumatismos, a maior parte das doenças e trastornos somáticos têm como causa uma insuficiencia energética no corpo etérico do paciênte, que é sua armadura de proteção electro-magnética contra as vibrações negativas, vírus e microbios que em todo momento e lugar nos rodeiam. Quando algum bloqueio impede a livre circulação da energia vital, tudo começa a falhar no indivíduo: seu sistema inmunológico, sua estabilidade emocional e ssua claridade e independência mental; e estas três são as colunas sobre as que se apoia o edifício tudo de nossa saúde, corporal e integral. 
Observei que os terapeutas ocidentalizados que se dirigem a discípulos ou paciêntes ocidentalizados, empregam mais as Magias Mental e Emocional, enquanto os unidos à tradição chamánica das raças negra e vermelha usam, preferencialmente, as Magias Emocional e Etérica, que causam imediato e palpável efeito sobre paciêntes e discípulos que pertençam a essas raças, e ligeiramente retardado nos mestizos.

Pessoalmente, opino que a raça de origem europeu, ainda que cada indivíduo é um mundo, é a que maior resistência oferece à mudança de seus esquemas mentais rotineiros e à manifestação do mundo interior em geral, devido, sobretudo, a seu maior carência de contato direto com a sutileza etérica da natureza pura, o qual desenergetiza os corpos e diminui a sensibilidade de suas percepções; e também ao desarraigo dos arquétipos e valores de suas próprias culturas e tradições vernáculas, o qual empobrece da mesma maneira a imaginación... e para que qualquer Magia possa fazer efeito, é preciso que funcionem dois agentes receptores básicos no paciênte ou discípulo: sensibilidade aberta e ágil imaginação.

Por causa da alienação televisiva que propiciam as forças involutivas, a imaginação dos cidadãos do sistema vai sendo cada vez mais passiva e menos ativa, isto é: Os sujeitos estão cheios de imagens, mas ele não as cria, como faría se lesse, escrevesse ou pintasse: está cheio de formas mentais criadas por outros; e o pior, junto a elas, o seu subconsciênte deixou-se impregnar e programar, quase sem seleção possível, por toda a pseudo-filosofia subliminal, a violência morbosa e a vulgaridade mesquinha da Sociedade de Consumo.

Em um nível chamado “culto”, as pessoas comúms que consumem e são consumidas pelo sistema, tem sido programadas pela pesada quadriculação intelectual que denominamos Cultura Científica, a qual, por muito que desconfiem de que não se trata senão de um dogmatismo mais, claramente classista e limitadoramente materialista, faz-lhes contemplar todas as formas de cultura não acadêmicas, sobretudo as próprias de outras raças de pele menos rosada que a européia, com um imperialista preconceito de superioridade e desconfiança. Muito especialmente quando eles captam que o fundamento dessas outras culturas é uma concepção religiosa e, às vezes, baseada em propostas aparentemente simplórias, legendárias, mitológicas ou unidas à repetição multisecular e acrítica de lendas tradicionais.

A Magia Emocional ou Astral é usada por todos os terapeutas, já que são nossas emoções, especialmente as mais sombrias, a pedra que se há de polir, o dragão que se há de submeter sem o matar, para que a cobra rastreira de nossa energia vital inconsciênte transforme-se na águia ígnea de nossa Consciência Cósmica e nos eleve.

Carlos Pacini, por exemplo, que era um alquimista bem ocidental, um mago de guitarra, moto e calza jeans, um messageiro de Aquarius, começava por positivizar teu emocional propondo te render a teu Mestre Interior Pessoal e transmitindo, no momento em que aceitavas auto-renderte sinceramente, a vibração de seu próprio amor inconfundível à Vida com um abraço. Nada mais simples.
Depois, suas três instruções básicas:
- Manter-se centrado e ligado com o Pai no terceiro olho;
- Obedecer rendidamente as instruções emanadas continuamente do Filho desde o coração;
- E canalizar para o alto a energia generatriz do Espírito Santo (a Mãe Terra-Água convertida em Mãe da Luz), sem desperdiciá-la derramando-a em vão. 
Se você as seguia, a semente de pura paixão pela Vida, transmitida com seu abraço e por seu exemplo, começava a desenvolver-se. O seu astral abria-se a escutar ao Mestre Interno que sempre habitou em você, e a suas inspirações, o qual fazia muitos anos que você deixou de ouvir, por causa de estar sua atenção completamente concentrada na palavragem superficial do seu ego e também por falta de acumulação de energia vital suficiênte.

A partir de então e até hoje, eu jamais deixei de distinguir claramente a diferença entre as palavras internas do ego e aquelas (que falam algo mais baixinho), do Eu. Minha consciência virou minha Musa, minha Professora, e A Luz que dava sentido ou corrigia os anseios confusos de meu coração em cada momento.

Pacini dava, depois, umas poucas instruções dirigidas ao Mental, para ordenar o compreendido e manter harmonicamente unidos a cabeça e o coração. Por último, animava-te a seguir teu próprio caminho, sem depender de nada nem de ninguém, atento a não interromper jamais o diálogo interno com teu Intimo... e depois afastava- se de tí amorosamente: -"Adeus, meu Amigo, meu Irmão, muita felicidade, transmite aquele Abraço".- Há muitos anos que já não sei nada dele, do homem, mas sua vibração em mim é cada dia mais viva e maior, tão grande como meu agradecimiento para ele, Deus lhe mantenha tão feliz ou mais... Isto é um Mestre Moderno.

O Padrinho Sebastião Mota, no entanto, era um profeta antigo de uma raça e uma cultura mestiza. Dirigia- se preferencialmente a pessoas emocionais e instintivas inmersas na natureza. Ria da prepotencia vã do homem urbano; utilizava com maestría o imenso poder purgante, desbloqueador e purificador do Daime para curar ao físico e ao astral, e não tratava com o mental, senão para reventá-lo com mirações, sabendo que a gente só se pode abrir ao Novo, após derruir os castelos de preconceitos obsoletos anteriormente fabricados.

Conhecia, apreciava e usava com valor e respeito o imenso poder do mundo vegetal e a energia etérica das consciências elementares da selva, o Coração do Mundo. Aliava-se com elas e com a Irmandade da Hierarquia da Luz Planetária, para dar a batalha aos magos negros, os demônios e vampiros do astral; e vivia a vida como um dsafío, tentando preservar um modelo de sociedade alternativa unida à natureza e ao sentimento de soberana dignidade do antigo homem livre da selva.

Aconselhava substituir os prazeres enganosos e as satisfações medíocres e mesquinhas pelo Prazer dos Prazeres: SER A VERDADE.
Para isso conseguir, deve-se renunciar, o primeiro, a toda crítica malévola e maledicencia escandalosa contra os irmãos; atendendo, como valor superior, a manter a sincera harmonia comunitária; aprender também o nobre silêncio, refreando e controlando o pensamento e a língua; e a se polir, corrigindo os vícios e transmutando os hábitos negativos em positivos, para o qual, a melhor indicação era terapia de serviço abnegado aos demais, com trabalho duro autodisciplinador e fortalecedor (Karma Yoga à Amazônica). Isto desenvolvia uma grande firmeza nos guerreiros e guerreiras, que tinha que se equilibrar na fraternidade amorosa, e na atenta valorização   do irmão, ademais de pondo cuidado de se manter integralmente limpos, sem obsessão nem complacência.

Dizia Sebastião Mota que era, como João o Bautista (e antes, como o profeta Elías), uma voz que clamava no deserto, chamando aos pecadores a se arrepender e se purificar. A água do Jordán com que batizava era o amargo Daime, que te confrontava com tua sujeira interna e te ajudava a mudar, com um tratamento de choque. Igual que   o Bautista, o Padrinho anunciava uma Nova Era e um novo Cristo que nasceria nos corações de todos quantos trabalhassem, tão tenaz como profundamente, em seu autoexame e transformação. 
Sua Escola era ideal para as cabeças mais inquietas e os corações mais duros. Talvez por isso tocou-me continuar a minha aprendizagem nela.

Seu método começava pelo desbloqueio e a limpeza de tua energia etérica mediante a bebida de poder, que ao mesmo tempo em que jogava por terra teus esquemas mentais enrixecidos ou moles, deixava de repente ao descoberto todos aqueles monstros emocionais que tu tinhas passado a vida tratando de esquecer ou disfarçar. 
Ademais obrigava-te à reintegração na natureza, a sujeitar o individualismo inútil e errante com as regras de uma colectividade estrita, a recuperar tuas energias primárias a base de trabalho físico duro e a viver marcialmente com austeridade e disciplina, sem concessões à moleça, nem a que os vôos psíquicos te arrancassem os pés de tuas responsabilidades na terra e de tua sensatez, mantendo-te ligado com tua Fonte, ao mesmo tempo em que atento e útil à cooperação comunitária quotidiana: a pura via do guerreiro. 
O Padrinho era um Bautista disciplinador que se dedicava, fundamentalmente, a chamar às almas rudes ao arrepedimento, à purificação e a limpeza, para que cada um pudesse encontrar o seu lugar e receber dignamente ao Eu Sou em seu templo interno reconstruído. 
Carlos Pacini, pelo contrário, parecia falar para pessoas que já tivessem superado o primitivismo emocional e os traumas de autoculpabilidade: tratava-nos como a homens e mulheres livres e autosuficiêntes, e nos instava a confiar na Divinidade Interna que eternamente mora em cada homem ou mulher. Jamais se lhe ocorreu nos impor nada, apertar-nos, apressar-nos, reprochar nada, e menos, construir igrejas ou instituições, nem criar dependências individuais ou grupales. 
Com freqüência, mostrava-nos o equilíbrio entre os pólos: Em um extremo, o vagabundo, o disperso; No outro extremo, o prisioneiro da disciplina, o escravo de sua própria rigidez. No médio, o alquimista, o ser livre, o conciliador de seus contrários, graças à magia do Amor e a confiança na Vida. Na Vida que Somos. 
-"...Porque vocês não quererão ser guerreiros, não é?”-, disse-nos um dia no meio de uma conversa.

Eu fiquei olhando-o e não soube responder. Algo dentro de mim, seguramente o transfundo fascista de minha educação na Espanha de após a Guerra Civil, ou seu outro extremo, o anarquismo rebelde de minha juventude, comprazia a meu ego mais sutil, imaginando-o vestido com a ropagem heróica do guerreiro. 
Pacini penetrou em minha mirada e lançou-me outra, profundamente significativa, na que li: “O que um quer, o acaba conseguindo”. 
Agora, em Mapiá, eu me lembrava daquela mirada. E davam-me arrepios ao perceber que por fim tinha chegado a uma autêntica escola de guerreiros.



7- A UMBANDA ESOTÉRICA 
Em Mapiá, além da tradição chamánica indígena da Ayahuasca, somada a um auténtico esoterismo masónico contribuição dos Velhos Mestres, praticava-se também o grande legado mágico da raça negra à cultura eclética brasileira: o espiritismo africano, muito misturado já com cultos cristãos, até chegar a uma síntese típicamente brasileira, conhecida como Umbanda. Nos últimos tempos tinha-se estabelecido na aldeia uma escola de mediums que estava muito frequentada por todo tipo de alunas e alunos. O próprio Padrinho Sebastião tinha sido medium sanador desde sua juventude, ou seja, que incorporava -fazia de canal de manifestação neste Plano- a dois espíritos de médicos que, ainda que há muito tempo que tinham desencarnado, seguiam prestando seus serviços desde o Astral.

O Espiritismo é uma das coisas que mais chamam a atenção aos europeus que chegamos ao Brasil: também é um dos temas mais difíceis de observar e comentar objetivamente por pessoas de outra raça ou país, pelo que prevenho ao leitor antecipadamente de que muito do que conto pode estar equivocado, por mau compreendido. Porém, durante anos, perguntei aos seus praticantes e deu para constatar que para a maioria deles, a coisa era tão misteriosa como para mim.
Eles sabíam como fazer, porém, não podiam explicar bem por que o fazíam, nem que era o que acontecía durante as suas sessões. Posteriormente, eu enteirei-me que ter sensibilidade mediúnica ou capacidades extra- sensoriais não era, forçosamente, um indicador de uma maior evolução, senão de karmas alastrados de encarnações anteriores em remotas Eras, como a Lemuriana ou Atlante, nas quais a Magia Astral (as vezes bem escura) presidía os paradigmas de “normalidade”, tal como na Era atual os preside o cientifismo racionalista.

Quando, nas sessões de limpeza e cura, o Daime começava a produzir desdobramentos astrais, as pessoas que têm faculdades mediúnicas -e rara é a família brasileira onde não há alguma- entravam de repente em trance, contorsionándose seus corpos como se estivessem sendo penetrados por outro corpo invisível, e saindo finalmente de suas bocas uma voz inusual, cantando um hino identificador -o "ponto de caboclo"- dando sinais de que um espírito do astral, incorporou no corpo emprestado (ou que, muitas vezes não passa de fazer ressoar sua energia astral ou etérica com a do medium). Aí, pedia permissão aos chefes da sessão para se manifestar. 
Uma vez autorizado pelo comandante, o visitante expresava-se. Aí, inteirávamos-nos se ele era um espírito sofredor, um desencarnado que, por apegos ou remorsos terrenos …ou por falta de luz, não tinha conseguido se remontar a planos mais altos a seguir sua evolução, e se encontrava padecendo de desesperadas carências energéticas nas trevas do baixo astral... ou se estavamos ante um espírito já mais adiantado, daqueles que dedicavan-se a cooperar com as mesas espíritas em trabalhos de limpeza e cura dos corpos etérico e astral, trabalhos que eles podiam desempenhar melhor que ninguém, por se encontrar na mesma freqüência de onda que estes corpos.

Observei que a maioria daqueles espíritos já não autodenominavam-se mais com o nome usado na sua última encarnação (talvez porque isso já era passado semi-esquecido e de nenhuma relevância na sua nova vida astral), senão com nomes genéricos que correspondiam-se com cada uma das diversas linhas vibracionais presididas pelas entidades-guias mais conhecidas do espiritismo afrobrasileiro, as quais podiam se manifestar como caboclos indígenas, ou como velhos escravos negros, ou crianças brincalhõas. Apresentavam-se também em forma de elementares da selva e do mar (sereias, princessas, cobras e demais "encantados"), bem como "exús" de baixissísima vibração, ou cascarões astrais ou elementares malignos, alguns dos quais davam bastante guerra até serem obrigados a deixar em paz à pessoa à que estavam obssediando...

Entrar no tema das entidades que incorporam nos médiums, é entrar em um campo vastíssimo e confuso: cheguei a contabilizar até 150 "guias" diferentes, cujos nomes repetiam-se, não só em Mapiá, senão em toda parte do Brasil onde estudei as incorporações espíritas. Era claro que alguns destes nomes designavam a uma mesma entidade, que respondia a um caráter específico.

Pouco a pouco, fuí chegando às fronteiras da Umbanda Esotérica, e então decatei-me de que os espíritos do Plano Astral que baixavam a se incorporar nos mediums pertenciam a uma ou a outra de sete falanges, ou raios, ou coros, ou linhas, ou famílias, presididas, cada uma, por um arquétipo do Plano Mental que lhes dava seu caráter, os quais eram entidades tão altas que nunca desciam a tomar corpo no plano denso.

A manifestação de “guias" pertencentes a esta ou aquela falange acontecia mais favoravelmente em dias e horas específicas, que coincidiam com o ciclo astrológico clássico da influência predominante da energia de cada planeta sagrado sobre cada dia da semana e sobre cada hora do dia.

Distinguiam-se no ritual, não só por seus nomes, senão também por cores diferentes para cada falange, atributos e diferentes grafías na escritura sagrada, chamada também Escrita de Pemba, ou tambien Adámica, Wattan, Vatánica ou Devanagárica, em círculos de iniciados, os quais consideram que procede da antiquísima civilização Lemuriana, que a transmitiu aos Mestres da Raça Negra Drávida da Índia, quem, em sucessivas migrações, a levaram ao Egito Interior …e à espiritualizada civilização Yoruba do Centro-Oeste de Africa, de onde pasò à força ao Brasil durante o trágico período das travesías negreiras em busca de mão de obra escrava para as plantações do Novo Mundo.

Alguém confidenciou-me que estas grafías traçadas a giz eram acúmulos sagrados de formas-pensamento dotadas de brilho e som interdimensional, também de poder, para invocar ou evocar energias aliadas dos outros planos, e que tinham sido ensinadas no albor dos tempos às filhas dos homens pelo arcanjo Gabarael e outros Filhos de Deus que encontraram grato se fundir com suas auras terrestres, e que, compadecidos, como o Prometeu grego, por sua falta de luz, também as tinham iniciado na agricultura, o conhecimento das plantas mágicas e medicinales, e todas as artes e técnicas com as que a espécie humana pôde começar a civilizar-se. 
As esquinas de todos os terreiros, ou centros ceremoniais de Umbanda e Candomblé, estavam sempre protegidas por aqueles mandalas feitos de inscrições vibracionais, e o primeiro que fazia o espírito guía-protetor de um templo quando incorporava no medium-sacerdote encarregado ("pae de santo"), era dar uma rodada pelas grafías de Pemba, para comprovar se estavam corretamente ativadas.

Em todos os terreiros havia também um recinto astral delimitado por grafías, onde se depositavam oferendas de cores, essências, alimentos, espécies ou fumo intencionadamente consagrados para que os espíritos do Baixo Astral ou da Natureza pudessem se alimentar de suas energias etéricas, já que mais valia te-los como aliados que como inimigos.

Como tudo é dual no mundo tridimensional, já Físico ou Astral, os Exús vêm a ser as sombras da luz, o pólo negativo das energias sutís positivas da Natureza. Com elas e com o poder agregador obtido da substância astral das oferendas materiais que lhes são oferecidas, eles criam veículos formais para si mesmos, se convertendo em elementares inferiores, inconsciêntes, amorais e brincalhões... ou verdadeiramente malvados, tal como os chamados "Kimbas", que se põem ao serviço do mago que lhes alimenta (branco ou negro) se os sabe controlar e dirigir com firme vontade, para influenciar os campos magnéticos do aura das pessoas que escolheu, já seja para as proteger ou para as atacar.

Geralmente estes Exús eram empregues para desfazer trabalhos sujos, já que "O semelhante cura ao semelhante", ou para retornar aos magos negros (praticantes de Kimbanda) suas próprias radiações de ataque psíquico. Alguns paes ou maes de santo empregavam-nos para devolver mau por mau; coisa que sempre me chocou, e influía muito sobre minha valoração posterior do mago em qüestão. Nenhúm verdadeiro Mestre espiritual entra em semelhantes atitudes. Inclusive para fazer o bem, ele aguarda a obter a livre aceitação ou solicitação do beneficiado. 

8- OS SETE ORIXÁS

Em Umbanda, as falanges de guias ou aliados astrais (de diferente cor, temperamento e momento de incorporação), estão presididas por sete FORMAS MENTAIS ou entidades muito elevadas, altísimos anjos, por dizer de uma maneira familiar, emanações primevas da Fonte, quase deuses ou aspetos específicos de Deus, todos eles por embaixo da Divinidade Suprema (Olorún), que é incognoscível, abstracta e inasível (inasível no sentido de que, ainda que sempre se tenha em conta que Tudo é Um, à hora de operar magística ou energeticamente, há que invocar o Poder ou Virtude Divina específicos para o que se pretende realizar, ou seja, jogar mão das apropriados Guias subsconsciêntes arcangélicos ou angélicos e não de outros que não servem à oportunidade).

Estas sete entidades denominam-se "ORIXÁS" (Orixás quase soa, em português, como Origens), e entendi que conformam (como os Neters egipcios) a Hierarquía de Emanações Divinas que estendem, como os raios de luz de uma estrela, as diferentes qualidades essenciais de Deus por todo Seu Cosmos. Existe uma Hierarquía Divina de Sete Orixás Ancestrais (Os Sete Arcanjoes ante O Trono), que é a primeira transformadora da pura Vontade do UM …nas Leis que regem Sua manifestação na Criação Toda.

Os Orixás Primevos emanan de si aos Sete Orixás Intermediários, que constituem a Hierarquía Cósmica ou Grande Irmandade da Consciência; E estes emanan de si aos sete Orixás que regem cada Sistema Estelar ou Solar (dos planos Astral e Físico) como espelhos que refletem a luz que vem da Hierarquia Sagrada (Hieros= Sagrado) que está sobre eles; e estes, a sua vez, transmitem a Vontade Divina ou Plano Cósmico Evolutivo aos Sete Regentes Planetários de cada planeta do sistema, aos que chamamos Reitores da Hierarquía Planetária.

Os Orixás da Hierarquía Terrestre são, pois, os Senhores das Vibrações Originais que conformam e que controlam as forças sutís que geram as forças elementares da Natureza terrestre, tanto dentro como fora de nós: representam aos sete arquétipos ou moldes ou programas psicólogicos básicos da evolução do espírito humano neste planeta, as sete caras de nosso Ser; As Potências do Ser; Os mesmos Alhim, Alahim ou Elhoim dos hebreus: o nome (ou potência verbal) do que se reveste Deus no Génesis para criar o mundo, que é o mesmo dos Anjos ou Deuses Do Verbo. As sete cores ou notas musicais que resultam da manifestação ou éxpressão (multiplicidade, emanação, universalidade) da Luz Branca ou o Som do Silêncio do Um.

São, também, os Devas védicos, os Guardiães das Funções universais; os senhores, juízes e guardiães funcionais das potencialidades divinas; a soma das 7 letras evolutivas do Wattan (469) que se correspondem com os 7 planetas sagrados que nos regem astrologicamente (4,6,9, em sánscrito dá DEVATA, as Leis de Deus); As Letras Funcionais ou Fundamentais, equivalentes harmónicos e orgânicos da potência criadora da Palavra do Verbo. Os sete tipos, em soma, de possibilidades evolutivas latentes na semente de cada humano. 
São, pois, os sete Mestres de Evolução, Modelos Canónicos da maior perfeição que pode ser atingida pelo homem, os quais vemos representados tanto na simbologia de todas as antigas religiões místicas como nos panteões das mitologías animistas e paganas, onde se lhes conhece como os SETE REGENTES Ou DEUSES PLANETARIOS (“Logoi”, em grego):

7- OXALÁ: Reflete, a escala planetária, e no chakra Coronario de cada homem, a Consciência Pura do ARCANJO GABRIEL, que personifica o Princípio Ativo Increado do Logos Pai Cósmico, ou polaridade masculina do Deus Um (Olorún), chamado Obatalá em Africa ou Brahma no Hinduísmo, ou JURA, no Daime: A Primeira Pessoa da Trindade Logoica, indisolúvel com a Unidade Divina: O Pai, no Cristianismo. O IHOH, ou EU REAL, EU SUPERIOR de cada ser humano. A Essência, o Sujeito, o Pensamento, o Absoluto, A Unidade, o Centro, o Universo Invisível.
O Espaço Cósmico, inmutável, neutro e vazio, onde se joga eternamente o jogo vital e cíclico das relações entre o Espírito e a Energia. Sua Vontade de Ser, despregando Suas infinitas potências no que chamamos manifestação, leva-O, por um lado, a se projetar na criação, resultado da estructuração da Sua Energia Eterna em um universo de formas por Ele diferenciadas. Por outra, a veicular-Se nelas, impregnando-as com a consciência de Si, auto-conscienciándose dentro de sua criação; isto é, enviando à Terceira Pessoa de Sua Trindade, O Filho, O Espírito, a encarnar nos corpos evolutivos gerados pela Segunda Pessoa, a Mãe Cósmica. Como orixá rege aos mais elevados caboclos e ao Sol. É o Senhor da Vibração Original ESPIRITUAL que atua na Humanidade.

6- YEMANJÁ: Reflete, a escala planetária, e no chakra Frontal ou Terceiro Olho de cada humano, a Consciência Pura do ARCANJO RAFAEL, que personifica o Princípio Pasivo Gerador do Logos MÃE COSMICA, ou polaridade feminina que emana do Deus Um ao manifestar no mundo dual, chamada Espírito Santo pelas religiões patriarcalistas, Odudua em Africa, Shiva-Shakti na Índia: A eterna Energia em contínua transformação.
A Substância, O Objeto, O Cumprimento, a Mudança. O Infinito, A Universalidade, a Circunferência, O Universo Visível... EVA (565), a Vida, a soma das 12 letras involutivas do Wattan (565) que formam os signos zodiacais; A Matriz e Mãe de toda forma etérica dos Planos Físico e Astral; AVE: a Virgen, a Imaculada Concepção, a RAINHA DA FLORESTA, no Santo Daime e a do Mar (A Sereia), na Umbanda Popular... Rege a linha de espíritos femininos do Astral que incorporam como Caboclas do Mar e Sereias. Rege à LUA, e é a Senhora da Vibração Original MENTAL que actua na Humanidade. 
5- YORI: Reflete, a escala planetária, e no chakra laríngeo ou cervical do homem, a Consciência, pura percepção eterna de Si Mesma, não importa em que veículo, do ARCANJO YORIEL (URIEL? ARIEL?)) que representa A Essência revestida de Substância: O Produto Gerado pela união do Pai Espaço e a Mãe Energia: A Existência, O Verbo, A Palavra, a Relação, a Correspondência, O Diámetro, O Espírito Encarnado, a Consciência Viva do Criador dentro de Sua Criação; A HUMANIDADE, A Pessoa da Trindade chamada O FILHO; Ad-Am (Unidade-Universalidade); IHOH, a essência de Agni, o Fogo Espiritual do Pai, o Amor Divino Criador, (o YHOH Superior), refletido e projetado em seu Filho, E-PhO, DEUS VERBO (IPh, em hebreu e árabe = manifestação da Perfeição; Phi: a Palavra, a Boca de Deus,) Pho, Phos, Phoné em grego, o fôlego, a luz, a voz. O Verbo ou Vontade Criadora de Deus feito carne; MIDAM no Santo Daime, O Intimo, o Mestre Interno, A Voz da Consciência. Ph (D'Alveydre) é a letra planetária da zodiacal wattan Sh: E-ShO = Jesús.
O Cristo; ViShnú na Índia, o Avatar Redentor, amoroso Guia da Evolução em cada ciclo. Também representado na Umbanda Popular como A Criança Interna, a Alma Pura; Ou como IBEJI, os gêmeos alquímicos, (as energias dos nadis, que se têm de juntar no canal interno, ou Sushumma, para produzir a ascensão da Kundalini e a iluminação...) É o Senhor da Vibração Original ETERICA, que atua tanto na Humanidade como no resto dos seres da Natureza. É obedecido pelas simpáticas entidades do Astral chamadas As Crianças. Rege ao planeta MERCURIO.

Estes três arquetipos espelham a vibração da TRINDADE DIVINA CÒSMICA no planeta Terra. São a hierarquia espiritual mas elevada; por embaixo deles estão Os SENHORES DOS QUATRO ELEMENTOS, sutís ou densos:

4- XANGÓ: Reflete, a escala planetária, e no chakra Cardíaco dos homens, a Consciência Pura do ARCANJO MIGUEL, Vibração Original ou Virtude de Deus que manifesta o Princípio ou Qualidade de Justiça e Equilíbrio Divinos sobre todos seus elementos. Grande Chefe dos Anjos. Senhor do Fogo e das Rochas, da Vibração Original   IGNEA na Humanidade e na Natureza; Fé (confiança em um mesmo e na Vida, Valor, Firmeza, Serenidade e Impecável Ecuanimidade
É Complementado por sua contraparte feminina, YANSÁ, Senhora da Tempestade.. ambos são obedecidos por Caboclos das Rochas e pelos elementares do Fogo ou Salamandras. Regem ao planeta JUPITER e representam em Aumbhandan a Direção Sul. 
3- OXOSSI: Reflete, a escala planetária, e no chakra Esplénico, a Consciência Pura do ARCANJO ISMAEL, Virtude Divina que exprime o Princípio da Ação Envolvente da Lei Karmica da Causa e do Efeito ou o Princípio Hermético de Causalidade. Senhor do Bosque e do Ar e da Vibração Original EÓLICA na Humanidade e no resto da Natureza.
Sua contraparte feminina é OXUM, a bela Senhora das Cachoeiras e Águas Doces. São obedecidos pelas entidades astrais do Ar e da floresta, chamados em Umbanda Caboclos Flecheiros, e pelos elementares Silfos ou Sílfides; Regem a VÉNUS. Direção Leste.

2- OGÚM: Reflete, a escala planetária, e no chakra e plexo Solar, a Consciência Pura do ARCANJO SAMAEL, que espelha, a sua vez, o princípio da Luta Sagrada entre a Consciência Encarnada e suas limitações perceptivas durante a Evolução, o qual é argumento, guião e base do eterno Jogo Evolutivo Divino... É o Senhor da Água, da Praia e da Vibração Original Hídrica na Humanidade e a Natureza, reina sobre os poderosos caboclos do mar e sobre os gráciles elementares acuáticos chamados Ondinas e Tritoes. Planeta MARTE; no Aumbhandan situa-se ao Oeste.

1- YORIMÁ: (Também chamado OMULÚ ou OBALUAIÉ)... Reflete, a escala planetária, e no chakra Sacro, a Consciência Pura do ARCANJO YRAMAEL, manifestador do Princípio Divino da Palavra da Lei ou do Verbo, a Imaginação Decretante, que cria, mantém, desfaz e renova ou transforma as formas materiais do mundo que servem temporariamente de veículo às energias sutís. É o Senhor da Vibração Original Telúrica, ou seja, da Terra, e o misterioso Orixá da Cura ou da Morte... Obedecem-lhe as entidades do Astral que em Umbanda são chamadas Pretos Velhos, porque os espíritos desta falange apresentan-se baixo a forma cultural de sábios ex-escravos africanos, que sabem dar bons conselhos e curam com remédios naturais. Rege tambien aos Gnomos, ou elementares da Terra; Personifica perfeitamente ao velho SATURNO e também se parece ao anjo caldeo-hebreu do trânsito entre a vida e a morte, AZRAEL. Em Umbanda guarda a Direção Norte.

...Quando conhecí esta clasificação, claramente africana na sua origem, o sentido prático da velha Astrología Ocidental cobrou sentido para mim! Por comparação com aquela cultura exótica, porém, bem mais viva que a caldeo-persa-greco-romana, percebi, pela primeira vez, que o que até agora só me tinha parecido puro simbolismo erudito e arqueológico de minha própria cultura vernácula, tinha possibilidades de ser usado como poderosa ferramenta mágica no eterno jogo humano da transformação evolutiva!

Percibi que os arquétipos planetários do subconsciênte podiam, então, invocar-se e incorporar no trabalho mágico. Não só lhes pedindo conselho como guias, senão também servindo mediunicamente como canal à manifestação de seus poderes.

Por que? ... porque os arquétipos são EU MESMO, como os deuses, os anjos e os demônios, e toda a legião de entidades elementares, astrais, físicas e mentais que me conformam. Todos eles estan em mim, além dos conceitos duais de interior ou exterior, pessoal ou alheio, já que eu sou a Vida, o Universo, ou a Mente Universal, vibrando simultaneamente em todas as dimensões do Ser no Cosmos. Cada pedaço do espelho reflete holograficamente a mesma imagem que o Espelho Inteiro.

Sempre em minha opinião (que é a de um estrangeiro, lembrem), quando no Espiritismo invoca-se a um determinado guia para que se incorpore a trabalhar no corpo de um medium, não se faz outra coisa senão permitir a um dos egos arquetípicos que conformam nossa personalidade individual e coletiva, que se manifeste tal como é, e sem travas nem influências, nem interferências dos demais egos.
Anos mais tarde, entendí também como isso mesmo é o que debe acontecer dentro da terapia chamada Constelações Familiares, assim como dentro do método de Resolução de Conflitos Comunitários ou grupais chamado Fórum de Processos.
Assim, os arquetipos, ou programas matrizes da nossa mente, podem atuar com todas suas qualidades e potências particulares e específicas. MUITA ATENÇÃO: Se o espaço onde atuam tem sido previamente consagrado, como é devido, o aspecto sombra desse ego estará controlado pelo poder luminoso do Intimo, nosso Eu Maior Divinal. Se não tem sido consagrado ou se não existe suficiênte impecabilidade, seriedade e firmeza no chefe de sessão e nos participantes, o Eu Maior Coletivo não controla, e a sessão pode se converter em uma zarabanda de demônios soltos, sacaneando sem freio.

Tudo isto, assim lido, soa muito bonito e muito teórico… mas imagine quando você o está vendo claramente em trance de Ayahuasca, na miração, geometrizado no astral e sentindo sua evidência até na medula dos ossos. 

9- O GRANDE JOGO

"Se o Espírito Universal Tudo estivesse conformado por células, cada uma delas
conteria ao Espírito Universal Tudo".

O SER É; e isso é quanto pode dizer-se Dele, da Realidade, de Nossa Realidade, de Deus e de Sua Essência, que é Nossa Essência, porque não há outra.
A existência do QUE É sustenta a existência dos universos que Nele são, o chamado Mundo de Manifestação (Porque é a maneira em que a Essência passa da possibilidade de ser ao ato de ser: passa de existir em potencial, no Vazio Primordial, a existir realizando seus potencialidades, isto é, a se manifestar como Vida Cósmica em contínua transformação... até chegar o momento em que, cumprido todo o ciclo, Ele reabsorbe-se de novo em Seu Vazio.)

Da mesma maneira que a Manifestação e a Não-Manifestação são só duas caras ou fases simultâneas da eterna existência do Ser, os infinitos mundos e entidades vivas em que Ele se manifesta, por muito individualizadas e personalizadas que pareçam, tampouco deixam de ser outra coisa que as infinitas caras ou fases da Unica Entidade que É, que Somos e que Vive:

A própria Vida Cósmica do Ser: Um único ator representando todos os papéis do universo, jogando o eterno jogo ao esconderijo consigo mesmo, desdobrando-se, estendendo-se, se separando e diversificando em múltiplas formas, cada uma das quais, como Sua Essência, é um paradoxo total: um, dual, trino e múltiplo ao mesmo tempo... e que existe, simultáneamente, em todas os planos e dimensões Daquele Que É, incluída a dimensão do Vazio.

Alguém poderia denominar “a Nada”, ou a Não-Existência, ao Vazio do Ser; mas “a Nada” é só uma palavra oca, já que a passagem do Ser pelo Vazio de Manifestação não é mais que uma das fases que percorre em Sua vivência, fase contida na própria vivência, e que, invariavelmente, vai seguida de uma nova fase de manifestação, já que Ser é o mesmo que viver, e viver é se transformar, se mover de forma em forma e de fase em fase, através do Jogo do Amor, ou seja das infinitas possibilidades de combinação do que É... Consigo Mesmo, ao longo de sua Eternidade, disgregando-se, se buscando, se encontrando, fazendo-se outra vez Um e outra vez se separando para jogar uma nova etapa do Grande Jogo; o único jogo, por outra parte, que a Essência Cósmica joga, mas que é o pai e a mãe de todos os jogos possíveis.

O Jogo Divino da Involução-Evolução, da Transformação, da Alquimia, do Amor, das infinitas combinações ENTRE SEUS ARQUÉTIPOS BASICOS DE REALIZAÇÃO, Ou MODELOS EVOLUTIVOS DE MANIFESTAÇÃO, que as velhas culturas da Terra têm sintetizado simbolicamente nos Sete Planetas Sagrados evolutivos ou nos Sete Chakras ou nas etapas da Iniciação... ou nos doze signos do Zodíaco, as doze fibras do DNA, ou nos 72 Nomes de Deus, ou nas letras dos alfabetos sagrados, os Sephirot da Cábala, as Ordens Celestiais de Arcanjos e Anjos da Astrología caldea... ou nas 22 Letras de todos os Alfabetos Sagrados; as mesmas dos 22 Arcanos Maiores e 56 Menores do Tarot... ou as Quatro Direções Sagradas dos amerindios, que é o mesmo que as quatro portas de um mandala tibetano, as quatro letras hebreas do Nome do Deus, os quatro elementos alquímicos, as quatro estações ou idades, etc...

E deste eterno jogo O Ator Único, o Ser, extrai, como qualquer criança que joga em solidão -sendo agora o polícia e, no minuto seguinte, animando ao bandido contra ele-, o prazer de jogar e a consciência de Si Mesmo na ação, na experiência, na vivência, no viver...

Uma noite, já muito tempo após ter vivido as mais fortes experiências em Mapiá e Anhangás, eu participava as minhas descobertas a Chico Correntes, na Colônia Cinco Mil de Rio Branco, e dizia-lhe, me referindo ao jogo que executa o chamán sobre a mente individual e coletiva, para transmutar nossos estados de consciência:
- Chico... todo isso não parece mais que um teatro”.

- “Claro que é um teatro... -respondeu-me sorrindo muito sério, ao mesmo tempo em que levantava a sobrancelha e me guindava um olho- ...mas não é um teatro qualquer, senão O Teatro Divino, meu irmão”.
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